Capítulo 16 - Um grande exército se forma

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Um grande exército se forma

O Chefe estava encolhido a um canto do salão. Seu corpo inteiro tremia e ele preferiu não abrir os olhos, evitando encarar o governador. Gabhar andava de um lado para o outro sacudindo seus pares de braços que tanto pareciam garras quanto tentáculos. Suas passadas faziam o chão trepidar, deixando o Chefe ainda mais temeroso pelo seu destino. O governador parecia descontrolado, quebrando coisas, socando paredes e urrando de ódio. Quando Sayen entrou no salão, não conseguiu esconder seu enfado por aquela reação destemperada de Gabhar, mas desistiu de confrontá-lo ao perceber a presença do Chefe.

- O que ele faz aqui? – Sayen perguntou apontando para a figura encolhida.

- Ele me traz notícias do bracelete que não funciona! – Gabhar respondeu com a voz estrondosa.

- Eu quero falar com ele a sós. – o cientista encarou o governador, esperando que ele fosse reagir negativamente ao pedido.

Para surpresa de Sayen, Gabhar se aproximou dele e, visivelmente tentando se controlar, concordou com a proposta.

- Apenas resolva isso!

Sayen observou Gabhar se retirar do salão. Sua figura estava cada vez mais pesada, o que dificultava sua locomoção pelas portas e corredores. Ele analisou o estrago nas paredes, colunas e tetos tentando manter o ânimo e não se irritar com a destruição parcial do ambiente. O cientista fechou os olhos, concentrando-se na imagem anterior do salão, com tudo devidamente no lugar. Sentiu-se profundamente desconfortável, incomodado com a energia que se desprendia dele enquanto o espaço era reconstruído. Ao terminar, ele caminhou até o Chefe, que permanecia encolhido e de olhos fechados.

- Levante-se. – Sayen falou secamente.

Aterrorizado, o Chefe abriu os olhos e percebeu que Gabhar não estava mais ali. Olhou para Sayen, parado diante dele, aguardando que ficasse de pé.

- Levante-se! – Sayen repetiu de forma mais rude.

O Chefe se apressou em obedecer, mas ainda desorientado cambaleou um pouco, amparando-se na parede. O cientista segurou seu braço e retirou-lhe o bracelete, manuseando-o e procurando marcas de uso.

- Aguarde aqui. – Sayen ordenou.

Sem outra opção, o Chefe acompanhou com os olhos enquanto Sayen caminhava em direção a uma porta. Mesmo que pudesse, ele não tinha a menor ideia de como escapar do Castelo de Chabon e, certamente, viraria poeira cósmica se tentasse. Deixou o corpo escorregar pela parede e encolheu-se novamente, procurando evitar qualquer pensamento. Seu único desejo era que Sayen retornasse antes de Gabhar reaparecer. Nunca tivera a chance de examinar o salão, seus corredores e acessos, pois em suas visitas anteriores estava sempre sendo aterrorizado pelo governador. Havia vultos negros vagando e ele reconheceu alguns coletores guiando almas desesperadas. Preferiu fechar os olhos de novo para não ficar ainda mais apavorado. Mergulhou em uma escuridão profunda, na qual só era possível identificar os gemidos que pareciam brotar das paredes e lá permaneceu até ouvir a voz do cientista outra vez.

- Tome, coloque-o de volta no braço.

Salac abriu os olhos e viu Sayen estendendo-lhe o bracelete. Pegou-o com cautela e o pôs conforme ordenado. Não sabia o que deveria fazer em seguida e manteve os olhos abaixados, evitando o contato direto.

- Eu consegui ver o que você não pôde. – Sayen disse dando-lhe às costas. – Terá que vir mais vezes aqui, para extrairmos as imagens. Agora, vou mandá-lo de volta a Slaggelann.

- Não!!

Ambos se viraram em direção à entrada principal do salão e viram Gabhar passando por ela.

O Portal de Anaya - Livro 2 - Os mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora