Segue o Baileeee! *.*
O apartamento a noite tornava-se deliberadamente insuportável, as chuvas de verão caiam torrenciais em dias intercalados, sim e não. Naquele dia a chuva não viera, mas o calor diminuíra com ventos de rajadas fortes e frias, a quitinete minúscula estava com o aquecimento quebrado tornando todo ar pesado e congelante. Jade afundou-se na única poltrona que conseguira desembrulhar sem grandes surpresas, na primeira tentativa deparou-se com um sofá empoeirado embrulhado para presente que viera junto da casa, presente de grego esse, que teve que ser mandado para uma lavagem a vácuo, uma vez que era morada de muitas ratazanas.
A pobre jovem lembrou-se de sua primeira reação aos hospedes indesejáveis, ao gritar como louca e sapatear como uma dançarina profissional sobre o carpete, acalmado os ânimos, ela compreendera o lado dos camundongos, afinal ela invadira seu território, mesmo sendo por meios legais – Apesar de estar na pele de uma adulta com medo irracional de roedores, ela não poderia deixar de pensar como uma advogada. – Compreensível que eles temessem a descoberta do móvel, entretanto por mais que odiasse a ideia de usar um móvel que já fora da posse de algum animal, sua vida financeira não lhe permitia escolhas.
Alcançou despreocupada o controle da teve e pôs a zapear pelos canais, nenhum em específico lhe chamava a atenção. Os passos no andar de cima recomeçaram e a porta se fechou ruidosamente, depois o primeiro grito e a briga costumeira. Revirou os olhos e esmagou os botões do volume da tevê, mas não passaria daquele máximo, ainda se ouvia o farfalhar dos Adam's. Tinham muitos problemas conjugais, mas preferiam trocar ofensas e arremessar panelas a frequentar uma terapia de casal. Henry, o marido, queixava-se do esbanjamento da mulher em seus cartões de crédito, enquanto ela o acusava de ser frouxo e sustentar uma amante, a cena se repetia todos os dias, como um loop eterno se Jade não trabalhasse fora dali provavelmente enlouqueceria com a possibilidade de estar em um universo paralelo, tamanha era a repetição daquelas discussões.
Alguns dias atrás encontraram-se pela primeira vez, quando Rather Adams entrou no elevador carregando um grande vaso de samambaia era uma mulher dentro de seus quarenta e cinco anos, usava roupas apertadas e justas um tanto quanto inadequadas para sua idade e tinha os cabelos curtos tingidos de um vermelho sangue, além de sobrancelhas definitivas - daquelas que se desenha na pele, a dez centímetros das palpebras – Amedrontadoras, como seu sorriso, de dentes pontiagudos -. Assim que a mulher a cumprimentou soube que se tratava do lado B do casal D.R, que a deixara assustada com suas brigas, isso foi de primeira agora já estava vacinada, mas não menos indignada, a rotina de insultos típica do casal tirava-lhe o sono e a impedia de analisar qualquer caso que fosse.
Desejou que um meteoro atingisse a terra no momento em que a mulher descobriu que morava acima dela, como se aquela recente descoberta as tivesse tornado amigas de infância, a senhora começou a contar sobre a vida que levava o marido e a possibilidade de um divórcio, Jade exprimia-se contra a parede observando os andares passarem lentamente, enquanto a vizinha tagarelava. Absorta em pensamentos, a advogada só despertou ao ser questionada sobre seu oficio, a fim de evitar que a conversa se estendesse para processos judiciais de divórcio e separação de bens, respondeu afoitamente ser agente funerária, o que deu um ar de penumbra, dispersado por um derradeiro comentário sem graça da pedante "Já sei quem procurar, depois que matar meu marido".
Apesar de não leva-la a sério Jade passou a evita-la o máximo que podia, planejava cada aparição em público no prédio e possuía um esquema de barganha com o porteiro que lhe avisava quando a candidata a viúva negra estivesse por perto. Desligou a tevê vencida, ajeitou-se novamente, mas não encontrava posição que a satisfizesse, pegou um livro e tentou ler, mas tudo com aquele barulho era insuportável, e não se tratava somente da guerra travada acima de sua cabeça, mas também aqui se iniciava dentro dela, que a inquietara durante o decorrer do dia, no banho, enquanto jantava ou mesmo depois do entardecer e do surgimento da lua.
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I'm not her - Jerrie
RomanceE se você estivesse vivendo a melhor fase de sua vida, e no fim de um dia tudo acabasse? Em um abrir e fechar de olhos, a vida de quem você mais ama se esvai-se? Perrie Edwards estava no auge do sucesso, na carreira e no amor. Prestes a tornar-se J...