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Boa leitura ☘️

Votem e comentem ☘️

— Numa entrevista de emprego, você precisa ir de terno — insistira mamãe. — Hoje, as pessoas são informais demais.

— Por que usar um terno será fundamental se eu estiver trocando de roupa toda santa hora — falei.

— Não seja espirituoso.

— Não posso comprar um terno ou alugar um. E se eu não conseguir o emprego?

— Pode usar um do seu irmão, eu passo a ferro uma linda blusa e, uma vez na vida, não deixe o cabelo todo bagunçado. Apenas tente parecer uma pessoa normal.

Era melhor não discutir com mamãe. E eu tinha certeza de que papai recebera a recomendação de não comentar meus trajes quando saí de casa, nem meu andar esquisito naquela calça justa demais.

— Tchau, querido — disse ele, com os cantos da boca se repuxando. — Boa sorte. Você está muito... profissional.

O constrangedor não era usar um terno do meu irmão, ou que aquele fosse um modelo que esteve na moda no final dos anos noventa, mas sim que a roupa estava um pouquinho justa para mim. Eu podia sentir o tecido quase se fundindo com a minha pele. Como papai diz a respeito de Jackson, um grampo de cabelo é mais gordo que ele.

Fiz a curta viagem de ônibus me sentindo levemente enjoado. Nunca tive uma entrevista de trabalho de verdade. Comecei a trabalhar no Mifan depois que Jackson apostou que eu não conseguiria um emprego em apenas um dia. Entrei lá e simplesmente perguntei a Jian Xiang se ele precisava de um par extra de mãos. Aquele era o primeiro dia de funcionamento e ele pareceu quase cego de gratidão.

Agora, olhando para trás, não consigo nem me lembrar de ter falado com ele sobre dinheiro. Ele sugeriu um pagamento semanal, concordei, e uma vez por ano me dava um pequeno aumento, geralmente um pouco mais do que eu teria pedido.

O que, afinal, se pergunta numa entrevista de emprego? E se fizessem um teste prático comigo, como me colocar em frente a uma câmera? Xigchen tinha dito que não seria anormal sessões de fotos um "pouco sensuais demais" (estremeci ao ouvir a expressão). A minha categoria  não estava, segundo ele, "muito clara". Imaginei-me seminu em frente a uma câmera, e talvez um fotógrafo pedindo aos gritos SERÁ QUE DAR PARA IR MAIS PARA O LADO?

A Red House, o endereço da entrevista, ficava do outro lado da Jin Mao Tower, perto do skyline, numa trilha sem pavimentação, bem no meio da região turística. Passei por aquela casa milhares de vezes na vida sem jamais ter prestado atenção nela.

Agora, ao passar pelo estacionamento do edifício e pelo playground, notei que a casa era muito maior do que eu imaginara, de tijolos vermelhos e fachada dupla, o tipo de casa que a gente só vê em exemplares recentes da revista Country Life enquanto espera ser atendido no médico.

Percorri a longa entrada para carros tentando não pensar que alguém me olhava da janela.

Cruzar uma longa entrada para carros deixa você em desvantagem; isso o faz se sentir automaticamente inferior. Eu estava exatamente ponderando se deveria bagunçar um pouco o cabelo quando a porta se abriu e dei um pulo.

A mesma mulher da recepção, Xiao Ichigo, saiu para o vestíbulo. Ela usava calça branca e carregava um casaco e uma pasta embaixo do braço. Ao passar por mim, deu um sorriso educado.

— E muito obrigado por ter vindo, Ichigo — disse uma voz lá de dentro. — A gente se fala. Ah — um rosto surgiu, de um bonito homem na casa dos trinta. Usava um terno que, suponho, custava mais do que meu pai ganhava por mês.

The fashion of love _ 爱的时尚 _ YizhanOnde histórias criam vida. Descubra agora