Dakota Pavlova é a mulher mais forte do mundo e mais bela também, finalmente ela apoia a cabeça em meu ombro, que pesa ainda mais, e finalmente sua respiração se acalma, tranquiliza e para ela, no momento, o mar está tranquilo, suave e misericordioso. Fecho a pequena cortina da janela fechada do ônibus e respiro aliviado assim que ele começa a andar.
Minhas mãos tremem levemente e o remédio que Juan me deu finalmente começa a fazer efeito, suspiro fundo e escorrego um pouco no banco para Dakota ficar mais confortável em meu ombro. As armas na minha cintura começam a incomodar, mas não posso arrumá-las agora, ainda estamos expostos. Não deixo de notar os olhares curiosos para nossos machucados quando entramos no ônibus, mas ninguém nos impediu e não identifiquei nenhum soldado por aqui.
Dakota se encaixa mais em meu ombro e sinto seus fios deslizando em meu pescoço suado. Encaro o banco a minha frente e meu suspiro de alivio sai sem pressa, meu coração desacelera ao constatar que por algumas horas, tudo está bem com a gente. Não corremos perigos aqui e podemos aproveitar essas horas dentro do ônibus para nos acalmar e descansar, seguro as lágrimas de escorrer, mas as permito assim que percebo que esse será o melhor momento para elas se libertarem de mim.
Não posso nem pensar em demonstrar para Pavlova esses sentimentos que carrego, não posso piorar nossa situação, não posso estragar o seu autocontrole.
As lágrimas deixam meus olhos sem pressa, percorrem meu rosto acariciando-me e se separaram aos poucos, sinto gotas em minha mão, outras descem para meus lábios e é impossível não sentir o seu salgado único, outras aglomeram em meu queixo, mas não caem, apenas se equilibram em minha pele, sem medo de cair.
Fungo em silêncio, não tento limpar meu rosto, porque as lágrimas estão longe de acabar ainda, apoio minha cabeça levemente na da russa e não me importo de sentir as lágrimas em meu queixo migrando em minha pele e caindo na cabeça da garota. E em meio a mais choros e soluços silenciosos e cautelosos, adormeço. Por um momento breve e utópico, desejei não acordar.
*
Agora é a vez de Dakota agarrar meu pulso e me guiar, ela encara as ruas agora escuras com cuidado, sinto-me perdido, mas não transpareço. Sigo-a como se ela fosse a única que conseguisse iluminar meu caminho. É engraçado pensar que ela, no momento, realmente é a única que consegue acender a luz da estrada da minha vida.
- É aqui – Ela sussurra e encara um grande portão branco, ela não precisa apertar o interfone, apenas digita uma senha em números que não me importei em prestar atenção e a porta se abre no segundo seguinte que ela aperta o botão 'ok'.
Assim que entramos somos recepcionados por uma arma em nossas cabeças e é impossível não rir, Dakota bufa ao meu lado e segura o cano da arma em sua testa.
- Eu que pago por esse lugar e é assim que sou recebida? – Encaro-a confuso, mas nada digo, por enquanto, sua voz fica prepotente em russo, encaro as expressões sérias dos homens armados em nossa frente e eles sorriem para a garota no segundo seguinte, o abraço caloroso me faz ficar ainda mais confuso – Não vão nos procurar aqui – Ela diz olhando para mim e abraçando mais um cara – Estamos na minha casa.
Finalmente entendo, esse era o esconderijo fixo da garota quando ela estava fugindo das duas máfias. A casa começa mais ao fundo, subimos um pouco até finalmente chegarmos a porta da casa, o lugar parece uma casa normal, garagem, jardim, arquitetura italiana, mas assim que adentro o lugar, percebo que não há nada de normal e comum por aqui.
Os computadores são os mais novos já criados e todos estão passando uma cena diferente, identifico as câmeras da rodovia de hoje mais cedo e meu coração acelera, os homens de Dakota estão nos monitorando, estudando as abordagens da Cosa Nostra para nos capturar, estão nos aprendendo. Encaro a loira e ela me encara com pesar no olhar.
- Me apaixonar por você não estava nos meus planos – Sua unha acaricia meu rosto com delicadeza, alguém chuta a parte de trás das minhas pernas e meus joelhos doem ao baterem contra o chão, seu olhar de oceano e suas expressões delicadas foram as últimas coisas que vi, senti uma pontada na cabeça, mas não fiquei consciente por muito tempo para sentir a dor invadir todo o meu corpo.
É como eu disse, não se trata de amor, mas também não se tratava de apoiarmos um ao outro por sermos nossas únicas esperanças. Pelo menos não para Dakota.
Seu miniexército, que parece não ser tão mini, estava acompanhando-a o tempo todo e se ela quisesse mesmo escapar, não precisaria da minha ajuda. Sentindo a dor da pancada e com minha consciência finalmente retornando à ativa, percebo que eu só fui uma parte do plano de Dakota, um experimento muito bem concluído. Uma caixa de informações sobre estratégias, formas de pensar e agir da Cosa Nostra, Dakota soube me ministrar direitinho.
A luz do quarto se acende sem aviso e encaro as madeixas louras da russa, seu perfume exala no quarto e ainda com dificuldade para abrir os olhos completamente, encaro-a apenas com a gretinha que abri. Ela agacha na minha frente e forço meus olhos a abrirem totalmente, seu sorriso simples não me enoja como deveria, talvez se trate de amor, no final das contas.
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A Máfia - Soldado Renegado
RomanceHernanez Lancellotti encantou os corações de todas as leitoras no primeiro livro de A Máfia, mas ele tem sua história para contar, seus segredos para esconder, seus ideias para omitir e os amores proibidos que o perseguem. Hernanez não é só um simpl...