A luz da lua.

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Após abrir a conversa com toda calma do mundo, acabou mordendo o lábio inferior. De alguma forma, o cigarro fazia qualquer tipo de insegurança desaparecer de seu corpo, e flertar era quase como um esporte. Respirou profundamente tentando enxergar as teclas direito, murmurando algo indecifrável frustrada, antes de acabar decidindo mandar um áudio, seria mais fácil, e exigiria menos atenção e coordenação.
Mais alguns segundos pensando, e finalmente começou a gravar:

— Hey Pie! - sua voz soava alterada, mas não o suficiente para ficar explícito. - tá muito ocupada? Quer dizer... Sabe, o que rolou no luau foi, legal?! Então tava pensando na gente fazer algo agora a noite, se você não estiver ocupada, é claro. Eu fumei um pouco, não vou mentir, mas, a gente podia se encontrar na praia, vai, diz que tá livre, eu pago uma bebida pra ti!

Um riso fraco soou ao final do áudio, e ela bateu na própria testa por ser tão cara de pau e não conseguir disfarçar o que passava por sua mente. Enviou o áudio e abriu a janela do quarto, se ajoelhando na cama para observar a lua, enquanto esperava por uma resposta. Talvez não seria tão boa ideia sair às nove da noite, em plena segunda, mas ela sempre fazia tudo certinho, merecia sair da linha por um instante, aproveitar do momento, e curtir com uma amiga, elas só iam beber um pouco e flertar, não seria a primeira vez que Yohanna iria para a aula de ressaca, seria tranquilo. Certo?
Mais alguns minutos se passaram, e com o vento gelado contra seu rosto, fechou a janela e checou novamente o celular, haviam mensagens de outras pessoas, mas a de quem ela tinha interesse, também estava ali, o que arrancou de seus lábios um sorriso interessante, até porque, a ruiva havia aceitado, e ainda melhor, mataria aula da faculdade para dar uma volta na praia.
Sem tempo para pensar muito, ela respondeu que iria se trocar, e logo estaria a beira da praia, em frente ao quiosque que elas haviam comprado bebida sexta à noite. Deixou o celular de lado, prendeu os cabelos de qualquer jeito e abriu o armário, tirando dali um biquíni preto, shorts da mesma cor e uma camisa de botões estampada com algumas flores, vestiu as peças e calçou um chinelo que provavelmente era de Amélie, mas estava mais perto. O corpo ainda estava um pouco em transe, mas ela já conseguia caminhar normalmente.
Caminhou até o quarto de Amy e bateu algumas vezes na porta, assim que teve resposta da loura, abriu uma fresta da porta e avisou que estaria saindo e voltaria logo. Só usou de seu tempo para avisar, porque não queria assustar a garota quando voltasse. Tornou a fechar a porta e passou pelo banheiro, encarando seu rosto no espelho, sorrindo e abrindo os botões da camisa, deixando apenas dois fechados, revirando os olhos e logo partindo para o andar de baixo, pegando as chaves penduradas ao lado da porta.
Partiu para a praia com um pouco de pressa, a noite estava quente, mas uma brisa leve ainda batia em seu rosto, pegou no bolso o celular, conferindo se havia pego seu cartão, e o mesmo estava ali atrás da capinha transparente, após isso, continuou a caminhar com mais pressa, não demorando a chegar no quiosque esperado, encontrando a garota ruiva sentada em uma das cadeiras de plástico, virada para o mar, com uma garrafinha verde, provavelmente cerveja em mãos, ela parecia estar com um vestido longo de crochê, os dreads no cabelo em um coque, e nem sapatos ela usava naquele momento. Yohanna deu alguns passos lentos, fazendo o clichê de tampar os olhos da garota, que logo começou a rir, pois já sabia quem era.

— Eai gatinha, o que te fez me convidar pra esse rolê? A essa hora? No início da semana? - perguntou, sem sequer precisar que Yoh dissesse algo.

— Sua sem graça! - revirou os olhos frustrada, dando alguns passos e relaxando o corpo sobre a cadeira de plástico ao lado da garota. - Primeiro, porque eu tava afim, segundo, porque sim - deu risada. - e terceiro, porque chapada eu sou sem noção e achei que seria legal a gente se divertir... - comentou, arqueando as sobrancelhas e recebendo um sorriso com um fundo de malícia, e os olhos alheios passando por sua boca.

— Olha Yohanna, se você brincar com meu coração de papel, eu te mato! - brincou, dando uma gargalhada gostosa que fez a outra sorrir.

— Não pretendo brincar com seu coração, vai, você disse aquele dia que queria algo poxa... - a Yohanna tímida havia ido para puta que pariu, e ela aproveitou o pequeno intervalo para pedir uma Ice clássica ao homem que atendia ali.

— Eu tô brincando bobinha, não sou desse rolê de romance, minha vibe é mais amor livre e tudo mais... - ela comentou alegremente, soltando seus cabelos.

— Interessante... - tomou o primeiro gole da garrafinha transparente, sentindo por alguns segundos queimar, mas logo se acostumou com o sabor. - bom, quer dar uma volta?

Perguntou, se levantando, e estendendo a mão para a outra garota, que sequer questionou, apenas levantou. Em poucos segundos elas estavam conversando sobre assuntos distantes, enquanto caminhavam, de certa forma, elas já se davam bem há algum tempo, a atração era mútua, então, só fluía naturalmente, principalmente com as duas levemente alteradas, e secretamente chapadas num nível interessante.
O tempo passava lentamente, mas enquanto conversavam, pareciam meses de assunto sendo colocados ali, os pés na areia, a brisa e o cheiro do mar, os cabelos já esvoaçantes, as garrafas em mãos, e sorrisos espontâneos no rosto. Em alguns momentos os flertes ficavam evidentes, provocavam uma a outra de certa forma, o que sempre deixava uma envergonhada, ou nem tanto. Já em outros momentos, uma jogava baixo, e a outra passava rasteira.
Depois de muito caminhar, sentaram-se à beira do mar, não se importando muito com as poucas pessoas ali em volta. As garrafas, já vazias, apoiadas na areia, alguns assuntos sobre a lua, até que Pietra apoiou a cabeça no ombro da garota mais alta e, entre o passeio de assuntos, elas acabaram em um beijo, daqueles em que se perde o rumo em poucos instantes e levava para um caminho interessante, elas iriam culpar a bebida ou o cigarro, mas, no fundo, as duas queriam o que aquele beijo poderia trazer. Em poucos segundos já não sabiam mais se o calor era da noite enluarada ou se vinha dos corpos umas das outras.
Quando se deram conta, Pie já estava por cima da cacheada, deixando alguns beijos, sem marcas em seu pescoço, e as mãos da outra apertavam a cintura alheia sem se importar nem um pouco com as consequências. Porém, um lapso de sanidade as atingiu, e o beijo foi separado, com um olhar envergonhado e uma mordida provocante no inferior por parte de Yohanna.

— Melhor pararmos, né!? - perguntou, querendo que a outra respondesse que não. Ou talvez a convidasse para ir para outro lugar, um sem plateia se possível.

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Será que esse shipp vale? Será que vai pra frente?

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