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Encaro a loira ao meu lado, na primeira vez ela demorou algumas horas antes de passar para o banco da frente, mas hoje não deu nem 5 minutos. A mulher fala e fala e o episódio da noite anterior toma conta da minha mente por completo, nem percebi quando gritei minha pergunta, mordo o lábio em seguida, Dakota me encara com os olhos arregalados pelo susto, estava absorta demais falando, que não esperava meu pequeno surto.

- O que? – Seus lábios tremem, encaro a estrada e passo a língua pelos meus lábios, acho que fiz merda.

- Eu quero saber sua história, Dakota – Evito seu olhar e escuto-a raspando a garganta, pigarreio e aperto o volante em minha mão, fiz muita merda mesmo.

- Por quê? – Sua pergunta sai num sussurro, acho que ninguém nunca mostrou interesse pela sua versão da sua história antes, subo os ombros.

- Curiosidade – Eu sei que não é só por isso, mas limito-me, ao menos não estou mentindo.

- Você disse que não se importa – Suspiro.

- E não me importo mesmo não, por isso que você pode me falar, não vou fazer nada que você não queira com as informações – Ela me avalia e senta direito ao meu lado.

- Você vai me contar a sua história também?

- Não tenho muito o que falar, mas tudo bem.

- Eu acho que você tem muita coisa para falar – Encaro a garota, seus olhos estão cravados no painel do carro, suspiro fundo.

- Tudo bem – Ela remexe no banco e encara a janela.

- Acho que você deve saber que meu pai tramou contra mim – Seu sorriso é amargo, foco no trafego tranquilo a nossa frente – Ele era um machista, não me queria como Don da San Andrey – Ela revira os olhos – Mas nunca teve coragem de me falar, agora fazer um acordo com um associado italiano? Para isso ele tem coragem? – A mulher desdenha, mas logo volta a seriedade.

"Apesar da maioria da minha famiglia ser machista, eles são totalmente devotos as nossas tradições e meu pai sabia disso, ele sabia que se tentasse me tirar do meu cargo sofreria com isso. Então ele fez um acordo com um associado, não poderia ser um associado russo, por causa da devoção às tradições, então ele escolheu a Itália, porque Gusman e meu pai sempre foram muito amigos."

"Meu pai arquitetou o plano por anos, eu sempre percebia olhares estranhos de algumas pessoas, mas nunca liguei muito, depois fui descobrir que meu pai contou para seu Consigliere que eu estava namorando um italiano associado, a notícia correu rápido nos ouvidos de todos, menos nos meus – Ela bufa cansada, sobe a perna, mas volta a perna para o chão do carro novamente – Quando ele morreu, Yan veio me ver pela primeira vez, mostrou o acordo de sangue que meu pai fez com ele – Sinto meu ombro se encher pela tensão, esse é o acordo mais poderoso e respeitado por todos os mafiosos, quando as guerras entre as máfias eclodiram, apenas o acordo de sangue resolveu o problema. "

- Você não poderia fugir – Concluo o óbvio, ela respira fundo e assente.

- No acordo, eu me casaria com Yan e ficaria com ele até finalmente dar um herdeiro para ele – A loira parece querer vomitar – Depois eu poderia ficar livre, eu fiquei pensando em alguma forma de voltar a ser Don, mas depois de uns 3 meses só queria minha liberdade de volta. Yan é um poço de merda – Ela suspira e balança a cabeça, como se repelisse as lembranças, não a julgo – Tive sorte de ter tido Owen de primeira – Seu olhar entristece, seu tom é mais baixo, tento prestar mais atenção no trafego que nela – Depois que ele nasceu eu nunca mais vi ele, não me deixaram.

- Eles pensaram que você poderia fazer a cabeça do menino? – Observo-a assentir, é por isso que eu não gosto de fazer parte dessas coisas, por isso que não gosto de saber os detalhes, as ideias, é tudo muito errado demais.

- Quando eu comecei a dar problema, Yan decidiu que me matar seria o melhor a se fazer, até porque ainda sou a Sottocapo, sou perigosa demais viva e valiosa demais morta – Dakota raspa a unha na carne de seu dedo, seguro para não pegar sua mão – Então, Gusman me achou, eu ia fugir de novo quando ele me encontrou, achei que estava do lado de Yan – Ela revira os olhos – Mas Gusman é mais um Don fominha mesmo – Sua risada é sarcástica – Fizemos um acordo.

- Gusman gosta de acordos.

- E eu que sei – Ela ri sem humor – Como Owen ainda não tem idade para assumir o posto como Sottocapo, se Yan morrer, eu assumo o lugar, esse é meu acordo com Gusman, ele mata Yan, eu assumo meu cargo de nascença e me associo quase que completamente com a Cosa Nostra e tudo fica bem, posso ter meu filho de volta e minha liberdade também – Ela suspira fundo depois de despejar tudo, observo uma gota solitária cair de seus olhos, mas não falo nada, não posso falar.

- Eu sinto muito.

- Não sinta – Ela diz rápido demais – É assim que as coisas funcionam no nosso mundo, ainda não se acostumou?

- Não gosto de pensar muito nisso, então não.

- Ah é! – Ela não está tão animada quanto quer parecer – Esqueci que você é o renegado, você disse que não escolheu fazer parte disso – Ela me incentiva a falar.

- Meus pais eram associados – Começo, mas paro de falar assim que avisto um posto de gasolina – Eu preciso encher o tanque, te conto daqui a pouco – Observo-a assentindo e viro o volante para poder entrar de vez no posto.

Sair do carro foi como sair debaixo d'água, não sabia que estava sendo sufocado desse jeito. Dakota é uma mulher forte, não posso deixar de perceber, mas sua pergunta de ontem a noite me deixa reflexivo. Gusman cumpre seus acordos? Eu não tenho mais certeza da minha resposta, realmente nunca vi ele não cumprindo, mas ele não deixa pontas soltas, não é seguro deixar a russa viva, ela sabe bem disso, mas mesmo assim, ainda está aqui. Acho que não tem nenhum lugar melhor para ir. Não tem onde se esconder, estremeço.


 Não tem onde se esconder, estremeço

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A Máfia - Soldado RenegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora