1996 - Never Look Back (Segunda temporada)

Uma dor maior

Meus olhos continuaram fixos na janela assim que o sol nasceu, não conseguia fechá-los ou fazer qualquer coisa a não ser acariciar os fios de Sarah que havia dormido em meus braços. Eu pensava seriamente no que fazer, como agir a partir daquele momento, tanto com Jennie, e ainda mais com Stacy, ela me odiava, as duas me odiavam, e tinha uma razão por conta disso.

Aos poucos, meu olhar caiu para Mingi que acordava aos poucos coçando os olhos enquanto esticava os pequenos braços, o menino andou até a cozinha como sempre fazia des dos três anos, e bebeu um copo de água para por fim dividir o espaço em meu corpo junto a Sarah.

- A senhora já parou de chorar, não é?

- Já, filho, eu já parei de chorar.

- Hum... - assentiu - Porque... a tia Jennie estava tão brava ontem? E porque... ela te bateu tanto, mamãe?

- A uma coisa que eu nunca te contei, Mingi, não foi por mal e sim porque você ainda é muito pequeno para entender-

- Se Stacy des do começo soube que você é mãe dela e de Sarah, eu também tenho capacidade de entender uma história complicada, mamãe, a senhora está me enrolando é? Mingi não gosta de ser enrolado, não sou corda para ser enrolado.

- Ok - suspirei o olhando - A mamãe e a tia Jennie ja nos conhecíamos a alguns anos atrás. Eu cuidava da Jennie, e conforme o tempo foi passando nós duas nos apaixonamos e começamos a termos uma relação.

- Tipo namoradas que beijam na boca? Ou, você era o mocinho que salvava a tia Jennie do monstro?

- Isso - assenti - A gente se amou tanto que a tia Jennie ficou grávida da Sarah e da Stacy, então... a mamãe a trouxe para cá, pra morar com a Eliza porque lá aonde morávamos não era um bom lugar, não acha? - ele concordou - Depois de alguns meses... a mamãe tentou sair de lá... pra finalmente ficar com a tia Jennie e cuidar das gêmeas junto a ela... - engoli seco, fechando os olhos, aquelas lembranças ainda eram dolorosas e apenas eu sabia como havia doído cada segundo.

- E então...? O que aconteceu? - Sarah perguntou de repente, levantando seu rosto inchado para me encarar - Conte a nós, mamãe.

- E então... três monstros horríveis me pegaram... e não me deixaram mais voltar para a Jennie. Ela sofreu um acidente e isso a fez que não se lembrasse mais de mim, por isso ela estava com tanta raiva de mim pois... eu escondi algumas coisas quando voltei e porque... eu não consegui ser presente na vida dela como tanto planejamos ser um dia...

- O que aconteceu com você quando os três monstro a pegaram? - Mingi perguntou.

- Isso... vocês dois não precisam ficar sabendo dessa parte, e mesmo que já tivessem idade para entender essa parte da história, ainda é muito difícil contar.

- Eles te machucaram, mamãe? - a menina perguntou com a testa meio franzida, abaixando os olhos assim que eu dei uma leve assentida.

- M-mas... mas você é a minha super-heroína! Porque você não lutou contra eles, mamãe?!

- Ah, filho... - tentei lhe dar um sorriso, mas tudo que saiu foram apenas suspiros pesados na tentativa de segurar o choro - A mamãe não é tão forte como parece... pra falar a verdade... a mamãe não é nada...

- Não... você é a minha mamãe e a minha super-heroína, e sempre vai ser!

- Você não é "nada". Você é a Lalisa, mamãe do Mingi, da Sarah, da Stacy e a futura namorada da mamãe Jennie - Sarah falou batendo em meu bolso - Já se esqueceu da cola? Ih, Mingi, a memória da mamãe está igual a dos velhinhos, fraquinha fraquinha.

Eu ri apertando ainda mais os dois contra o meu corpo, sentindo um pouco de paz quando seus corpos se encaixaram perfeitamente em meus braços, até que Stacy desceu, parando na entrada da cozinha e fechando os punhos assim que viu Sarah em meu colo.

- Sarah, saia daí agora! - mandou.

- Você não manda em mim, Stacy.

- Certo! Então fique aí! Com esses dois mentirosos! Você já já se torna uma mentirosa também igual a eles!

Sarah desceu do meu colo pisando fortemente, a garota se colocou na frente de Stacy e pela primeira vez des que cheguei ali, Sarah deu um forte empurro em sua irmã a fazendo cair sentada no chão. Sarah cruzou os braços e levantou o queixo, intimidando a sua irmã intimidadora que sempre fazia aquilo com ela.

- Você pode me chamar do que quiser, Stacy! De medrosa! Chata! Sensível! Chorona! E até mesmo de mentirosa! Mas eu não vou deixar você falar assim da nossa mãe e do nosso irmão! Você me entendeu?! Lisa é a nossa outra mãe, e você tem que respeitá-la! E se você não fizer isso, eu irei puxar o seu cabelo igual você faz comigo! Até você começar a chorar! Sua... sua... SUA BOBA!

Segurei o pequeno riso que queria sair da minha garganta, vendo Stacy com uma feição meio assustada, a menina correu até o andar de cima novamente batendo a porta com força fazendo tudo ficar silencioso novamente.

Durante o dia nem Jennie e nem Stacy desceram do quarto, até que reunindo a pouca coragem que eu tinha, Eliza e eu subimos para o quarto, eu teria que conversar com Jennie, ela tinha que me escutar, ela precisava me entender e entender que aquilo não foi culpa minha.

- Sai daqui - ela mandou assim que entrei junto a Eliza.

- Filha, me escuta-

- SAIAM DAQUI! VOCÊS DUAS!

- Eu não vou sair daqui - respondi em um tom baixo, tomando a frente olhando no fundo dos seus olhos - Você descontou toda a sua raiva em mim ontem, toda a sua frustração e tudo o que queria dizer, agora é a minha vez de te contar tudo o que eu passei, os infernos que me aconteceram pra finalmente estar aqui com você e com as nossas filhas.

- MAMÃE JENNIE MANDOU VOCÊ SAIR! - tranquei a mandíbula segurando fortemente os ombros de Stacy a deixando imóvel e assustada, pois eu tinha certeza que a minha feição para ela naquele momento não era nada amigável.

- Primeiramente você irá parar de gritar comigo, eu sou a sua mãe e quero pelo menos o seu respeito, não quero o seu abraço nem o seu carinho, apenas a educação que a Jennie te deu e eu sei que ela te deu, segundamente quem irá sair do quarto será você, pois temos assuntos muito sérios a tratar e eu não quero que você, ou ninguém atrapalhe a minha conversa com a sua mãe, me entendeu?

Os olhos da menina lacrimejaram e assim que a soltei ela correu até Eliza e pude escutá-la sussurrar "eu odeio você, Lalisa, você não é, e nunca será a minha mãe". Aquilo doeu por alguns minutos, mas eu tinha uma dor maior para tratar assim que Eliza saiu e nos deixou sozinha.

- A escolha depois de tudo que irei contar aqui é unicamente sua, Jennie, se quiser me mandar embora, eu pego as minhas coisas e o Mingi e nunca mais apareço na sua vida, mas por favor, me escute do começo ao fim para decidir algo, está bem?

A mulher demorou um pouco, mas se sentou e assentiu para que eu me sentasse também. Engoli seco algumas vezes.... ela saberia toda a verdade naquele minuto.