A aliança entre as aldeias
Quase um ano havia se passado quando Lev Barbarus, Malah Lavika e algumas dezenas de guerreiros rebelados retornaram à Pedra Vermelha. A separação de Immutef significara uma grande perda para eles, contudo, entendiam sua curiosidade científica em aprender os ensinamentos e a cultura dos humanos. Mas se, por um lado, eles sentiam a falta do amigo, por outro, estarem novamente com Aura e Lokele lhes acalmava o coração. As meninas estavam bem e demonstravam imensa alegria em terem os pais de volta. O casal, no entanto, tinha novos desafios a enfrentar. Após ficarem tanto tempo fora, a liderança da aldeia havia sido assumida por Vyper que, ao longo desse tempo, vinha tentando desacreditar a história de um salvador nascido entre os humanos.
Naquela primeira noite, haveria uma grande celebração de boas-vindas na praça central da aldeia, onde Malah e Barbarus pretendiam revelar a existência das filhas. Sentiam-se apreensivos, temendo pela segurança das garotas mas, depois de tudo que haviam ouvido e vivido, compreendiam que a verdade seria a única forma de se manterem no caminho da libertação. Além disso, os guerreiros que retornaram com eles já conheciam toda a história, que eles mesmos revelaram, depois que a pher Aminah mencionou Aura e Lokele durante sua aparição na Aldeia dos Humanos.
O fato era que as quatro aldeias haviam estabelecido uma aliança, pois seus líderes acreditavam que a criança humana seria a responsável por exterminar a tirania de Wicnion e libertá-los da violência e dos abusos praticados pelo Rei Rufus e pela Rainha Zerda, agora, casados e com seus reinos unidos. Eles sabiam que era questão de tempo até que o exército dos fenecos se unisse ao exército dos lobos, por isso, revelariam todos os detalhes da expedição para que a aldeia também aceitasse a aliança.
Uma grande mesa havia sido colocada na praça central para acomodá-los, juntamente com outros representantes da aldeia. Vyper estava de pé em uma de suas extremidades, contrapondo-se àqueles para quem deveria devolver a posição ocupada. O casal de baladinos percebia o veneno em suas palavras e buscava manter-se calmo. Aura e Lokele só seriam apresentadas se eles pudessem garantir a segurança delas, mas, apesar do clima de festa, Vyper parecia pronto para uma guerra.
- Silêncio! Silêncio! - ele pedia dirigindo-se aos presentes. - Peço agora a atenção de todos!
A praça central havia sido tomada pelos rebelados. Em torno da grande mesa havia uma multidão de aldeões, eles estavam por todas as partes, ao longo das ruelas, nas janelas de suas moradias, nas endentações das rochas e do outro lado do rio. Seria praticamente impossível que Vyper fosse ouvido por todos, mas havia uma acústica natural naquela rocha oca, que fazia sua voz retumbar, elevando-se à parte mais alta da aldeia. Ele subiu à mesa em um gesto repentino, entornando bebida e derrubando bandejas.
- Rebelados, acalmem-se! - Vyper gritou olhando para todos os lados. - Eu sei que vocês têm muitas dúvidas, assim como eu também as tenho. Minha ansiedade em encontrar as respostas é tão grande quanto a de todos que aqui estão. Estamos do mesmo lado, estamos na mesma luta!
Sua fala era pronunciada com paixão e o tom de sua voz ia aumentando a cada palavra, tornando inevitável a explosão de urros e palmas. Vyper sorriu, rodopiando na mesa para cumprimentar a todos e esperando que silenciassem novamente.
- Hoje é uma noite especial! Ou pelo menos esperamos que seja, não é mesmo? - os rebelados murmuraram concordando. - Após um ano de aventuras, conhecendo outras aldeias, respirando o ar livre, além da Pedra Vermelha, os nossos líderes retornaram. Creio que nós deveríamos recebê-los com uma salva de palmas, não?
Barbarus e Malah se entreolharam, não estavam gostando do rumo daquele discurso, mas também não tinham o que fazer, pois Vyper estava sendo apoiado pelos representantes sentados à mesa com eles.
