ATO 5 - CENA 1

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ATO V
CENA I

Século XVII.

Pádua. Uma praça pública.

(Lucêncio está sentado no banco da praça. Batista entra.)


Batista: Lucêncio?

Lucêncio: (Se levanta) Senhor Batista? Eu... (Batista o interrompe.)

Batista: Calma. Sente-se. (Os dois sentam no banco. Silêncio.) Eu fui um idiota, Lucêncio.

Lucêncio: Não, eu fui um idiota, senhor Batista, ao casar com sua filha escondido...

Batista: Exatamente como eu fiz.

Lucêncio: Hã?

Batista: Quando eu era jovem, gostava de uma mulher: Maria. Nós nos amávamos muito. Porém, os pais dela não permitiam nosso casamento. Então nos casamos escondidos.

Lucêncio: Eu... não sabia dessa história.

Batista: Quando nos casamos, eles descobriram no dia seguinte, e trancaram Maria em sua casa durante três meses.

Lucêncio: Mas, senhor Batista, eu e Bianca estamos passando pela mesma coisa.

Batista: Sim, embora você tenha me enganado e mentido, eu fiz a mesma coisa quando era jovem. E sofri muito longe de minha mulher. (Se levanta.) Bianca!

Lucêncio: (Se levanta.) Hã?

Batista: Decidi deixar vocês serem felizes. (Entra Bianca.)

Lucêncio: Bianca!

Bianca: Lucêncio! (Os dois se abraçam.)

Lucêncio: Estava com muita saudade!

Bianca: Eu também! (Batista vai saindo.)

Lucêncio: (Abraça Bianca de lado.) Senhor Batista?

Batista: Sim?

Lucêncio: Obrigado! (Grêmio entra escondido.)

Batista: Eu aprendi que o amor, e não o tempo, é que cura todas as feridas.

Lucêncio: Shakespeare! (Sai Batista.)

Bianca: Vamos entrar! (Saem Bianca e Lucêncio.)

Grêmio: O que eu quero é te ver feliz, Bianca. Se não pode ser ao meu lado, seja feliz ao lado dele (Grêmio triste anda um pouco pela praça. Entram Catarina e Petrúquio.)

Catarina: Olha, está parecendo um cachorro que caiu do caminhão da mudança.

Petrúquio: Ei, onde você vai?

Grêmio: Isso não é da conta de vocês! (Sai Grêmio.)

Catarina: (Irritada.) Como é que é?!

Petrúquio: Calma! Senta! Fica!

Catarina: Vai me tratar que nem cachorro agora?

Petrúquio: Claro, você é a minha cadelinha! (Grúmio entra correndo.)

Grúmio: (Grita.) Oh, patrão!

Petrúquio: (Grita.) O que é desgraça?!

Catarina: Nossa! É assim que você trata ele? É por isso que não te obedece!

Petrúquio: Ah, é?

Catarina: É, se você quer que seu criado te obedeça, devia parar de agir como um animal e agir como um homem.

Grúmio: Eita, agora que o bicho come.

Petrúquio: Então você quer que eu haja como um homem, não quer?

Catarina: Você demora pra entender as coisas, não acha? (A viúva entra segurando malas e Hortênsio vem logo atrás.)

Hortênsio: Elisabeth! Não vá!

Viúva (Elisabeth): Tarde demais, querido! Nada me fazer mudar de ideia!

Hortênsio: Nem se eu disser que eu te amo?

Viúva (Elisabeth): Isso não muda nada! Adeus! (Ela vai saindo.)

Hortênsio: (Ele segura a mão dela.) Por favor!

Viúva (Elisabeth): (Pensativa.) Tá, mas...

Hortênsio: (Abraça a viúva.) Obrigado, obrigado, obrigado!

Viúva (Elisabeth): (Rindo.) Chega de abraço! Vamos pra casa conversar e sem brincadeira!

Hortênsio: Como você quiser, querida! (Saem Hortênsio e a viúva.)

Catarina: Grúmio, você não iria falar alguma coisa?

Grúmio: Ia sim.

Petrúquio: E porque não fala?

Grúmio: Não quero.

Petrúquio: (Grita.) Fala seu delinquente!

Catarina: Vou fazer que nem a viúva: calma querido! Deixa que eu resolvo. (Grita.) Fala seu idiota!

Grúmio: Escravidão é osso!

Catarina: Lá vem ele com essa frase de novo. Escravidão é osso! Escravidão é osso! Não sabe falar outra coisa, não? Some daqui, criado insolente!

Grúmio: Escravidão... (Catarina o interrompe.)

Catarina: Desaparece daqui!

Grúmio: Vai se ferrar!

Catarina: (Grita.) Anda logo! (Sai Grúmio.)

Petrúquio: (Surpreso.) Minha Cata, o que foi isso? Você falou que nem eu!

Catarina: É claro, Grúmio enche o saco! (Senta no banco.) Ai que ódio!

Petrúquio: (Senta ao lado de Catarina e abraça-a de lado.) Pelo menos sobra mais tempo pra nós dois.

Catarina: (Sorrindo.) Acho que não estamos sozinhos aqui.

Petrúquio: Como não? (Se levanta e olha em volta.) Não há ninguém além de nós aqui.

Catarina: (Se levanta.) Ele é pequeno, peludo, e adora queijo. Adivinha!

Petrúquio: (Morrendo de medo.) Ah, não!

Catarina: Sim! Sim!

Petrúquio: Ele está bem atrás de mim?

Catarina: Aham, ele está vindo te pegar! (Petrúquio grita e sobe correndo no banco da praça.)

Catarina: (Estourando de rir.) Ele caiu direitinho! (Falando com a plateia.) Onde já se viu, homem ter medo de rato? Não é verdade?

Petrúquio: Ah, Cata! Vem aqui que vou lhe usar! (Desce do banco correndo atrás dela. Saem Petrúquio e Catarina.)


A Megera Domada (Shakespeare)Onde histórias criam vida. Descubra agora