ATO IV
CENA IIISéculo XVII.
Pádua. Uma praça pública.
(Entram Trânio e Lucêncio e sentam no banco da praça. A viúva entra.)
Trânio: Não fica assim, patrão...
Lucêncio: (Triste.) Estava dando tudo certo, eu e Bianca estávamos tão felizes! E agora...
Viúva (Elisabeth): O que aconteceu? (Entram Grêmio e Hortênsio.)
Grêmio: Olha lá ele! Todo convencido, se fazendo de vítima!
Hortênsio: Deixa ele. (Entra Catarina.) Agora ele nunca mais poderá se aproximar de Bianca! Catarina!
Catarina: O que é hein?!
Grêmio: O que aconteceu ontem? Cadê sua irmã?
Catarina: Isso não é da conta de vocês! Passar bem! (Vai saindo.)
Hortênsio: Espera aí! Você disse que iria contar os detalhes da conversa.
Catarina: Tá bom. Meu pai proibiu a Bianca de sair de casa por um bom tempo. Agora eu tenho que ir comprar mais lenços de papel.
Viúva (Elisabeth): (Grita.) Hortênsio Rogério de Souza!
Catarina: Eita, histérica! Depois eu que sou revoltada! (Sai Catarina.)
Hortênsio: O que foi, meu amor?
Viúva (Elisabeth): (Brava.) Meu amor?! Não vem com essa de meu amor não, meu bem!
Grêmio: Que bicho mordeu ela?
Viúva (Elisabeth): Você acabou com a felicidade de Bianca!
Hortênsio: Ah, isso não foi nada de mais!
Grêmio: É, foi ele que chegou bancando o espertinho enquanto a gente... (A viúva o interrompe.)
Viúva (Elisabeth): Grêmio, ninguém te chamou na conversa.
Hortênsio: Beth, vamos conversar!
Viúva (Elisabeth): Conversar? Pode arranjar outra pra casar com você! Fui! (A viúva sai.)
Hortênsio: Elisabeth! Espera! (Sai Hortênsio.)
Grêmio: Pelo visto, conseguiu fazer a cabeça da viúva. Não é, pilantra?
Lucêncio: Apenas contei a verdade.
Grêmio: Para o grande mentiroso, até que você está se saindo bem. (Entra Batista.)
Trânio: Por que não nos deixa em paz?
Grêmio: (Vai em direção a Batista.) Senhor Batista, Bianca está em casa? (Lucêncio e Trânio se levantam.)
Batista: Está sim, entre. (Sai Grêmio.)
Lucêncio: Senhor Batista! Por favor, me deixa falar com o senhor! (Batista o ignora e sai.) Pelo jeito, ele me odeia.
Trânio: Sim, ele te odeia, mas uma hora ou outra ele vai te perdoar. (Lucêncio e Trânio saem. Petrúquio e Grúmio entram.)
Grúmio: Você ficou sabendo?
Petrúquio: Sabendo do quê?
Grúmio: Ficou sabendo ou não?
Petrúquio: Mas do quê?
Grúmio: Do que todos estão comentando?
Petrúquio: O que estão comentando?
Grúmio: Do que aconteceu ontem!
Petrúquio: Mas o que aconteceu ontem?!
Grúmio: Ah, então o senhor não ficou sabendo, hein!
Petrúquio: Será que dá pra você me falar o que aconteceu ontem, que todos estão comentando?
Grúmio: Da discussão!
Petrúquio: Discussão?
Grúmio: É da discussão!
Petrúquio: Que discussão?
Grúmio: Que teve ontem! Mas o senhor está surdo mesmo hein!
Petrúquio: Eu só não te bato porque quero saber o que aconteceu ontem!
Grúmio: A discussão! Ora!
Petrúquio: Discussão? Mas discussão de quem?
Grúmio: Pessoas! Você acha que animais falam?
Petrúquio: Que pessoas? Da onde?
Grúmio: Da China. Vieram lá da China pra bater papo aqui!
Petrúquio: (Falando com a plateia.) Vocês estão vendo o que eu tenho que aturar!? (Respira fundo.) Grúmio, me fala qual o nome das pessoas que estavam discutindo!
Grúmio: Não vai me dizer que não conhece aquele cara.
Petrúquio: Cara? Mas que cara?
Grúmio: Aquele aqui da cidade.
Petrúquio: Aqui da cidade?
Grúmio: Que mora aqui perto.
Petrúquio: Que mora aqui perto?
Grúmio: Que gosta de uma garota!
Petrúquio: Que gosta de uma garota? (Entra Batista sem que ninguém veja.)
Grúmio: Ah não! Você não para de me repetir!
Petrúquio: Grúmio! De quem você está falando? (Petrúquio fica de costas para Grúmio.)
Grúmio: Do meu avô! É dele que eu estou falando! (Petrúquio se irrita, e quando vira para acertar um soco em Grúmio, quase acerta Batista.)
Petrúquio: (Pego de surpresa.) Senhor Batista! Tudo bem?
Batista: Vou fingir que não vi isso. Onde está Catarina?
Petrúquio: Catarina? Ela está por aí!
Batista: Por aí? Como assim por aí? Você é o marido dela, devia saber onde sua mulher se mete, não acha?
Grúmio: Rá! Esse aí está pouco se lixando para a mulher!
Petrúquio: Será que dá pra você calar a boca!
Batista: Vou deixar as crianças brincando de polícia e ladrão enquanto eu procuro a minha filha! Hã, por aí! Onde já se viu! (Sai Batista.)
Grúmio: A gente vai brincar de polícia e ladrão?
Petrúquio: (Encarando e indo na direção de Grúmio.) Ah! Então você quer brincar de polícia e ladrão não quer?
Grúmio: Se puder...
Petrúquio: Só que a nossa brincadeira vai ter outro nome.
Grúmio: Que nome?
Petrúquio: Assassino e garotinha!
Grúmio: Assassino e garotinha? Mas isso é nome de brincadeira? Ah, já entendi! Você é a garotinha! (Petrúquio corre atrás de Grúmio. Os dois ficam girando ao redor do banco da praça.)
Petrúquio: Ah, seu desgraçado! Vem aqui!
Grúmio: (Grita.) Espera aí, espera aí! Tá bom, eu sou a garotinha!
Petrúquio: Vem aqui! (Saem Grúmio e Petrúquio.)
FIM DO QUARTO ATO.
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A Megera Domada (Shakespeare)
HumorBatista é um senhor muito rico da cidade de Pádua. Tem uma bela casa e uma imensa fortuna. É viúvo e tem duas filhas: Catarina e Bianca. Bianca é doce, inteligente, gentil e tem muitos pretendentes. Porém, seu pai não permite que ela se case até que...