O ritual
Como de costume, aquela noite seria especial, pois logo Blu reinaria absoluta no céu. Os gwenos aguardavam com ansiedade essa noite, quando Madhu, a líder e reprodutora da aldeia, escolheria os machos que acasalariam com ela. Sua espécie era capaz de conceber vários embriões de diversos pais, simultaneamente, que nasceriam antes do próximo ciclo de Blu, quando o ritual se repetiria.
Depois de selecionados, os demais machos estariam disponíveis para acasalarem com as outras fêmeas, mas somente Madhu iria gerar guerreiros. Janardan e Arivali já haviam retornado da expedição e compartilhado com o conselho da aldeia todos os acontecimentos. Melvil Shiyali permanecera com os humanos, para registrar todos os fatos que envolvessem o Salvador, dessa forma, os gwenos teriam a certeza de sua participação na missão, sem que nenhum evento lhes fosse omitido no futuro.
A aldeia estava adequadamente decorada e havia comida e bebida para todos. Os guerreiros encontravam-se no grande vão da aldeia subterrânea, distribuídos em filas verticais e horizontais. Madhu caminhava entre eles, escolhendo-os pelo odor e marcando-os com seu beijo doce. Aproximadamente, vinte gwenos passariam a noite com ela, em um cômodo reservado e preparado para o acasalamento. Do lado de fora, músicos entoavam melodias sensuais, dançarinas seduziam machos e fêmeas, aguardando o início do banquete.
Madhu chegou envolta em transparência, com os seios à mostra. Seus quadris largos requebravam ao ritmo da melodia. Ela parou diante da entrada hexagonal do cômodo e virou-se para os presentes, sua fisionomia estava irradiante, ela sabia que era sua responsabilidade gerar os membros mais fortes da aldeia. Abriu os braços na altura da cintura, mantendo as palmas das mãos viradas para cima, oferecendo a mesa do banquete para que se fartassem. Em seguida, fechou os olhos e ergueu seus braços acima da cabeça.
Os guerreiros selecionados, envolveram-na, suspendendo-a e conduzindo-a para dentro do cômodo, confortavelmente arrumado com esteiras, tecidos, almofadas, flores e incensos. Nenhum deles sairia dali antes de plantar sua semente em Madhu, que se entregaria a eles de coração aberto e amorosamente. A luxúria não era o que a seduzia e, sim, o seu dever de líder e reprodutora. Depois de acomodada sobre um leito, eles a despiram de suas transparências e Madhu se abriu para que uma nova geração de guerreiros gwenos fosse concebida.
A primeira aparição de Blu seria comemorada por todos os habitantes do leste de Wicnion, em seus diferentes rituais, por isso, Moghes e Prie também se preparavam para uma noite de festa. Com a união das fadas e dos dragões, as tradições se mesclaram de forma natural ao longo dos anos. No início, Prie e sua primeira auxiliar Erminea, organizavam tudo de forma discreta, à beira de um lago, em uma área reservada da aldeia, até que um dia Moghes pediu que elas realizassem seu ritual junto com o deles e ambos se empenharam para que aquilo desse certo.
Os dragões resistiram um pouco mais do que as fadas, mas a admiração mútua que nasceu entre essas espécies deu lugar a um belíssimo ritual. O círculo de fogo dos dragões e a chuva de pétalas e águas brilhantes das fadas era, visualmente, a mais bela adoração existente em todo o planeta. Uma nova estátua para a deusa Aminah foi erguida ao lado da já existente imagem do deus Dracon. Erminea ensinava à neta Calina, filha de Delwyn, os detalhes da organização, pois ela seria sua substituta um dia. Moghes e Prie observavam do alto da colina, onde costumavam passar longos períodos, em conversas filosóficas intermináveis. O líder dos dragões ensinava à líder das fadas pequenos segredos da manipulação de energia, fazendo o fogo brotar, o vento soprar e as aves atenderem ao seu chamado.
- Está tudo na mente pequenina, basta acreditar!
Prie olhava concentradamente para um monte de gravetos secos. Pela sua fisionomia, percebia-se o esforço mental que estava fazendo, contorcendo-se em caretas.
