ATO 3 - CENA 2

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ATO III
CENA II

Século XVII.

Verona. Quarto na casa de Petrúquio.

(Catarina está sentada na cama e Grúmio está em pé.)

Catarina: Quanto pior me trata mais me irrita! Parece que se casou comigo para me matar de fome! (Se levanta.) Você viu o que ele fez ontem, Grúmio, ficou colocando defeito na comida e jogando nos criados! Até em você!

Grúmio: Isso é!

Catarina: E o pior é que diz que faz isso em nome de um amor perfeito! (Se senta.) Grúmio, por favor, me traz alguma coisa de comer.

Grúmio: Gostaria de um pernil suculento?

Catarina: É mais do que eu desejo. Me traga!

Grúmio: Ou que tal um frango assado?

Catarina: Não importa! Traga até aqui!

Grúmio: Que diria de uma fatia de carne com mostarda?

Catarina: É um prato que adoro.

Grúmio: Mas a mostarda está quente demais.

Catarina: (Brava.) Então me traz a carne e esquece essa droga de mostarda!

Grúmio: Mas eu tenho que trazer a carne com a mostarda! É o que diz o prato, é que nem trazer arroz sem feijão!

Catarina: (Grita.) Desaparece daqui, escravo traidor! (Sai Grúmio e entra Petrúquio com um prato na mão.)

Petrúquio: O que foi, Cata? Por que está tão zangada com Grúmio? O que ele fez? Me fala que eu o arrebento agora mesmo!

Catarina: Esqueça. Nunca vi criado mais malcriado que nem esse.

Petrúquio: (Senta ao lado dela.) Acho que nisso nós podemos concordar. Cata, aqui está a prova de minha atenção contigo. Trouxe-lhe esse prato de carne com mostarda. Eu mesmo preparei. (Catarina estende a mão para pegar, mas Petrúquio impede.) O mais humilde trabalho merece um obrigado.

Catarina: Muito obrigada! (Ele lhe entrega o prato.) Quando vamos voltar a minha casa?

Petrúquio: Daqui a alguns dias, ainda não terminei de resolver meus negócios aqui em Verona.

Catarina: Ah, tá bom! Negócios!

Petrúquio: (Se levanta.) Está duvidando do que eu digo? Meu pai morreu faz duas semanas! Acha que eu não tenho coisas para resolver?

Catarina: Ah, eu não sabia.

Petrúquio: Pois fique sabendo, Cata, jamais julgue alguém que você não conhece direito! (Sai Petrúquio.)

Catarina: (Conversando sozinha e colocando o prato na cama.) Calma, Catarina. Calma que logo você vai estar em casa.

Petrúquio: (Grita fora do quarto.) Cata, socorro!

Catarina: (Gritando.) O que é?

Petrúquio: (Gritando.) Tem um rato aqui!

Catarina: (Ela se levanta gritando.) Isso não é problema meu!

Grúmio: (Também está junto ao Petrúquio, gritando.) Rápido patroa! Ele parece mais uma ratazana!

Catarina: (Gritando.) Até você, Grúmio? Não tem homem nessa casa, não? Matem o rato vocês dois!

Petrúquio: (Gritando.) Ele é enorme! Está atrás de mim! Vem aqui logo!

Catarina: (Conversando sozinha e pegando o prato.) Eu mereço mesmo!(Gritando.) Sobe na cadeira até eu disser que pode descer! (Sai Catarina.)


A Megera Domada (Shakespeare)Onde histórias criam vida. Descubra agora