As manhãs frias de Londres possuíam poesia própria e estampavam quase todos os cartões postais que Jade já havia visto em sua infância, na época nunca gostou deles e do tom depressivo empreguinado em seus fundos cinzas, sempre que pensava neles viajava ao passado nos momentos em que ia a lojinha de conveniência na esquina de sua casa em dias de chuva, enfiada dentro de seu grosso casaco e touca felpuda. Era engraçado pensar, no entanto, que aqueles anos monótonos de dias chuvosos e cinzas seriam os melhores, por não saber o que a esperava, sem dúvida os anos seguintes de incontáveis internações em hospitais azuis e sem graça mudavam todo o conceito de morbidez.
No momento atual a advogada era amiga destes dias mais frios, e apreciava de bom grado também quando as nuvens se reuniam carregadas para chorar sobre aqueles prédios altos e velhos da doce Inglaterra, era de fato adorável, relaxante. Sentou-se a mesinha que comprara na semana anterior em uma venda de garagem, madeira de segunda, muito bem pintada com um branco amarelado pelo tempo, acompanhada de um banquinho criativamente feito a partir do mesmo material, um achado; levou a xícara de porcelana até a boca satisfeita com o chá de camomila recém feito, antes disso provou as panquecas, que até aqueles dias em que ficara com Claire ela nem sabia que conseguia fazer, a menina até as igualou as de Leigh Anne, o que era uma surpresa curiosa.
Um estrondo no andar de cima se fez presente, surpreendendo a advogada, por alguns dias até havia se esquecido da existência do casal briguento que morava a poucos metros de sua cabeça. A vizinha começou a discursar em voz alta palavras indecifráveis, o que se podia entender de todo o monólogo se limitavam apenas a palavrões que ganhavam destaque conforme sua voz subia um decibel. Em resposta, o senhor nada dizia, exceto pelo volume da tv que aumentava a cada frase da esposa. Uma campainha tocou, Jade precisou reorganizar os próprios neurônios antes de notar que havia alguém a sua porta, a tv do apartamento acima ocultava todo e qualquer outro som, com as mãos nos ouvidos, ela foi em direção a porta ao ouvir o chamado pela terceira vez.
— Será que poderiam me dar um minuto de paz uma vez na vida! — Jade reclamou impaciente aumentando o tom de voz, ao passo que abria a porta. — Está bem...Acho que eu posso voltar em outro momento. — Perrie disse com um sorriso desconcertado —Jade ruborizou ao ver a inesperada visita a encará-la.
— Oh, não, não você. Desculpe o sermão, eu estava falando com meus vizinhos de cima. — A advogada respondeu afundando-se em uma poça de constrangimento. — O que há traz aqui? Você nunca veio à minha casa antes.
— Ah, sim. Jesy me deu seu endereço, espero que não se incomode. Posso entrar?
— Ãhn... — Jade deu uma breve espiada no interior de sua casa, as caixas que ela prometera desempacotar a meses continuavam no mesmo lugar. Incorrigível, procrastinação. — ...c-claro, só não leve em consideração a bagunça, não tive tempo de arrumar.
— Claro. Por que você teria? Faz apenas quase seis meses que você se mudou, não é?
— Não acredito que veio à minha casa para ser a mesma cuzona irônica de sempre. Não precisava se dar ao trabalho.
— Calma — Perrie respondeu virando-se para a anfitriã com uma risada genuína, seus cabelos loiros estavam soltos, o que era raro, usava um casaco verde musgo com um cachecol de listras discretas de cor marrom ornamentado seu pescoço, estava linda. — Eu estou apenas brincando, sou tão procrastinadora quanto você, é reconfortante saber que você não é assim tão perfeitinha quanto aparenta. Gosto dessa Jade.
Jade se calou, enquanto assistia a recém-chegada depositar sua bolsa na mesinha ao lado da varanda, como em um momento capturado em câmera lenta ela analisou cada letra da última frase dita. Perrie havia mesmo dito que gostava dela?
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I'm not her - Jerrie
RomanceE se você estivesse vivendo a melhor fase de sua vida, e no fim de um dia tudo acabasse? Em um abrir e fechar de olhos, a vida de quem você mais ama se esvai-se? Perrie Edwards estava no auge do sucesso, na carreira e no amor. Prestes a tornar-se J...