Capítulo 3 - (Quase) Todos prontos!

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(Quase) Todos prontos!

Lui Mandrós flugitou até a entrada oeste do Portal de Anaya, que era a mais movimentada de todas, devido a sua proximidade com o anexo onde estava situada a Colônia Provisória. Ele imaginou que seria mais fácil passar despercebido entre milhares de visitantes que circulavam por esse acesso. Passar pelo escâner de origem seria inevitável, pois, desde o incidente com a Nível 2 que entrara no Portal de Anaya sem nenhum empecilho, o controle de acesso ficara mais rígido, no entanto, esse não era o problema. O que realmente o preocupava era o fato de que deveria estar em confinamento junto com os demais voluntários que renasceriam em Wicnion, mas burlara a vigilância não tão rígida da Colônia Provisória e, agora, tinha receio de que estivesse sob algum tipo de monitoramento.

- Eles não podem estar me vigiando. – Lui pensou consigo mesmo. – O sigilo da missão deve nos tornar quase invisíveis ao sistema. Quanto menos chamarmos a atenção, melhor.

Convencido momentaneamente disso, Lui Mandrós relaxou um pouco a tensão, mas ele ainda guardava muito das emoções e sensações características dos corpos orgânicos, o que o levava a suar, gaguejar e tremer diante de situações desconfortáveis e que lhe causavam temor, principalmente.

Tentando se recuperar da tonteira que sempre o acometia após a flugitação, Lui olhou a sua volta e percebeu o movimento frenético do acesso que escolhera. Um grande anexo servia de estacionamento para os veículos daqueles que preferiam utilizar o próprio meio de transporte para chegar até o Portal de Anaya e havia milhares de pequeninas plataformas disponíveis para a flugitação mas, mesmo assim, não davam vazão ao fluxo de chegada e saída de visitantes. A partir desses pontos, o viajante seguia por um grande emaranhado de esteiras e trens suspensos até o acesso principal. Apesar do fluxo intenso, os visitantes entravam e saíam sem formar qualquer tipo de congestionamento. Quando ultrapassavam o imenso portão de entrada, o emaranhado de caminhos unia-se em um único corredor de vários níveis, e era tão largo que de uma lateral não era possível visualizar o lado oposto. Os visitantes, então, eram conduzidos por esse corredor que ia se bifurcando à medida que avançavam, diluindo o volume de indivíduos. Em todo o trajeto, zepto escâneres faziam o trabalho de varredura da energia de cada visitante e de tudo aquilo que traziam consigo. Os escâneres eram imperceptíveis e, ao detectarem qualquer irregularidade, depositavam um sinalizador no indivíduo que, antes de chegar ao seu destino, era abordado por um Monitor de Área.

Lui trazia dentro das calças o envelope que Carrapeta lhe dera. Ele tentava se manter calmo, misturando-se à multidão. Ao se deparar com a primeira bifurcação, manteve-se na esteira que seguia para a direita. Dirigia-se à Colônia Provisória, o que era um ponto favorável, visto que grande parte daquela turba rumava para lá também. Em Swak, ele havia feito um trabalho de limpeza energética em si mesmo e no envelope que continha o seu novo mapa genético, eliminando qualquer vestígio de sua passagem por Korrups. No entanto, sentia-se inseguro, pois não se considerava bom na manipulação de energia. Na verdade, Lui não se considerava bom em nada, sentia-se inferior e culpava a Fonte Original por tê-lo criado assim, deficiente. Jamais lhe ocorreu que seu maior oponente estava nele mesmo, na preguiça que o condenava à mediocridade e ignorância.

Depois de várias bifurcações, Lui chegou na Estação Oeste, onde pegaria um transporte para a Colônia Provisória. Ele havia escolhido, propositalmente, o horário de maior movimento, na intenção de diminuir a possibilidade de ser abordado. Até o momento, tudo tinha transcorrido como imaginara, mas havia se esquecido de um detalhe. Por não ser usuário regular dos transportes que conduziam à Colônia, ele não tinha passe, o que o obrigava a adquirir uma passagem. E isso seria um outro problema, pois Lui não possuía mais nenhum bônus de energia, nem mesmo para uma simples passagem, gastara o último crédito para vir da Colônia Provisória até a Estação Oeste. Novamente, ele foi tomado por profunda revolta e amaldiçoou sua vida e seu infortúnio. Teria que usar uma yoctocabine, algo que ele detestava tanto quanto flugitar. Além do mais, naquele horário, as filas das yoctocabines eram imensas. Na tentativa de orientar os passageiros, a administração do Portal colocara placas sinalizando o tempo de espera ao longo das filas, isso ajudava o viajante a decidir se usaria o transporte tradicional ou se, mesmo tendo que esperar, ainda assim, compensaria viajar por uma cabine de transferência.

O Portal de Anaya - Livro 2 - Os mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora