Prelúdio de Guerra

519 53 16
                                    

Capítulo 2

Na aldeia dos Mandan, os sete guerreiros se reuniam ao lado de Witchashawakan, Tokalah ainda com o corpo muito dolorido, lábios secos  falava aos outros sobre o entendimento que teve de sua visão, sob o olhar atento do jovem pupilo Enepay e dos guerreiros guardiões ao seu lado. 

— As palavras de Lua Negra, são sussurradas pela vingança, o grande chefe, seu pai foi morto pelos waikiki*, e ele tem sede de seus inimigos. Nossos ensinamentos dizem que se deve evitar a guerra, mesmo sendo guerreiro. Os wakiki, estão longe, estamos seguros. Porque levantar a fúria dos homens de olhos de água se unindo a Crazy Horse? — Diz Maralah, o mais velho dos sete. 

 — Meu pai, foi bravo guerreiro, ele protegeu seu povo e morreu por ele. Eu não teria aprendido nada, se buscasse vingança contra os wakiki. Mas nós vimos o que eles fizeram com os Crows, vimos o que fizeram com nossos guerreiros. Eles e suas carroças, suas pistolas de fogo, eles trazem a destruição, obrigam nossa gente a viver com fome. Há anos rumamos a oeste, deixando nossas terras férteis para trás, somos assolados por invernos de fome. Essa é a nossa terra, dada pelo grande espírito e não podemos deixar que nos expulsem dela. — Tokalah insiste tentando impor a voz, mesmo que a dor lhe tire o fôlego por algumas vezes.

 — E acha que se unir a Crazy Horse vai mudar algo? Os olhos d’agua só criarão mais ódio pelo nosso povo. Eles virão até nós, mataram nossas esposas e crianças, como fizeram com os Crows, manter a distância tem sido nosso escudo por anos. 

— E como fizeram com os Hopi, esqueceram? É isso que os brancos fazem, irritando eles ou não. Cedo ou tarde alcançaram essa aldeia,  queimaram suas tendas com seus bebês dentro enquanto estupram suas esposas e filhas. É isso que verão se continuarmos escondidos como animais doentes  —  Diz o garoto se levantando ao meio do círculo.

Enepay, tinha treze anos, longos cabelos negros, corpo forte e olhos verdes. Muito cedo conheceu as mazelas da vida, seu povo Hopi, foram praticamente dizimados pelos wakiki e durante a batalha, sua mãe fora  capturada e estuprada por soldados.  Mesmo com os esforços dela para evitar que o mestiço nascesse, Enepay sobreviveu, cresceu na taberna de Charlottetown, onde sua mãe se prostituía por tostões e foi abandonado nas margens do rio com pouco mais de sete anos, assim que ela morreu depois de ser agredida por um cliente. Tokalah, encontrou o menino e este foi  adotado pelo seu pai e agora, dedicava parte de seu tempo a ensina-lo a tornar-se um guerreiro e quem sabe um dia líder dos Mandan. O mestiço aos poucos, aprendeu a língua dos Mandan e tornou-se útil por também possuir a língua dos brancos, intermediando pequenas negociações com garimpeiros e viajantes.

 — Cale a boca mestiço. — Retruca um dos guerreiros que é fulminado pelo olhar forte de Tokalah que retrucou rapidamente dizendo que Enepay era seu irmão.

 — Já chega! O menino tem razão. 一 Diz o Witchashawakan. Cedo ou tarde, eles chegaram até nós. Nosso povo viveu em paz por centenas de anos com os Crows, Sioux e Lakotas. Somos agricultores, não conhecemos a arte da guerra como nossos irmãos, mesmo evitando conflito com os waikiki nossas perdas foram irreparáveis.

— O Vale nos protege agora, não há como chegarem ate nós sem que os avisaremos a distância. Para que seguir a imprudência d Crazy horse e seus homens, quando temos o que precisamos aqui. — Maralah insiste.

— Sim o vale nos protege não há como negar isto, mas ainda precisamos das planícies para plantação, das áreas de caça que estão cada vez menores. Perdemos muitos no último inverno, pela fome, pela falta de caça quando os grãos ficam escassos. Cavalo Louco pode não ser o mais prudente dos homens, mas ele teve coragem e fez o que nenhum antes dele conseguiu fazer. Ele uniu clãs, uniu tribos diferentes e lutam juntos, lado a lado para defender o nosso povo e nossas tradições. Os wakiki. O que está se decidindo aqui é… lutaremos agora, com Cavalo Louco e seu exército de irmãos, ou lutaremos sozinhos daqui a algum tempo. O grande espírito e a grande mãe, não tem piedade daqueles que não tem coragem. 

A filha do General - EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora