Lágrimas na Planície - II

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Maralah escutou atentamente as palavras de Edgar que foram sustentadas por Nathan Green. Naquele instante lembrou das palavras da filha Kimimela, que cansou de lhe alertar sobre o perigo de estarem em constante contato com os brancos, que agora, exigiam que entregassem suas armas e aceitassem que as palavras do Deus branco fossem espalhadas dentro do clã, em troca de paz.

一Meu clã jamais buscou a guerra, nenhum de meus homens acompanhou Lua Negra em suas incursões contra seu povo, se não estamos em guerra, porque devemos pagar pela paz? 一 Ele questionou.

一 Stuart era um grande amigo e eu sei do fundo do meu coração que era inocente e creio que você também saiba. Eu permiti que aquela barbárie acontecesse em nome da paz, fiz meu sacrifício agora faça o seu Maralah.

一 O sacrifício não será meu, podemos entregar alguns rifles, mas nossas armas de guerra continuaram conosco e rejeitamos os seu Deus. Acredito que nos povos podem viver em paz, mas os Mandan crêem na grande mãe, acreditam na irmandade ente o homem, a terra, os animais, o vento, as águas. O homem branco não, ele se iguala ao seu Deus e por isso, crê no direito de dispor de tudo que a terra oferece até ela não ter mais nada a oferecer, então buscam outra terra, deixando só um deserto para trás. O homem vermelho não vê assim, não tiramos da grande mãe, mais do que precisamos para sobreviver e se isso é ser um selvagem, selvagem nós vamos morrer.

一Maralah, sei que as coisas não saíram como planejamos de início, mas o momento exige que você decida da maneira mais ajustada correta. Fora da aldeia já um grupo de soldados treinados e armados, dispostos a invadir e tomar esse lugar a força se as ordens deles não forem seguidas. Entendo suas reivindicações e Nathan e eu lutaremos por elas assim que voltarmos a falar com o governador, masno momento tudo que pode fazer é proteger o seu povo, firmando esse acordo.

一Avó, 一ouviu a voz do jovem Squanto cortar o ambiente, chamando a atenção do velho chefe que voltou-se com um olhar duro ao menino pela intromissão em reunião tão importante. 一 Urso Branco, ele amarrou o corpo do homem em seu cavalo novamente e está indo em direção aos waikiki acampados no entorno da aldeia. 一 Disse o menino e Maralah levantou-se rapidamente.

一Merda 一 protestou Edgar saindo rapidamente para fora.

Andrew riscava o chão arenoso com uma vareta, onde desenhava um mapa rudmentar da aldeia, quando foi interrpido pelo olhar firme do sargento Gilbert.

一 Capitão, há um nativo arrastando algo que acredito ser o corpo de um homem branco, fazendo provocações com um machado, ia atirar nele mas decidi aguardar suas ordens.

一Tem certeza que é um corpo?

一A distância não me permite essa certeza, capitão, mas se assemelha muito aos nossos uniformes.

一Por Deus, Edgar o que você tá fazendo?一 Andrew sussurou a si mesmo endireitando o colarinho e tomando seu rifle em mãos.

O capitão subiu em Negro e se aproximou o máximo que pode da figura curiosa a diante, que continuava a trotear de um lado pro outro gritando palavras ofensivas enquanto levantava seu machado. Andrew tomou seu Winchester em mãos e colocou o homem na mira, disparando em seguida um tiro certeiro que o fez desmontar o cavalo, caindo para o lado enquanto o animal empinou assustado.

Com um longo suspiro, Andrew sinalizou a seus homens para buscar o animal que corria em disparada, enquanto ele se pôs na direção do índio que tentava se levantar quando viu outros cavalgando rapidamente na direção dele.

Andrew descansou o rifle na lateral do corpo e tomou a pistola, dando uma ordem aos nativos para que parassem a investida. Enquanto três soldados se aproximavam em uma cavalgada rápida.
O louro desceu do cavalo vendo as duas figuras a frente reduzirem a velocidade e voltou-se ao homem machucado que tentava arrastar-se até o seu machado.

一 O que pensa que está fazendo? Porquê está tentando se matar? 一 Questionou ao nativo se abaixando ao lado dele ainda com a arma em punho e sem distrair a atenção dos outros dos que se aproximavam.
Ao longe, viu Edgar cavalgando em alta velocidade, passando pelos nativos que agora aguardavam com arcos em posição de disparo.

一Andrew, por favor 一 gritou Edgar desmontando ofegante 一 eu preciso lhe explicar tudo antes que tire conclusões precipitadas. Este é Urso Branco ele, ele teve motivos pra matar aquele ho... 一 Antes que pudesse terminar foi interrompido pelo barulho do gatilho e o disparo dado pelo cunhado contra a cabeça de Urso Branco fazendo com que algumas gotas de sangue recalchutassem em seu rosto. 一 Andrew...

一 Um homem branco foi morto, não há mais o que explicar Edgar, a lei de Dakota é clara quanto a isso. Retire seus homens, vamos tomar a aldeia.

一 Não posso permitir que faça isso.

一 Se não está com a cavalaria, está contra ela. E contra seu país. 一 Disse apontando a arma pra Edgar que recuou um passo.

一 Vai me matar?

一 Não, mas você está preso pelo crime de insubordinação.

一 Não pode fazer isso eu estou sobre as ordens do governador.

一 Mas ainda serve a cavalaria, ainda veste esse uniforme. Prendam-no. 一 Disse aos homens.

Minutos depois Edgar estava amarrado numa das carroças de mantimentos e boa parte dos homens em formação vendo a agitação tomar conta da aldeia logo adiante.

Nathan Green permaneceu com os Mandan enquanto o grupo trazido por Edgar deixava a aldeia com aramas levantadas em forma de rendição. O mestiço tomou um cavalo e seguiu ao lado de Maralah que decidiu falar com os waikiki, porém antes que chegassem perto o suficiente para qualquer negociação, Maralah despencou do cavalo junto com o estrondo vindo dos mosquetes do grupo de soldados, fazendo Green dar meia volta e disparar com velocidade de volta a aldeia. Ali os homens já se organizavam para defesa, com os poucos rifles que possuíam, machados e arcos.

A Cavalaria seguiu com ferocidade em direção a aldeia, que já estava enfervorosa, mulheres tomavam suas crianças e seus pertencentes essenciais e se preparavam para a fuga enquanto os homens se armação e montavam seus cavalos, seguindo ao encontro aos waikikis.
Embora não houvesse esperança de vence-los, retardariam o máximo possível o ataque para que suas famílias tivessem a mínima chance de escapar dali com vida.

Green avistou Squanto e seu irmão munido-se com aljavas e arcos e juntou-se aos garotos.

一 Dê-me isso, vocês dois ajudem a tirar as pessoas daqui.

一 Eu sou um guerreiro, meu avô foi morto. Eu lutarei. 一 Disse o garoto.

一 Você é jovem demais e mesmo que não fosse, as mulheres e crianças precisam de uma escolta, levem-nos pra um lugar seguro. Vão agora! Vão! 一Gritou aos meninos que assentiram com a cabeça ao ver o desespero das mulheres e crianças que corriam o mais rápido que podiam.

Apesar de ter nascido dentro do território Cherokee e os embates que viveu para defender seu povo, tivessem acontecido na maioria das vezes em tribunais. Nathan conhecia os horrores da guerra, depois de formado o pai o enviou com uma comitiva oeste a dentro, para conhecer o modo de vida de outros nativos, suas línguas e costumes. Nessas viagens que duraram mais de cinco anos, não foram poucas as vezes que ele teve de pegar em armas, para defender a sua e a vida e de seus estimados anfitriões. E em algumas delas sentiu de perto o peso e a dor que seus antepassados viveram, dando ainda mais valor a causa que sua família defendia.

Montou novamente em um cavalo e por instantes ficou paralisado com o choque que a cena que se dava a sua frente. O clã de Maralah era alvejado de maneira rápida e sistemática, enquanto os soldados avançavam de forma fria e organizada.

Quando a cavalaria alcançou as tendas, boa parte dos homens de Maralah já estava no chão. A fumaça densa e o cheiro fétido que o couro das moradias em chamas exalam, se misturava ao gritos de mulheres e ao choro das crianças pequenas que na confusão se perderam da sua mãe ou rodevam o corpo desfalecido daquelas que haviam sido abatidas pelos rifles dos waikiki.







A filha do General - EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora