Para Casa.

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Aquele abraço pareceu durar horas, já que elas se sentiam tão confortáveis num abraço caloroso e bastante carinhoso. Yohanna queria poder proteger Leonie de tudo após vê-la daquela forma, e Leonie, se sentiu, verdadeiramente segura nos braços da garota mais nova.

O som do celular de Leonie ecoou, e a mais nova, sentiu medo, talvez a partir daquele dia, seu corpo se preencheria de medo a cada vez que o celular da garota baixinha tocasse, não queria nunca mais vê-la chorando daquela forma, era de partir o coração, mas o alívio veio, quando percebeu ser apenas um alarme.

— Hoje não foi produtivo, me desculpa... Mas, acho que nossa aula acabou! - o semblante da dona de cachinhos castanhos escuros entristeceu, ela não queria ir embora. - Ah, e me desculpa...

— Infelizmente acabou... - comentou, colocando um cacho atrás da orelha. - Não precisa se desculpar Leo, tá tudo bem...

Yoh queria encontrar alguma forma de não precisar se separar da outra garota, queria ter certeza de que ela estava bem, de que não voltaria a chorar, e talvez, até conferir se o tal Charlie estava bem, pessoas não deveriam passar por dores profundas o suficiente para sentirem vontade de tirar a própria vida. A garota pensava, tentava matutar alguma ideia boa, mas nada vinha.

— Próxima aula a gente continua o episódio, eu tinha preparado algumas tarefas, mas, como forma de gratidão, ficam pra outra hora... - Leonie falava com calma, doce.

Sua mente ainda estava um turbilhão, tudo que queria era chegar em casa, e acender algum incenso com efeito calmamente para relaxar, isso, depois de ter uma longa conversa com Charlie, elu precisava estar bem, Leonie não seria nada sem seu melhor amigo. Talvez dividisse um chá com ele ao chegar em casa, ouviria seus desabafos e eles iram escutar músicas antigas juntos, ela ainda estava vivo, e ela era grata a cada segundo por isso.

Yohanna, pegou o celular enquanto esperava Leo organizar suas coisas, respondeu mensagens de Lucca perguntando da aula, e também duas mensagens de Pietra questionando se, em algum momento, ela poderia passar para devolver a camisa que havia pego emprestada, respondeu rápido, e percebeu que a professora havia organizado tudo, então, guardou o celular no bolso e levantou, sem dizer nada abriu a porta, caminhando ao lado da outra pela biblioteca, observando os livros, e anotando mentalmente que, depois, precisaria voltar para pegar um livro para a aula de literatura, quando elas já estavam quase na porta, a morena teve uma ideia.

— Ei, você faz letras né? - perguntou a garota bem mais baixa ao seu lado, que balançou a cabeça positivamente, incentivando-a a continuar falando. - Você... Podia me indicar um livro pra aula de literatura, não muito grande, mas que seja legal?

Um sorriso se formou no rosto bochechudinho e pálido de Leonie, que balançou novamente a cabeça, levantando um pouquinho o olhar pra encarar Yohanna.

— Claro que posso, não é difícil encontrar bons livros... Vem! - começou a caminhar em passos mais rápidos pela biblioteca, indo até a área de romances, e como se soubesse de cor, tirou um livro dali, o estendendo, com um sorriso doce no rosto.

— Milhas de distância? - arqueou as sobrancelhas, querendo saber do que se tratava o livro, virando a contracapa do mesmo, lendo a sinopse com grande curiosidade.

— Então, é sobre um garoto que está questionando a própria sexualidade, e está tentando seguir em frente depois de uma tentativa de suicídio da namorada, que é uma garota trans... Esse livro é lindo, faz pensar muito, o Miles é um doce, e também tem uma construção bem interessante, fala sobre pansexualidade no livro, coisa que vejo bem pouco, e os pais da Vivian, namorada do Miles são bem nojentos, por não aceitarem a identidade de gênero dela, param com o tratamento hormonal enquanto ela tá no hospital, parece muito triste, mas não é tanto, você vai chorar talvez, mas é bom, juro que é bom! - Pela primeira vez Leonie falava bastante rápido, e com um pouquinho de empolgação na voz, como quem fala de algo que gosta muito, e de certa forma, quando comentado sobre pansexualidade, Yohanna acabou sorrindo um pouco, se sentiu validada, se sentiu feliz, e, de certa forma, era bom saber que alguém a apoiava, será que Leonie era hétero? Depois de falar com tanta empolgação sobre aquele livro.

