Capítulo 7 - O novo governador de Wicnion

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O novo governador de Wicnion

Mila entrou na sala de Mestre Carama e o encontrou sentado como de costume em sua cadeira de pedra coberta de hera. Uma de suas características era nunca alterar a voz ou demonstrar qualquer mudança de humor ou preocupação, o que não impediu Mila de compreender o motivo pelo qual havia sido chamada, e preparar seu espírito para uma possível "bronca" do governador do Portal de Anaya.

Ela atravessou rapidamente a ponte de pedra sem ao menos perceber as criaturas voadoras a sua volta, muito menos os pequenos tritiuns em seu caminho.

- Acalme-se, Mila. – Mestre Carama falou serenamente, no momento em que um tritium se jogou no lago, desviando das passadas rápidas e descoordenadas da jovem. – Não é necessário ter pressa.

- Desculpe-me, Mestre. – ela disse encabulada, percebendo o que tinha acontecido. – Eu só quero...

- ... que isso acabe logo? – ele completou.

- Não, não, senhor, eu... – ela fez uma pequena pausa. - ... eu... sim, o senhor está certo, eu sei que vou ser chamada a atenção, então... pensei que... – Mila não conseguia concluir as frases.

- Venha cá, sente-se ao meu lado. – e logo uma cadeira surgiu ao lado dele.

- Mila sorriu palidamente e caminhou em direção à cadeira. Sentia-se muito mal, pois levar um puxão de orelha do governador do Portal era algo muito vergonhoso para ela.

- Como está o nosso querido Akólouthos? – Mestre Carama perguntou com um sorriso. – Ou melhor dizendo, Abdias Abdullah?

- Está bem. Ele está muito bem, Mestre. – Mila respondeu satisfeita. – Ele se tornou um jovem forte e inteligente. Seus pais o amam demais e ele é muito querido por todos da aldeia.

- Fico grato em saber que tudo tem caminhado conforme os planos, certo? – Mestre Carama falou olhando-a diretamente nos olhos, mas ela ficou em silêncio, com o semblante ligeiramente assustado. – Certo, Mila? – ele repetiu a pergunta.

- Senhor, desculpe-me. – ela escondeu o rosto com as mãos e abaixou a cabeça. – Eu sei que eu não devia, perdoe-me, por favor.

Mestre Carama colocou uma das mãos sobre os cabelos de Mila e com a outra lhe ofereceu um recipiente com água.

- Está tudo bem. Tome, coloque suas mãos aqui, você irá se sentir melhor.

Mila descobriu o rosto e olhou para a pequena tigela branca contendo água. Pegou-a delicadamente e apoiou-a sobre as pernas, mergulhando em seguida as pontas dos dedos naquele líquido transparente capaz de trazer-lhe o ânimo de volta.

- Obrigada. – ela comentou com a voz pausada, olhando para Mestre Carama, ciente de que ele estava decifrando sua alma naquele momento. – Eu sinto muito, de verdade.

- Eu sei disso. – ele respondeu recebendo a tigela de volta e fazendo-a desaparecer com um leve mexer de dedos. – Por isso resolvi lhe chamar. Eu sei que você tem boas intenções, mas sua atitude pode não só colocar em risco a missão de Abdias, como expô-la a ser capturada, Mila.

- Mestre... – ela tentou se defender, mas o governador lhe fez sinal para não continuar.

- Sinto muito, Mila, mas você precisa me ouvir até o final. – ele disse sem permitir qualquer argumentação. – Abdias deveria ter sido um guerreiro, mas o seu temor o levou a ser um curandeiro. Eu não interferi, porque ele correspondeu e aprendeu rápido, mas distorceu a missão daquele que seria o verdadeiro kuwi da Aldeia dos Humanos. O jovem, que teve sua missão usurpada, poderá deixar Wicnion antes do previsto, porque se tornou um guerreiro fraco, não teve esse treinamento.

O Portal de Anaya - Livro 2 - Os mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora