ATO 1 - CENA 1

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ATO I
CENA I

Século XVII.
Pádua.
Uma praça pública.
(Estão Bianca, Catarina, Batista, Grêmio e Hortênsio conversando. Lucêncio e Trânio entram sem que eles vejam.)

Lucêncio: Bela Pádua! Aqui estamos, meu criado Trânio! Aqui irei estudar minha paixão: as poesias!

Trânio: Concordo, meu senhor, as poesias encantam a muitos!

Lucêncio: Agora preciso arranjar um lugar para ficarmos. Mas espere. Quem será toda essa gente? (Lucêncio e Trânio escutam a conversa.)

Batista: Cavalheiros, eu já disse, não vou ceder minha filha mais nova até que a mais velha tenha um marido. Se um dos dois gosta de Catarina, pode cortejar a vontade.

Grêmio: Cortejar ou esquartejar? É grossa demais pro meu gosto. Você não está a fim de uma esposa gentil e simpática, Hortênsio? Catarina está te esperando!

Catarina: (A Batista.) Você quer mesmo me transformar num brinquedinho desses pretendentes?

Hortênsio: E quem disse que somos seus pretendentes? Você não terá nenhum até que se torne mais educada.

Catarina: Não precisa ter medo de mim não, meu querido. Deveria era ter medo desse seu cabelo horroroso!

Trânio: (À parte, para Lucêncio.) Patrão, também duvido que alguém queira casar com essa louca.

Lucêncio: (À parte, para Trânio.) Enquanto a outra parece ser uma gentil donzela cheia de encanto. Silêncio Trânio.

Batista: Bianca, para dentro. Não fique zangada com a minha decisão, pois continuo te amando mais do que nunca, minha filha.

Catarina: (Imitando Batista.) Pois continuo te amando mais do que nunca minha filha. Blá, blá, blá. Olha, a bonequinha ficou triste! (Aperta a bochecha de Bianca.) Que pena! Pois fique feliz maninha, porque eu não vou me casar nunca! (Catarina ri.)

Bianca: Continua zombando de mim, você vai ver! Tudo o que vai volta! Eu já vou papai. (Sai Bianca.)

Hortênsio: Senhor Batista, por que esse comportamento estranho? Não quero que Bianca sofra nas mãos dessa bruxa!

Batista: Cavalheiros, estou resolvido! E se estão a fim de serem úteis, estou à procura de professores para ensiná-las matemática e poesia. Se conhecerem alguém, mandem-no até mim e com isso, adeus. Você pode ficar Catarina. (Sai Batista.)

Catarina: Ué, e pra que eu vou ficar aqui? Pra ficar batendo papinho com esses idiotas? Eu hein! Fui! (Sai Catarina.)

Grêmio: Ótimo. Agora Bianca ficará trancada em sua casa até que um infeliz tenha coragem de se casar com essa coisa! E tudo por sua culpa: se tivesse me deixado falar, talvez eu pudesse agora estar abraçando a minha doce Bianca! (Empurra Hortênsio.)

Hortênsio: Ah é, Grêmio? (Empurra Grêmio.) A culpa é minha? Pelo menos Bianca sabe que eu gosto dela e que a defendo de tudo, enquanto você fica parado sem falar nada. Aposto que Bianca vai me escolher como noivo!

Grêmio: (Irritado.) Você quer apostar então? (Grêmio e Hortênsio brigam.)

Trânio: (A Lucêncio.) Tenho uma ideia.

Lucêncio: (A Trânio.) Eu também. E tenho certeza que estamos pensando a mesma coisa.

Hortênsio: (Parando de brigar.) Calma. Espera um pouco. Se nós ficarmos aqui brigando não irá adiantar nada. Temos que parar com essa rivalidade e entrar num acordo.

Grêmio: Como assim?

Hortênsio: Precisamos de um marido para a mais velha.

Grêmio: Um marido ou um demônio?! Hortênsio, tudo bem que Batista tem uma imensa fortuna, mas você acha mesmo que exista alguém nesse planeta que seja tão louco assim a ponto de se casar com uma megera dessas?!

Hortênsio: Hum... Na verdade, eu conheço a pessoa certa para essa missão. Mas, por enquanto, precisamos também de professores para nossa Bianca. Que o melhor cavalheiro consiga cortejá-la!

Grêmio: Estamos combinados então? (Grêmio e Hortênsio apertam as mãos. Sai Grêmio para um lado e Hortênsio vai em direção a Lucêncio e Trânio.)

Hortênsio: Bom dia.

Lucêncio e Trânio: Bom dia. (Sai Hortênsio para outro lado.)

Trânio: Então, quando vamos colocar o plano em ação?

Lucêncio: Primeiro, temos que fazer outra coisa. Trânio, para que eu consiga me disfarçar de professor e possa me aproximar de Bianca, preciso que alguém continue me representando como Lucêncio aqui na cidade.

Trânio: E em quem você está pensando?

Lucêncio: Você.

Trânio: Eu? Mas se eu serei Lucêncio, quem será Trânio?

Lucêncio: Eu. Calma, dará tudo certo. Precisamos primeiro trocar nossas roupas: rápido, fique com meu chapéu e minha capa. (Lucêncio e Trânio trocam de roupa.)

Trânio: Bom, se é de seu gosto, eu obedecerei. Agora tem que ver a qual dos pretendentes de Bianca que irá se apresentar.

Lucêncio: Ao Grêmio, será ele. Você irá se apresentar ao Batista e lhe oferecerá livros para que assim eles não suspeitem tanto de mim.

Trânio: Só espero que ninguém descubra.

Lucêncio: Ninguém vai descobrir. Agora vamos! (Saem Lucêncio e Trânio.)

A Megera Domada (Shakespeare)Onde histórias criam vida. Descubra agora