- E como você está, filha?
- Cansada mas bem, Eli, meninas venham dar oi para a vovó.
Me sentei no sofá jogando a cabeça para trás e encarando o teto enquanto escutava as gêmeas serem bajuladas por Eliza que as tratava como suas netas, e de alguma forma elas eram, todas as vezes que eu entrava naquela casa, era a mesma sensação, mil sensações, principalmente a que eu já havia vivido algo intenso ali dentro, eu tinha tantas questões, tantas dúvidas, tantas perguntas, queria mil respostas, mas nunca me davam, nunca me contavam.
- Mamãe, podemos brincar lá fora? A neve está tão linda!
- Não tirem as luvas me escutaram?
Eliza me encarou preocupada quando as meninas saíram, se sentando na minha frente, acariciando o meu rosto levemente antes de ficar completamente parada, poderia se passar anos mas eu nunca havia me acostumado com os seus momentos de visão, ainda era estranho, mas sempre passava um leve conforto assim que os seus olhos voltavam para os meus, só que daquela vez a sua visão demorou mais do que o normal, me fazendo ficar assustada.
- Jennie... - ela sussurrou surpresa voltando a me encarar.
- O que foi? O que você viu? Tem haver com as gêmeas? Elas estão bem?
- Elas estão bem - assentiu - O seu vazio, Jennie... - ela sorriu - O seu vazio será preenchido em breve - concluiu se levantando, vi quando ela sumiu pelo o corredor me deixando sozinha com os meus pensamentos frequentemente confusos - Nesse sábado, iremos fazer a festa de aniversário das gêmeas nesse sábado.
- Mas o aniversário delas cai na sexta.
- Eu sei, mas tem um motivo pelo o qual será no sábado, não acredita em minhas palavras?
- É claro que eu acredito, Eli... - sorri inclinado o meu rosto assim que a sua mão descansou em minha bochecha.
- Aquelas duas estão te deixando exaustas não é?
- Nem me fale, eu achei que a fase dos dois anos passaria, mas parece que as acompanhou até agora, só espero que quando começarem a escola essa energia diminua um pouco.
- Elas ainda te darão muito trabalho, Jen, principalmente Stacy, você já sabe disso.
- Sim, mas porque será que ela é assim? Sarah é tão quieta e Stacy é tão... intensa!
- É a personalidade, Jennie... e ela tem a quem puxar essa personalidade...
Eliza soltou a frase me deixando mais perdida ainda, aquele assunto... não era um assunto no qual eu gostava de tocar... eu preferia não tocar pois me magoava, me magoava não saber quem era o pai das duas, e sempre mudar de assunto quando alguém ou uma delas me perguntavam sobre.
Eu simplesmente não sabia...
- Em breve, Jennie, todas as suas dúvidas serão tiradas, e você vai perceber que tudo em algum momento irá fazer sentindo e você se sentirá completa novamente.
- Ah suas pestinhas!
- MAMÃE, FALA PRO TIO KAI NOS COLOCAR NO CHÃO! TIO KAI COLOCA EU NO CHÃO AGORA! EU ESTOU MANDANDO! E SE STACY ESTÁ MANDANDO É PORQUE VOCÊ TEM QUE FAZER!
- Ah é? Agora que eu não te coloco no chão - Kai gargalhou colocando Sarah no chão e correndo pela sala com Stacy como um saco de batata em seus ombros - AI, AI, AI! Espera, não precisa me morder, Stacy, seus dentinhos pequenos dói sabia?
- Bem feito, quem mandou desobedecer Stacy Kim! Teve o seu castigo!
- Você está triste, mamãe? - Sarah perguntou escalando até ficar em meu colo e me olhar profundamente - Seus olhos de chocolate estão tristes... porque está triste?
- Não estou triste, meu amor - sorri tirando os fios que estavam em seu rosto - Olhos de chocolate é?
- Sim, os seus olhos são de chocolates e os meus e o de Stacy são de folhas verdes escuros, porque nossos olhos são diferentes, mamãe?
- Porque...
- Porque nem todo mundo é igual, pestinha, e é normal os seus olhos e os olhos da sua irmã serem diferentes dos olhos da sua mãe, não é, Jen?
- É... é, o tio Kai está certo - sorri pro meu melhor amigo que apenas bagunçou o meu cabelo com o seu carimbo desajeitado no topo da minha cabeça.
Após cortar algumas cenouras, me sentei junto as gêmeas na mesa servindo seus pratos podendo relaxar naquele segundo, eu sentia que estava muito quieto e quando isso acontecia é porque uma das duas me faria uma pergunta completamente difícil. Elas se entreolhavam, mordia os lábios e vez ou outra olhavam para mim, e eu conhecia muito bem aquele olhar.
- Vamos lá, o que querem perguntar? - falei arqueando uma sobrancelha.
- É que... - Sarah começou remexendo o purê de batata que estava em seu prato, Stacy incrivelmente estava quieta então eu apenas aguardei - Mamãe, porque as outras crianças da vila tem um papai e uma mamãe, e a gente só tem você? Quem é o nosso papai?
- Para de perguntar essas coisas, Sarah, a mamãe fica triste todas as vezes que falamos sobre isso, você ainda não percebeu?
- Eu só... queria saber...
- Não precisamos de um pai, mamãe Jen já está de bom tamanho!
Suspirei perdendo a fome no mesmo segundo mas ficando ali até que elas acabassem. O banho foi quieto, Sarah ainda estava com aquele ar questionador e Stacy com a sua cara ameaçadora para irmã, lavei seus fios acastanhados quase pretos e em pouco tempo estávamos em meu quarto.
- Stacy, pare de olhar desse jeito para a sua irmã.
- Ela te deixou triste, mamãe! Eu não vou deixar que ninguém te deixe triste!
- Eu não queria te deixar triste, mamãe... desculpa...
- Está tudo bem, filha, a mamãe não está triste, não se preocupe certo? Agora desmancha essa cara, Stacy, e vai fazer xixi antes de dormir, você também, Sarah.
Deixei que as duas dormissem comigo naquela noite, estava frio e mesmo com aquecedor levaria um tempo até nos esquentarmos, olhei para as duas, acariciando os fios de Stacy que de repente abriu um dos seus olhos e se sentou em meu colo.
- Era pra estar dormindo - sussurrei sorrindo assim que ela me deu um forte abraço.
- A senhora também deveria estar dormindo, mamãe. Porque está triste?
- A mamãe já falou que não está triste e que está tudo bem.
- Tá, tá, você vai ficar mentindo pra mim, eu já entendi - murmurou abrindo a gaveta da minha cama e tirando dali um pequeno bombom - Eu peguei da casa da vovó, iria comer quando vocês duas estivessem dormindo, mas você precisa dele mais do que eu agora, boa noite, mamãe, eu amo você.
O chocolate amargo se desmanchou na minha língua e eu achei aquilo... tão familiar, aquele gosto de algo já vivido... tão conhecido e confortante, mas porque? Era um simples chocolate amargo.
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1996 - Never Look Back (Segunda temporada)
Fanfic- Por favor... por favor tente... tente se lembrar... - Me perdoe, mas... eu não consigo...