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- Então? – A loira ao meu lado instiga novamente, já estamos de volta para a longa viagem até a casa no interior.

- Ah sim, minha história não é nada demais – Suspiro, ela me encara com cuidado, eu apenas foco na estrada vazia a nossa frente, apenas dois carros vêm atrás de nós, os outros foram para o interior ontem à noite – Meus pais eram associados, tínhamos uma empresa, éramos sócios de Gusman, senhor Cambonelli contava muito com a gente, acho que por isso fui praticamente criado na mansão principal da Cosa Nostra – Me recordo de brincar, treinar e fazer tudo com Christovan, éramos tratados como irmãos – Eu não tive muita escolha de vida.

- Geralmente, é assim que acontece – Concordo com a cabeça, a garota continua me encarando e isso me deixa levemente desconfortável.

- Eu tinha uns 13 anos quando meus pais morreram, Tempest – O pescoço da loira fica vermelho, percebo, temos inimigos em comum, Christovan vem na minha cabeça, mas o faço evaporar – Gusman pegou para me criar, ele não era um pai muito bom para o Chris, você sabe disso, mas não porquê queria, ele achou que ajudaria Christovan assim, então ele transferiu o amor para mim.

- Christovan te vê como um irmão – Ela diz para si mesma – Eu teria ficado com ódio de você.

- Christovan é uma pessoa bastante sensata – A loira assente.

- Mas não estamos falando do Chris agora – Suspiro – Continua.

- Eu novamente não tive escolha de vida – Seguro a risada – Mas era orelhudo, escutava muitos acordos, muitas ideias, muitas missões, escutava tudo e eu já estava grandinho para saber que aquilo tudo era errado, que isso tudo é errado, mas como eu disse, eu não tive muita escolha de vida. Então, eu descobri que poderia entrar para a polícia, pensei que mesmo envolvido com a máfia poderia devolver alguma coisa de bom para a sociedade, eu gosto de cumprir com meus juramentos e não estava cumprindo com o juramento da polícia.

- Então você decidiu sair da polícia – Assinto e ela assente também, organizando as ideias em sua cabeça, aparentemente.

- Isso, se eu tenho que jurar a algo, melhor fazer isso sem mentir demais – Seu olhar é confuso em minha direção – Gusman me deu todas as oportunidades de subir de cargo, caso eu queira, ainda tenho essas oportunidades, mas prefiro apenas fazer parte da ação, não gosto de saber o que estou fazendo – Sua confusão é ainda maior, mas ela não fala nada – E é isso, eu sou um pouco renegado sim, mas já aceitei, sabe?

- Sei, mas acho que você não aceitou não – Ela se limita a isso e eu também não falo nada, eu sei que não aceitei, mas ela não precisa saber disso por mim.

A noite chegou lentamente, ambos afogando em seus próprios pensamentos, não vi o momento que Dakota dormiu, mas me senti mais tranquilo por não precisar me policiar a todo momento. A loira respira tranquilamente, sua testa escorada no vidro, ela abraça seu joelho e aparenta está numa posição até que confortável, encaro a pista escura a minha frente, suspiro sôfrego e deixo minha mente me levar.

Dakota realmente é um ímã, porque meus pensamentos estão me fazendo viajar nela, nas suas palavras mais cedo, sua boca, seu corpo, seus medos, suas falsas reações, seus diferentes sorrisos. Nela por um todo, estou ferrado pra caralho por ter simpatizado com ela. Já não basta ser renegado, tinha que começar a gostar dela também, reviro os olhos.

Alguns soldados nos esperavam do lado de fora quando chegamos, a garota dorme ainda, acho que não vai acordar tão cedo, não quero acordá-la. Deixo o carro e converso com soldado Rahal sobre a segurança do local e além de receber informações sobre todo o perímetro do sítio, sou informado sobre a casa também. Observo alguns curiosos erguer o pescoço para ver a russa dormindo e seguro a risada, todos sabem que Dakota é assunto proibido desde sempre, nunca estiveram na presença dela desse jeito, é como uma celebridade.

- Vai acordar ela? – Rahal pergunta passando a língua sob os lábios, ele esfrega uma mão na outra.

- Ela nunca dorme muito bem – Informo cauteloso – Não ia querer que me acordasse quando finalmente conseguisse dormir – Ele estapeia meu ombro em compreensão e dispersa os outros soldados, abro a porta com cuidado e coloco a loira em meu colo com delicadeza, a lentidão me deixa estressado, mas não ligo.

Dakota é pesada, mas não me importo, ignoro os olhares atentos dos soldados e sigo até a casa principal, aqui também há duas casas, mas seu estilo é mais rústico e interiorano em comparação com a casa na praia, óbvio. Subo as escadas da casa e abro a porta do quarto que Dakota vai ficar com certa dificuldade, coloco ela na cama devagar, estranho ela ainda não ter acordado, lembro que disse que tinha sono leve.

- Obrigada por me trazer, estava com preguiça mesmo – Sua voz está rouca, como sempre, e humorada – E parabéns, nem tremeu – Ela diz apertando o músculo em meu braço.

- Tá de sacanagem? Você é pesada – Ela me encara ofendida.

- Você quem quis me carregar – Ela se ajeita como quer na cama, suspiro fundo e fico ereto novamente, minhas costas estralam.

- Não queria te acordar – Reviro os olhos.

- Acabei de ter um deja-vu – Ela ri, ignoro a garota e dou meia volta – Obrigada, grandão – Bufo cansado e sigo para o quarto que foi preparado para mim, minhas coisas já estão no armário, ficaremos mais dias aqui, Philip me mandou uma nova planilha hoje mais cedo.

Não há muito o que fazer por aqui, não sei o que Dakota inventará dessa vez, acho que ela não vai conseguir pensar em nada. Agradeço a Deus silenciosamente por isso.


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A Máfia - Soldado RenegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora