ATO 5 - CENA 2

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ATO V
CENA II

Século XVII.

Pádua. Jantar na casa de Lucêncio.

(Petrúquio, Lucêncio, Batista, Grêmio e Hortênsio estão sentados à mesa. Catarina, Bianca e a viúva estão em pé, cada uma ao lado de seu respectivo marido. Trânio está com uma bandeja servindo bebidas.)


Lucêncio: Obrigado a todos por virem à minha casa! O banquete está servido! (Petrúquio começa a comer como um selvagem.)

Batista: (A Bianca.) Estou vendo que minha filha escolheu a pessoa certa para a vida dela!

Bianca: Obrigada, papai!

Grêmio: Eu sou o único que não deveria estar aqui.

Lucêncio: Como não, Grêmio? Você é amigo de minha mulher e é meu amigo também.

Petrúquio: (Grita.) Grúmio! Traga-me as costeletas!

Grúmio: (Grita fora de cena.) Vem pegar, seu folgado!

Petrúquio: (Grita.) Como é que é?!

Catarina: Deixa que eu pego, querido! (Vai saindo.)

Viúva (Elisabeth): Catarina, o que você tem contra mim?

Catarina: Nada. O que eu teria contra você?

Viúva (Elisabeth): Eu acho que deve ser inveja.

Catarina: (Grita.) Inveja?!

Petrúquio: Calma gente! Minha Cata, ela só está querendo dizer que... (A viúva o interrompe.)

Viúva (Elisabeth): Estou querendo dizer que sua esposa sofre por ter que aguentar suas maluquices e tem inveja de me ver casada com Hortênsio! (Catarina engasga com a bebida.)

Catarina: Inveja?! Preferia morrer a casar com Hortênsio!

Bianca: Percebo agora que nós três estamos bem casadas! Vamos meninas! (Saem Catarina, Bianca e a viúva.)

Batista: Petrúquio, acho que a mais megera é mesmo a que te coube.

Petrúquio: Vamos verificar. Cada um de nós mandará chamar sua esposa. Aquele cuja esposa for mais obediente ganhará o prêmio!

Hortênsio: De acordo! Qual é o prêmio?

Lucêncio: Vinte coroas.

Petrúquio: Vinte coroas? Em minha esposa aposto muito mais! (Entra Grúmio.)

Lucêncio: (Bate na mesa.) Cem coroas, então!

Petrúquio: O jogo está fechado.

Hortênsio: Quem começa?

Grúmio: O mais idiota!

Petrúquio: Grúmio, você não tem esposa.

Lucêncio: Eu começo. Trânio, diga a Bianca que eu estou chamando. (Sai Trânio.)

Batista: Fico com metade da aposta. Bianca vem!

Lucêncio: Nada de sócio! Vou ganhar sozinho.

Batista: Como quiser. (Entra Trânio.)

Lucêncio: Então? Onde está Bianca?

Trânio: Ela mandou dizer que está ocupada e não vem.

Petrúquio: Olha lá! Está ocupada e não pode vir. Isso é resposta pra se dar ao marido?Grêmio: Sim, e por sinal muito educada.

Hortênsio: Acho que agora é a minha vez. Trânio, volte lá e mande Elisabeth vir aqui. (Sai Trânio.)

Petrúquio: É, talvez mandando ela venha.

Hortênsio: A sua nem mandando vem. (Entra Trânio.) Já? Onde ela está?

Trânio: Ela disse que não vem e se o senhor quiser é para ir lá.

Grúmio: Rá! São todos perdedores! Meu patrão ganha!

Petrúquio: Nisso nós podemos concordar! Grúmio, vá buscar sua patroa e diga que eu ordenei que viesse aqui! (Sai Grúmio.)

Hortênsio: (Rindo.) Já sei a resposta.

Lucêncio: Não vem.

Petrúquio: Como assim? Não vem? Esperem para ver!

Batista: Tem que concordar, Petrúquio. Se Bianca e Elisabeth não vieram, Catarina não vem! (Entra Catarina.)

Grêmio: (Surpreso.) Eu não acredito!

Batista: Por Nossa Senhora, lá vem Catarina!

Catarina: (A Petrúquio.) Por que me chamou?

Petrúquio: Onde estão sua irmã e Elisabeth?

Catarina: Conversando perto da lareira.

Petrúquio: Traga as duas aqui! Rápido! (Sai Catarina.)

Lucêncio: Se existe milagre, acabo de ver um!

Hortênsio: Mas como?

Grêmio: Nem eu estou acreditando.

Batista: Quem diria, Petrúquio! A aposta é sua! Catarina mudou tanto que não é mais a mesma. (Entra Catarina puxando Bianca e a viúva. Petrúquio se levanta.)

Catarina: Posso ir agora?

Petrúquio: Catarina venha cá e me dê um beijo! (Ela beija-o.)

Catarina: Pronto. Agora para de me irritar! (Entra Grúmio.)

Petrúquio: (Senta-se.) Fique aqui ao meu lado.

Bianca: Catarina, como você está obediente!

Lucêncio: Queria que fosse um pouco mais obediente, Bianca. Isso me custou cem coroas.

Bianca: Estavam apostando na gente?

Viúva (Elisabeth): Queriam ver qual de nós viria primeiro, não é Hortênsio?

Hortênsio: Exatamente. Por sua culpa, perdi cem coroas!

Grúmio: Mas que palhaçada, apostando na obediência da mulher!

Petrúquio, Hortênsio, Lucêncio e Grêmio: (Gritam. Batista tapa os ouvidos.) Cala a boca, Grúmio!

Grúmio: Escravidão é osso!

Catarina: (Irritada.) Lá vem ele com essa frase de novo! Some daqui!

Grúmio: Escravidão... (Sai Grúmio.)

Batista: Até que Catarina não mudou muito.

Catarina: Vou encarar isso como um elogio, pai.

Hortênsio: Petrúquio, conseguiu o que queria: domou essa megera brava!

Petrúquio: Estamos os três casados! E vocês dois, vencidos! Catarina foi domada, e eu proponho um brinde a essa vitória! (Eles brindam. Fecham-se as cortinas.)

FIM


A Megera Domada (Shakespeare)Onde histórias criam vida. Descubra agora