- Não faz sentido – Dakota sussurra, reviro os olhos novamente.
- Você não pode só prestar atenção no filme? – Encaro a mulher, seus olhos brilham até no escuro.
- Mas é que não faz sentido, ela encontra uma caixinha escondida há 40 anos – Dakota começa exasperada – No banheiro! – Ela quase grita – E quer entregar ao dono?
- Eu acho que você não está entendendo o proposito dela – Suspiro cansado encarando a mulher na tela da televisão.
- O que eu não estou entendendo? Me explica.
- Assiste que você entende – Volto a encarar a loira ao meu lado, ela revira os olhos, morde o lábio contrariada e volta sua atenção para o filme francês na televisão.
- Ninguém faria o que ela está fazendo – Dakota sussurra.
- Olha o começo desse filme, o jeito que o diretor produziu, ele não é normal, óbvio, mas é um bom filme – Observo a garota bufar ao meu lado e volto a prestar atenção em Amélie na TV.
Viajaremos para o próximo destino amanhã, quando o dia amanhecer, deveria estar dormindo agora, mas a loira insistiu em assistir algum filme e não foi uma má ideia no início. Não poderia estar mais enganado, a mulher não parou de falar por um segundo, criticou o filme do começo ao fim e ainda teve a cara de pau de falar que adorou o enredo, minha cabeça lateja. Definitivamente, não tenho paciência para essas coisas.
Acompanho Dakota até seu quarto e ela se despede com um aceno, nos aproximamos nesses dois dias juntos, óbvio, só temos a companhia um do outro e de Quinn, já que agora faz parte da nossa rotina treinar. Mas não posso dizer que somos amigos, ela não confia em mim, tampouco eu confio nela, não deveríamos nos aproximar assim.
Aconchego no colchão, já pronto para tentar dormir, e encaro o teto, suspiro cansado e observo minha mala já pronta no canto do quarto, será que eu esqueci alguma coisa? Levanto depois de 2 minutos de preguiça e encaro as coisas dentro da mala, tiro algumas peças, observo as coisas ali dentro e volto com as peças, tudo certo. Alcanço a arma ao lado da mochila ao escutar discretos barulhos no corredor, ignoro minha imprudência pela falta da blusa ou de um colete e saio do quarto, eu preciso andar sempre com um colete do lado, eu sei disso, mas nunca lembro de pegar.
A porta do quarto de Dakota está aberta, minha respiração acelera, foi sequestrada? Pode ter fugido. Pode estar tentando achar algum telefone para chamar alguém. Pode estar morta agora. Ignoro meus pensamentos e com cuidado, com a arma erguida, esperando apenas um alvo, sigo pela casa, vasculhando o lugar, procurando pistas, vozes, passos, procurando madeixas loiras por aí. Eu não posso perder essa mulher.
- O que você está fazendo? – Seu cenho está franzido, suspiro aliviado quando finalmente adentro a cozinha, checo o local para ter certeza que não tem mais ninguém aqui – Será que dá para parar de apontar essa arma para mim agora? – Ela pede, travo a arma e descanso-a no balcão atrás de mim.
- O que está fazendo? – A mulher levanta o copo vazio e a garrafa de água, reviro os olhos e suspiro, eu odeio a tensão que esse trabalho me traz.
- Você está paranoico – Ela sussurra e revira os olhos também – Quer água? – Assinto e observo-a pegar outro copo, sua camisola é num rosa claro engraçado, eu acho, está escuro demais para eu ter certeza de algo – O que? – Ela percebe que seguro a risada.
- Nunca que ia imaginar Dakota Pavlova de rosa – Ela encara o tecido no corpo e me encara novamente.
- Você nunca viu isso, entendeu? – Ela aponta e coloca a água no copo para nós, não seguro mais a risada – Para! – Seu tapa em meu braço é brincalhão e isso é algo que não deveria parecer tão natural – Eu vou espalhar para todo mundo que te ganhei na luta duas vezes seguidas.
- Você não ousaria – A risada some de mim, ela ergue a sobrancelha, desafiando-me – Eu nunca vi você de rosa em toda a minha vida – Ela assente concordando e me entrega o copo com água, não demoro para beber todo o líquido, seu olhar desce em meu corpo.
- Você ia enfrentar o inimigo sem colete ou blusa? – Sua língua hidrata seus lábios, ela volta para onde estava e bebe sua água.
- Eu estava um pouco apressado – Deixo o copo na pia e volto a escorar no balcão, encaro minha arma ao meu lado.
- Para me proteger? – Não respondo, é o melhor a se fazer, ela sorri – Fofo, você é um encanto, grandão – Reviro os olhos, ela gargalha – Eu deveria te chamar toda vez que gostaria de beber água? Para você me acompanhar?
- Eu agradeceria muito se fizesse isso – Ela revira os olhos.
- Você disse que não era meu segurança – Ela encara a unha – É minha sombra, então? – Reviro os olhos.
- Só estou fazendo o meu trabalho – Ela aponta para mim, curiosa, deixa o copo ao lado do meu e vem em minha direção.
- Sobre isso, qual o seu trabalho afinal? Já que não é meu segurança.
- Sou seu acompanhante – Digo a primeira coisa que vem na minha cabeça – Os Soldatos lá fora são seus seguranças, mas não podem conversar com você.
- Você é o único que tem permissão para conversar comigo? – Ela pergunta, mesmo já sabendo a resposta, assinto – Gusman é um fofo, trouxe você para eu não ficar 100% sozinha – Ela ironiza, seu corpo encosta no meu, não é de uma forma sexual, acho que ela nem percebeu que está tão perto assim – Não preciso de acompanhante – Seus olhos enfurecem, seu tom está embebedado de uma fúria estranha, sinto quando os bicos de seus seios endurecem – Já passei tempo demais sozinha, ficar mais um mês assim não mudará nada.
- Eu só estou seguindo ordens – Preciso abaixar a cabeça para encara seus olhos furiosos – Serei seu acompanhante, você querendo ou não – Sinto seu corpo ainda mais colado no meu, minha respiração falha por um segundo, ela pode estar me testando.
- É, seguindo ordens – Seu sussurro bate em meu peito quando ela deixa de encarar meu rosto, suas mãos vão de encontro seu cabelo e ela se afasta, respiro sem problemas agora, seu pescoço está vermelho, ela realmente estava furiosa e isso me fez ficar curioso.
Dakota tem uma história muito mais complexa do que eu sei, eu já sabia disso, mas não pensei que fosse me interessar assim. Coço minha nuca e ela pega o copo da pia, observo-a encher o recipiente com água de novo e beber tudo em um segundo.
- Gusman cumpre os acordos dele, não cumpre? – O medo em sua voz me faz esquecer toda a fúria de alguns segundos atrás.
- Eu nunca o vi não cumprindo – Ela assente e dá batidinhas em meu peito ao passar por mim.
- Boa noite, grandão.
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A Máfia - Soldado Renegado
RomanceHernanez Lancellotti encantou os corações de todas as leitoras no primeiro livro de A Máfia, mas ele tem sua história para contar, seus segredos para esconder, seus ideias para omitir e os amores proibidos que o perseguem. Hernanez não é só um simpl...