— Eu, gostei, gostei muito... - com o livro já em mãos, ela folheou as páginas, suspirando alegremente e andando com ele e a nova amiga em direção à bibliotecária, precisando de alguns minutinhos para atualizar seu cadastro e poder levar o livro para casa, leria, com certeza leria, a sinopse a interessou muito, e talvez aquilo rendesse assunto entre as duas.

— Desculpa falar tanto, é meu livro favorito! - comentou, depois de tanto tempo.

— Não tem problema, gosto de te ouvir falar! - de certa forma dizer aquilo em voz alta fez Yohanna corar e negar com a cabeça.

Após tudo terminado com a bibliotecária, a morena tirou a mochila das costas depois de apoiar o skate no chão, e guardou o livro ali, pensando em ler mais tarde, e então, resolveu levar o skate na mão mesmo, andando pelo colégio ao lado da outra, sem falar nada, estava com vergonha e altamente pensativa.

Ao chegar no portão, ela apenas cumprimentou o porteiro, sempre simpático do colégio e saiu junto de Leonie, esperando a garota pegar alguma chave de carro ou coisa do tipo, mas ela apenas começou a caminhar para o lado oposto que Yohanna iria, após uma pequena despedida com o olhar, quando já haviam se distanciado um pouco,  Yoh virou para trás, e correu com o skate em direção de Leonie, passando ao seu lado, tentando manter o mesmo ritmo que a garota.

— Quer companhia até em casa? - perguntou antes que a vergonha a fizesse virar e voltar.

— Er... Não precisa... - a pele clarinha de Leonie a condenou instantaneamente, vergonha. Ela não esperava aquela atitude de forma alguma.

— Tudo bem, mas eu vou mesmo assim! - insistiu, continuando a manter o ritmo do skate sincronizado aos passos alheios.

Naquele momento, elas não tinham assunto algum, mas faziam proveito da companhia uma da outra, trocando olhares e pensando sobre diversas coisas que teriam que fazer em outros horários, Yohanna então novamente lembrou do livro, querendo, por algum motivo saber a sexualidade da garota ao seu lado, ela não iria perguntar, era indelicado demais, elas não tinham afinidade o suficiente para aquele tipo de pergunta, mas daria um jeito de descobrir. Conforme o tempo passava e o caminho era feito, a morena percebia o quão Leonie morava longe da casa dela, e no caminho oposto, chegaria tarde em casa, mas, valeria completamente a pena, sem contar, que, em CastleCoast, nada era realmente longe.

Mais alguns passos, ou remadas para a garota que estava sobre o skate, e, finalmente, elas pararam em frente a um prédio, daqueles com poucos andares, a umas duas quadras da praia. Provavelmente a vista do quinto e último andar do primeiro prédio devesse ser bonita, já que a praia da cidade era quase paradisíaca.

— Obrigada pela companhia Yohan... Yoh, realmente não precisava, mas foi bom ter alguém pra voltar comigo! - agradeceu encontrando o olhar da skatista, ficando na pontinha dos pés e pousando um beijinho na bochecha alheia.

— Não precisa agradecer, eu resolvi correr atrás de você e te fazer companhia, agora, sei onde você mora, não vou esquecer, é pertinho da praia! Um dia qualquer, passo aqui pra te atormentar depois de algum rolê! - a timidez preencheu Yohanna após aquele beijo na bochecha - Me avisa se o Charlie estiver bem... - completou sem jeito e deu um tchauzinho com a mão depois que a garota baixinha e suas mechas roxas passaram para dentro do portão do prédio, não falou mais nada e tomou seu caminho de volta.

Seus pensamentos bastante distantes a levaram para a casa depois daquela longa tarde, confusa, mas interessante. Chegou tarde, quase anoitecendo em seu apartamento, não se importando muito com nada, além de jogar suas coisas no quarto, deixar o livro recomendado em cima da escrivaninha e tomar um banho morno, o dia seguinte seria longo, e depois da manhã com Pietra, e tarde com Leonie, só queria uma longa noite de sono, e que Amélie não a acordasse, a não ser que a casa estivesse pegando fogo.

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Finalmente consegui escrever um capítulo longo como eu queria. Obrigado de verdade por estarem lendo e acompanhando!

P.S: O livro Milhas de Distância realmente existe, e é um dos meus preferidos da vida, a autora é A. B. Rutledge, ele é de temática romance LGBTQIA+, e tem uma história linda!

Desencontros Marcados - HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora