Strike II

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Capitulo 4 - Strike II

Era uma noite de quinta abafada e tranquila, já passava da meia noite e todas as ruas daquele bairro estavam vazias, nada de arruaceiros, gatos esqueléticos desafinados ou mesmo carros, era quase deprimente. Perrie talvez pensasse desta forma por conveniência, afinal sobre o efeito do aroma doce e sedutor do vinho, ninguém escapa de pensamentos dramáticos alguns se rendem mais cedo outros demoram a cair, mas sempre se deprimem. Horas a fio a fitar as janelas de vidro que deveriam servi-lhe de contato com o mundo externo, ao invés de como tantas outras coisas em seu mundo invertido tornarem-se um espelho para si mesma, poderiam chamar de narcisismo, mas não seria o termo correto, talvez o termo correto - Se houver mesmo um - Seja fuga, encarar o próprio reflexo é a forma que ela encontrou de conviver com a dor, a melhor companhia ao menos uma que poderia suporta-la.

Perrie tinha horror a sentir-se dependente de alguém, sair com amigos que devem estar cientes de pisar em ovos com ela o tempo todo, será que eu devo dizer o nome de Leigh-Anne? Devo perguntar sobre o restaurante? Soube mais tarde por intermédio de Jesy que um casal de amigos tinha interesse em comprar o restaurante quando ela o pôs a venda, mas não tiveram coragem de tocar no assunto receavam feri-la ou ofende-la durante as negociações com qualquer gafe que fosse. E como ela odiava isso. Como é viver sendo subestimada por todos? Ser apontada na rua como aquela que perdeu quem amava? Aquela que todos devem evitar machucar? As pessoas precisavam se policiar perto dela, se desculpar por qualquer pequena coisa, limitam as conversas, limitam as risadas, torna-se quase um crime demonstrar seu amor por alguém, perto daquela que perdeu a única pessoa que a amou, a única que quebrou as paranoias intrínsecas, que entendeu seus dilemas, que não se importava com a sua complexidade, tudo isso por simplesmente ama-la incondicionalmente sem nunca nada pedir.

Perrie suspirou fundo, deixou-se esvaziar e novamente tornou-se a encher-se, até se acalmar, levou à taça a boca e sorveu um último gole interrompendo o pouco de angústia que nascia em seu peito. Recomposta tomou a garrafa vazia e a colocou junto do outros tantos cascos, a caixa que comprara estava no fim e não alcançara nem o fim do mês, guardou a taça dentro da pia e caminhou até as grandes janelas da sala de estar. Abriu as vidraças e seguiu para o parapeito da varanda, o vento a invadiu, ela apoiou-se na grade, e pendeu a cabeça para baixo, suspirou e ainda tonta, sentiu as vistas lacrimejarem, culpou o tempo, que se danasse aquela metrópole suja o ar irritara todo o seu globo ocular, e agora ela prestes a fazer o que não deveria, chorar. Não era por causa dela, da partida ou mesmo do restaurante, era a poluição, simples e pura poluição.

- Mamãe...Mamãe? - Perrie endireitou-se, limpando o rosto com as costas da mão e voltou-se para dentro, em pé sobre a porta, Claire coçava os olhos sonolenta e chorosa.

- Oi meu amor. O que houve, porque está acordada?

- Tive um pesadelo de novo mamãe, com o monstro mal.

- Oh, é mesmo é? Mas que monstro danado este. - A menina juntou as sobrancelhas, e ameaçou chorar novamente Perrie a abraçou, e depois de um impulso a pegou no colo. - Uh! Que mocinha pesada, já tá grandinha para o colo da mamãe, não precisa mais ter medo do monstro bobão, ele não vai poder pega-la.

- Promete, mamãe? Eu tenho medo dele.

- É claro que eu prometo. E o senhor Tolbi onde estava que não a protegeu?

Tolbi era um pequeno tatuzinho de pelúcia, muito velhinho fora o primeiro presente que Leigh comprara para a filha em uma viagem de férias ao Brasil ainda durante a gestação, Perrie o achou horrível mas a esposa o levou mesmo assim, para ela o bicho era especial porque não era tão comum como as demais pelúcias e desde então, contra toda as apostas de Perrie, Tolbi se tornara o inseparável companheiro da filha, principalmente depois que Leigh as deixou.

I'm not her - JerrieWhere stories live. Discover now