I'm not her - Jerrie

Cavalo de Tróia

Os sábados não eram mais seus dias preferidos, ao menos deixaram de ser duas semanas atrás quando estreou a esteira caríssima que comprara por impulso no Ebay. Apesar de ter uma alimentação razoavelmente saudável, Jesy sempre viveu em constante guerra com sua imagem corporal, principalmente quando refletia a respeito de sua fracassada e quase inexistente vida amorosa. Os aplicativos sempre a decepcionavam, perdera as contas de quantos esquisitos deixara sozinhos em bares e pontos de encontro ao perceber que não correspondiam as expectativas afloradas por suas versões virtuais exacerbadamente editadas.

A premissa era sempre a mesma, encontrar uma raridade online, descobrir que na realidade o sujeito estava longe de ser excepcional. E afogar suas mágoas na balada preferida no subúrbio Londrino, apelidado carinhosamente de "Las Vegas Britânica", pelo privilégio do anonimato, o que acontece lá fica lá. Esta era a única milagrosa razão pela qual Jessica ainda não era um viral na internet. A verdade é que por mais que detestasse admitir, a exigência para o amor que criticava em Perrie, ela também possuía.

Claramente a relação de vai e volta que mantinha com Logan há três anos não a ajudava em nada, e o fato do cara parecer ter saído direto das páginas do Kama sutra para sua cama era a única coisa que a fazia continuar a vê-lo, mas isto precisava acabar. À medida que os 40 anos se aproximavam Jesy sentia que a virada em sua vida amorosa aconteceria agora ou jamais.

Enquanto corria torcendo para que seu alarme apitasse anunciando que os sofríveis 20 minutos do dia tivessem acabado, Jesy ouviu o celular vibrar o nome brilhante na tela piscava sem parar, e secretamente ela agradeceu por isso, dando por encerrada o treino do fim de semana mesmo sabendo que estaria muito longe de sua meta habitual. Sorriu ao ler os torpedos no aparelho. Perrie a convocava para a noite das garotas pela primeira vez em muito tempo, isso só poderia significar uma coisa; Perrie estava finalmente se abrindo para conectar-se com alguém além do fantasma de Leigh.

Verônica estava ansiosa quando dobrou a esquina em direção a requintada cafeteria Londrina, seus olhos atentos certificaram-se de encontrar seu alvo. Sentada em uma das mesas dispostas pela pequena varanda de madeira, em um canto estratégico a senhora de traje elegante e expressão arrogante parecia estar particularmente de mal humor.

— Bom dia, senhora Pinnock.

— Bom dia, peça um café gelado para nós duas e me diga de uma vez por todas do que se trata aquele telefone descuidado, sabe muito bem o quão imprescindível é que sejamos discretas não posso bancar ser relacionada a você. – Verônica ignorou o resquício de desprezo na voz da mulher e pediu os cafés ao garçom antes de continuar.

— Estou ciente da natureza de nossa relação, a senhora não me procurou para amadorismos. Acontece que sua ex nora voltou a me dispensar, sei que seu único interesse no nosso arranjo é conseguir a guarda de sua neta, mas isso envolve sua advogada.

— Sra. Thirlwall? O que ela tem a ver com isto?

— Contaste por si mesma. – Verônica passa o celular para a acompanhante que expressa descrença, na tela sua advogada aparece muito próxima de Perrie em um estacionamento.

— O que significa isso?

— O que parece? Sua prestigiada advogada está pegando sua nora. É impressionante como o departamento policial de Londres decaiu, estão contratando qualquer uma mesmo.

— Aquela mulher...eu não sabia que ela era esse tipo de pessoa...meu Deus.

— Ela pode ser uma grande pedra no seu sapato, um verdadeiro cavalo de Tróia. Mas, a bola do jogo agora está com a gente, estas fotos podem corroborar para prejudicar a imagem de Perrie, corrompendo a defensora de sua concorrente a guarda da filha.