Epílogo

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ALGUM TEMPO DEPOIS...


As coisas não voltaram normal.

Não totalmente.

Erick e eu começamos à namorar com a benção da mãe dele e também com a de Bri. Sentia que pouco a pouco ela estava retornando à mim. Ela acabou se descobrindo como bissexual no fim das contas e começou a namorar com Luana e agora sentia que estávamos todos ficando cada vez melhores. Luana também não economizou nas investidas até que ela resolvesse provar e acabou gostando bastante. Às vezes é apenas uma questão de experimentar.

A mãe de Erick arrumou um emprego de atendente e agora estava se dedicando à faculdade de letras para se tornar uma professora de português, o que desde sempre fora o seu sonho, mas logo se casou com o pai do Erick. A mãe dela a ajudava e a poiava depois que se separou de Roberto, pois já estava aposentada. Ela entrou com o pedido de divórcio na justiça e já estava tudo em andamento.

Estávamos passando o final de semana em uma lagoa na cidade. A mãe de Erick, Estela, e a sua avó Eunice estavam aproveitando ao máximo um bom dia relaxante. Bri e Luana também estavam ali conosco e brincávamos de briga de galo. Eu estava com Luana em meus ombros e Bri estava sobre os ombros de Erick. Bri e Luana se empurravam sobre nossas cabeças e eu tentava ao máximo me manter firme em pé.

Por fim Bri conseguiu empurrar Luana e eu e caímos em um mergulho na água, saindo logo em seguida completamente molhados, enquanto ríamos bastante. Bri e Erick comemoravam a sua vitória sobre mim. A mãe de Erick nos chamou da margem para que fôssemos comer o bolo que ela havia preparado e levado até ali.

Saímos todos da água e corremos até a terra como crianças famintas. Me enrolei na minha toalha e Erick logo se aconchegou à mim, dividindo a mesma toalha. Havíamos nos tornado carne e unha naquele tempo que estávamos juntos. A mãe de Erick nos deu um pedaço de bolo da moça para comermos e assim provei um pedaço. A textura derretia em meu paladar de modo cremoso. O sabor doce era na medida certa. Logo que acabou o meu pedaço, pedi mais um pouco e ela sentiu-se feliz pela minha aprovação para com seu bolo.

― Eu estou tão feliz por finalmente estarmos juntos ― disse Erick com um sorriso largo em seu rosto.

Me lembrei de tudo o que tivemos que passar para estar ali naquele momento. Cada lágrima que eu derramarei, cada dor que senti e ficou marcada em mim. Tudo isso para que pudesse viver meu sonho de felicidade ao lado dele. Sentia agora que cada segundo do que passei estava valendo muito à pena, pois não poderia estar mais radiante naqueles últimos meses do que estive em toda a minha vida.

― Valeu à pena esperar! ― disse por fim sentindo meu coração sorrir.

Aproximei o meu rosto do seu e beijei seus lábios. Sentir sua boca na minha era como ganhar um prêmio. O melhor prêmio. Seus lábios carnudos e úmidos, me faziam querer mais dele. Eu havia lhe entregado o meu coração sem medo de me ferir, pois ele havia me entregado o seu. Queria sentir intensamente cada segundo ao lado dele. Fazendo de cada dia a nossa eternidade.

Continuamos sentados ali abraçados e o buraco que um dia eu senti prestes a me devorar, agora estava quase instinto dentro de mim. A alegria havia se tornado à minha casa. Nunca havia me sentido tão completo. Eu tinha tudo o que eu precisava ali. Tinha Erick, o meu porto seguro e também tinha as minhas amigas que eram meu alento. Não havia mais nada que eu mais desejava ali.

O calor de seu corpo no meu fazia eu me sentir acolhido. O abraço dele era como a minha mais nova casa. Não pretendia sair dali tão cedo. O tempo quando eu estava com ele era muito melhor. O mundo ao nosso redor de repente parecia um mero detalhe, pois tinha tudo o que eu queria no seu olhar. Ser visto por ele era a melhor sensação do mundo. Saber que era recíproco era como um quebra-cabeça encaixado.

A mãe de Erick estava solteira, mas segundo Erick nunca a viu tão feliz como em tantos anos casada com seu pai. O pai de Erick não aceitou o fato dele estar comigo. Erick tentou conversar algumas vezes com ele, mas ele o expulsou permanentemente de sua casa. Era triste ver que algumas pessoas não estavam dispostas a serem melhores. Preferiam ficar no mesmo lugar se envenenando para sempre do que entender sobre o amor e sua diversidade. Como dizia um filósofo francês chamado Denis Diderot: "A ignorância não fica tão distante da verdade quanto o preconceito".

Olhando para o passado, por todo o drama que eu vivi, por cada lágrima que derramei, não conseguia imaginar que as coisas se resolveriam dessa forma. Num dia pensava que não havia mais concerto, mas o tempo mesmo se encarregou de resolver nossas questões. Agora olhávamos para o nosso passado e ríamos. O segredo para perdoar é reconhecer que ninguém é perfeito e que todos somos sujeitos ao erro. Todos merecem uma segunda chance. Não importa o quanto erraram. Todos merecem ter um novo recomeço.

Na água Bri e Luana nos chamavam para nadarmos mais um pouco até que chegasse o fim da tarde e tivéssemos que ir embora. Olhei com um ar malicioso para Erick, que entendeu imediatamente o que eu queria dizer. Eu corri imediatamente para a água e ele logo atrás de mim numa corrida intensa. Pulamos juntos na água sentindo aquele dia mais divertido que nunca.

Assim que emergi minha cabeça da água, via que Bri e Luana jogavam água uma na outra enquanto riam como duas crianças brincando, até que Luana se aproximou de Bri, beijando-a por fim. Eu via ali como elas eram um belo casal juntas. Mais do que tudo agora eu me sentia feliz pela felicidade da Bri. Ver o sorriso dela iluminando toda a sua face me fazia pensar que tudo aquilo teria valido à pena. Agora podia dizer à mim mesmo que olharíamos para trás e daríamos boas risadas do que um dia pareceu ser o maior pesadelo de nossas vidas.

Amiga, beijei o seu namoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora