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O silêncio me deixa receoso, não podemos confiar no silêncio. Estendo a mão com a palma fechada e encaro o soldado a minha frente, ele é novo demais, não deveria estar aqui, não deveríamos nos arriscar com os mais novos. Solto uma respiração longa, esvazio a mente e sou o primeiro a sair detrás da parede, seguro a arma de forma correta, posiciono o dedo no gatilho e miro antes de atirar, avalio antes de matar, respiro fundo e faço tudo de novo, até a missão estar completa.

*

Aconchego no banco de trás da TrailBlazer preta e encaro senhor Cambonelli com cuidado, ele não parece satisfeito com o conteúdo que tem no pen drive e isso vai sobrar para mim. Já me acostumei. Aperto minha barriga, onde a ferida ainda está aberta e passo a língua pelos meus lábios.

- Foi só isso que acharam? – O Don me encara, volto a ficar ereto, ignoro a dor da minha ferida.

- Não, senhor – Minha voz sai mais rouca que o normal, mas ignoro isso – Pegamos o computador também, já está nas mãos dos nossos hackers, extrairemos mais informações em breve – Observo o homem fechar a tela do notebook em seu colo, ele me encara crítico, como sempre – Temos informações do paradeiro da filha dele, senhor – Meu tom sai frágil, mas senhor Cambonelli não parece se importar, não percebeu, Dakota Pavlova é um assunto complicado demais.

- Acharam ela? – Gusman me encara novamente, absorto em seus pensamentos não espera minha resposta, ele sabe que achamos a garota, escuto o homem ao meu lado suspirar fundo, ele volta a me encarar – Onde ela está?

- A caminho – Observo seus pelos se arrepiarem, seu sorriso é mínimo, Gusman é como um pai para mim, se eu olhar com cuidado para nossa situação.

- Seguro? – Observo o homem passar a mão pela cicatriz em seu rosto.

- Seguro.

- Campa Cavallo, Soldato – Beijo o anel em seu dedo e observo-o sair do veículo, só então tenho permissão para deixar o automóvel.

- Campa Cavallo, Don – Sussurro para ninguém, arrasto-me e recebo a luz da lua ao deixar o carro para trás, aperto minha ferida com força e permito que o menino novo me leve até a enfermaria da mansão, da sede.

Senhorita Quinn me encara triste observando minha leve dificuldade para andar, ela está cansada de me ver aqui, está cansada de cuidar de mim, cansada de me reparar, mas não me importo, quem está cansada é ela, não eu. A mulher suspira dramática e vem até mim assim que sento na costumeira maca.

- Você por aqui de novo – Ela começa e sorrio maldoso.

- Disse que não daria tempo de sentir saudade – Observo-a revirando os olhos e tiro o paletó e a camisa, ela não se surpreende mais com nossos ferimentos, já viu coisa pior por aqui.

- Eu já aceitei que nunca sentirei sua falta mesmo – Ela entra na minha brincadeira e isso me faz rir, mas paro no segundo seguinte, é bem dolorido levar uma facada, encaro suas madeixas ruivas querendo sair da touca e seu cenho se franzir – Está profundo – Ela diz para ninguém – Mais do que o normal, que cor é essa? – A mulher continua comentando sobre minha ferida para ninguém em especial, ela sempre faz isso.

Como também de costume, não sou avisado quando ela passa um líquido na ferida, ardendo tudo até minha alma, pressiono meus dentes um no outro e consigo sentir as veias em meu pescoço querendo explodir, seguro o grito dolorido. Ferimentos simples não são necessários equipamentos complicados, são as regras, a anestesia em meu corpo quase não faz efeito e sinto quando a agulha entra e sai em meu corpo repetidas vezes até que o ferimento esteja saturado.

Quinn levanta da cadeira e me encara, limpa os pequenos rastros de lágrimas que nunca consigo impedir e sorri, eu gosto do sorriso dela.

- Tente não voltar tão cedo, tá legal? – Sua mão desce para o corte de alguns dias atrás, não costumo cuidar dos meus ferimentos depois de levar os pontos, mas a ruiva me obriga a ter cuidado, sua mão quente deixa meu corpo e finalmente posso colocar minha camisa e meu paletó novamente.

- Eu não prometo nada – Digo por fim, deixo um sorriso amigável para a médica e sigo para meu alojamento.

Apenas os Soldatos iniciantes ficam aqui, treinando e protegendo a sede da máfia, eu posso ter meu próprio apartamento, em um prédio no centro, todos os inquilinos de lá são Soldatos, soldados com família, apesar de Gusman ter me dado um apartamento, não tenho família para dividir o lugar. Prefiro ficar aqui, treinando os mais novos, mais perto do meu Don. Fiquei fora por dois dias, na missão do pen drive, às vezes não consigo acreditar que dou minha vida por coisas tão pequenas, por coisas tão erradas.

A água percorre meu corpo, passa pela sutura recente e arde, mas não me importo, nunca me importei de verdade com a dor.

Meus pais eram associados da máfia, eu queria ser policial, cheguei a ser policial, mas não era confortável mentir para o meu juramento, jogá-lo no lixo, não poderia deixar a máfia, mesmo não tendo sido eu a me associar a ela, então decidi jurar a ela, ao menos não estaria jogando ele no lixo.

Observo meus olhos cansados pelo espelho, faz dias que não durmo, todo mundo precisa descansar. Sem fome, apago a luz e deito confortável na cama, eu não gosto do escuro, eu não gosto de muita coisa, na verdade, mas não vivemos apenas com nossos gostos, me obrigo a me afundar na escuridão fechando os olhos e adormecendo.

Eu nunca tenho sonhos bons.

PS: Ainda não comecei as postagens, mas tô colocando esse primeiro capítulo para vocês verem como que será, ok?

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A Máfia - Soldado RenegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora