Capítulo 13 - A aldeia dos gwenos

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A aldeia dos gwenos

- Você? – Abdias ficou parado ao lado da cama olhando fixamente para a mulher negra que o observava.

- Oi Abdias, tudo bem? – Mila falou carinhosamente.

- Eu pensei que não fosse mais te ver. – ele disse com ansiedade. – Senti tanto a sua falta.

- Eu sei, também senti a sua. – ela disse com sinceridade.

- Eu quase falei de você para o kuwi. – ele confessou envergonhado. – Eu queria que todos soubessem que a deusa da noite nos protege.

- Abdias, nós já conversamos sobre isso. – ela falou constrangida. – Eu não sou uma deusa, sou apenas uma amiga querendo ajudar.

- O deus Nicola também nos diz que não é um deus, mas todos nós sabemos que ele é. – Abdias falou convicto de sua verdade. – Acho que isso é coisa dos deuses, digo, ser humilde.

Mila teve vontade de rir, mas a situação era séria demais para isso. Além do mais, já havia se metido em muita encrenca e só de imaginar o que Akólouthos falaria quando soubesse a verdade, dava-lhe um certo enjoo.

- Abdias, eu preciso que você me acompanhe.

- Acompanhar você? Como assim? – ele perguntou assustado olhando para o seu corpo deitado na cama e ajoelhando-se ao lado dele para apalpá-lo. – Eu morri? Já? Mas eu ainda sou muito jovem e... espera aí... foi o ensopado?

- Não, Abdias... – Mila tentou interrompê-lo, mas o rapaz não a ouvia.

- Minha mãe me disse várias vezes para não comer muito antes de dormir, que isso poderia me fazer mal... – Abdias sentou-se no chão apoiando as costas na lateral da cama. – ...mas ela nunca me disse que isso poderia me matar!

Mila respirou fundo e revirou os olhos, buscando se concentrar no objetivo de sua visita.

- Abdias, você não morreu! – ela se abaixou e segurou o rosto do rapaz entre as mãos olhando-o no fundo dos olhos. – Você não morreu, está só dormindo, como das outras vezes. – ela se levantou, ajudando-o a se levantar também.

- Verdade? – ele perguntou desconfiado enquanto se levantava.

- Sim. Veja, lembra do que eu lhe expliquei na primeira vez que nos vimos? – ela apontou para o corpo de Abdias deitado sobre a cama. – Há um fio suave de luz saindo do topo da sua cabeça, conectando corpo e espírito.

- Se eu estivesse morto... – ele falou devagar.

- ... esse fio não existiria. – Mila completou a frase.

Abdias deu um suspiro de alívio, sentindo-se um pouco envergonhado com sua reação.

- Não é que eu tenha medo de morrer, – ele falou sem jeito – é só que... – mas não encontrou as palavras certas a dizer.

- Está tudo bem, não tem problema. – Mila falou, sentindo uma enorme vontade de abraçar o amigo. – Então, como eu ia dizendo antes, preciso que você venha comigo a um lugar, e já perdemos muito tempo. – ela disse preocupada – Você precisa estar de volta antes do amanhecer.

- Que lugar? – ele perguntou curioso.

- Segure minha mão e feche os olhos, – ela falou estendendo uma das mãos a ele – nós vamos flugitar até Quartarius e depois seguiremos para Luvelann.

- Vamos fazer o quê? – Abdias indagou confuso ao segurar a mão de Mila.

- Nós vamos nos transportar pelo pensamento. – ela falou calmamente.

O Portal de Anaya - Livro 2 - Os mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora