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A primavera chegou durante a noite, como se o inverno fosse um hóspede indesejado que de repente resolveu vestir seu casaco e desaparecer sem se despedir. Tudo ficou mais verde, as ruas foram banhadas por um sol fraco, o ar agora perfumado. O dia tinha sinais florais e acolhedores, com trinados primaveris como fundo musical.

Não notei nada disso. Havia passado a noite na casa de Xue Yang. Era a primeira vez que nos víamos em uma semana devido ao seu rigoroso programa de treinamento mas, após quarenta minutos imersos em uma banheira com meio pacote de sais de banho, Xue Yang se mostrara tão cansado que mal conseguia conversar comigo. Massageei suas costas em uma rara tentativa de seduzi-lo, no entanto ele resmungou que estava mesmo cansado demais e fez um gesto com as mãos como se me quisesse longe. Quatro horas depois, eu continuava acordado encarando o teto.

Xue Yang e eu nos conhecemos quando eu ainda estava no meu primeiro emprego, como estagiário no Xianfeng dui, o único salão de beleza unissex na região do Bund. Ele entrou quando Wu Liang, a dona do salão, estava ocupada, e disse que queria passar máquina quatro no cabelo. Fiz o corte que ele depois descreveu como não só o pior de sua vida mas o pior de toda a História. Três meses depois, cheguei à conclusão de que gostar de mexer no meu próprio cabelo não significava necessariamente saber cortar o dos outros. Saí do salão e comecei a trabalhar com Jian Xiang.

Quando iniciamos nosso relacionamento casual, Xue Yang trabalhava com vendas e suas coisas preferidas eram: vinho, chocolate artesanal, falar de esportes e sexo (fazer, não falar), nessa ordem. Uma boa noite para nós deveria incluir essas quatro coisas. Ele tinha uma boa aparência, não chegava a ser terrivelmente bonito; ele era bem mais alto do que eu, mas eu gostava disso. Gostava da solidez do seu corpo e de me enroscar nele. Era órfão de pai e eu admirava o jeito como ele tratava a mãe, como era protetor e solícito. E seus quatro irmãos e irmãs lembravam a série de TV "Os Waltons". Pareciam se gostar de verdade. Na primeira vez que saímos juntos, uma vozinha na minha cabeça disse: este cara jamais o magoará, e nada do que tenha feito nos sete anos seguintes me fez duvidar disso.

Ainda lembro-me do momento em que eu o apresentei aos meus pais, em como papai empalideceu.

— Isso significa que Yibo é gay? — questionou ele, olhando para mamãe com olhos arregalados.

Abri a boca para protestar, mas eu estava muito nervoso. Xue Yang ao meu lado deu um sorriso amarelo.

Jackson, acomodado na poltrona ao lado, revirou os olhos significativamente.

— Mas Yibo também sente atração por mulheres, não sente? — ele me olhou.

— Sim — falei. Mas a verdade é que eu nunca tive muita certeza.

— Então ele pode ser bissexual.

Meus pais olharam para ele como se meu irmão houvesse falado búlgaro.

— Bissexual — repetiu, mamãe como se testasse a palavra na língua. — Mas o que seria isso, querido?

Jackson fez uma careta.

— Basicamente uma pessoa que sente atração pelos dois sexos. Yibo sente atração por homens e mulheres.

Era como se eles não compreendessem. Porém, após meia hora de intensa explicação, as coisas se assentaram e papai, que estivera pálido durante toda a conversa, discursou com cuidado que, apesar de achar aquilo estranho, não via problemas. Pouco tempo depois, ele e Xue Yang passaram a conviver bem, graças aos seus gostos em comum.

The fashion of love _ 爱的时尚 _ YizhanOnde histórias criam vida. Descubra agora