Orgulhosos e livres - II

119 16 7
                                    

Quando a noite caiu mais uma vez e Tokalah estava de volta ao estábulo. Tentou de todas as formas que tinha disponível, abrir o cadeado, porém nada surtiu efeito.

一 Como escapar daqui? 一 Questionou ao garoto que observou todas as suas tentativas falhas.

一 Não há como, eu já tentei. A noite nos deixam presos e durante o dia Owen e o senhor Burt não tiram os olhos da gente. Mesmo aqueles que conseguem acabam sendo capturados e voltam machucados ou mortos. Já faz mais de um ano que estou aqui.

一 Pois a morte é mais digna que uma vida como esta. Eles são apenas dois, estamos em maioria.

一 Cale a boca selvagem 一 ralhou Zacarias 一 acha que não pensamos ou tentamos isso? O senhor Burt é esperto e rápido no gatilho, qualquer movimento brusco e bum 一 disse o homem fazendo uma arma com os dedos e fingindo atirar na direção de Tokalah 一 você tá morto. Agora calem a boca e vão dormir.

Tokalah passou boa parte da noite pensando em como escaparia e pela manhã, ignorou os insetos, o cheiro e comeu toda a refeição que lhe serviram. Precisava de energia para colocar seu plano em prática e se isso significava comer o mesmo que serviam aos poucos, ele comeria, em dois ou três dias estaria forte e recuperado, Alan e Owen Burt, nunca mais colocariam outra pessoa naquela condição miserável.

Hora mais tarde já estavam no garimpo, mais uma vez Owen prendeu a perna de seus cativos a corrente fixada em uma grande pedra a beira do riacho.
Tokalah prestou o máximo de atenção que pode em cada detalhe, quantas armas possuiam, onde guardavam as chaves, onde amarravam os cavalos, quantas pessoas além deles haviam na fazenda.

Continuava peneirando as pedras quando algo lhe chamou a atenção, em meio as pedras escuras, um dourado se destacou. Seu povo chamava de mazakazi, embora as considerassem sagradas, o valor que elas tinham era perante aos deuses e não costumavam usá-las para outros fins. Os brancos porém gostavam de exibi-las em anéis, correntes e até mesmo nos dentes.

一 O que achou aí? 一 Owen questionou se aproximando e logo percebeu a pepita amarela na peneira. 一 Filho da puta de sorte, pai! Pai! Nossa primeira pepita em semanas, venha ver.

Burt imediatamente desceu da pedra onde fazia a vigia e Tokalah viu os dois homens fissurados pelo ouro, aquela seria uma oportunidade ele só precisava se livrar das correntes.

一 Isso foi tudo que achou? 一 questionou o velho Burt e Tokalah assentiu com a cabeça 一 uma pepita nunca vem sozinha, sempre tem mais de uma, abra a boca. Abra a boca seu índio ladrão! Anda! 一 Disse apontando a pistola para a cabeça do nativo que continuou a encara-lo. 一 Owen! Owen! Reviste ele e faça direito, veja se ele não ficou com alguma coisa.

一Anda Carl, levanta 一 disse Owen e Tokalah obedeceu, imediatamente o homem se pôs a revista -lo, apalpando seu corpo e vasculhando os bolsos das calças. 一 Abra a boca! Ande eu não tenho o dia todo!一 disse segurando o queixo do indígena que cuspiu em seu rosto em resposta. 一Filho da puta! 一 Gritou Owen retirando o chicote da cintura e acertando com força o rosto de Tokalah que avançou na sua direção, jogando seu corpo sobre o de Owen, lançando-se os dois na água. A briga durou apenas alguns segundos o suficiente para Tokalah socar o rosto do rapaz e fazê-lo engolir um pouco de água, antes de ser puxado pela corrente presa pelo tornozelo para a margem e receber chutes e pontapés de todos os lados.
Quando o jovem Burt se recompôs, afastou os outros cativos e ele mesmo tratou de terminar a surra, sentando-se sobre o corpo do nativo socando-o diversas vezes no rosto.

一 Já chega Owen, 一 o pai ordenou quando viu que o indígena estava prestes a perder os sentidos 一 ele já aprendeu a lição.

一 Só mais uma coisa 一 disse Owen que ordenou que os cativos colocassem a mão de Tokalah sobre uma pedra.

A filha do General - EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora