Capítulo 3: Continuação

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A sexta-feira incluía uma comemoração no escritório de contabilidade, que ficava no andar de cima, e nós fomos convidados. Foi um delicioso coquetel. Era também o aniversário de nosso amado patrão, e eu soube que era costume do pessoal do escritório, contabilidade, e mais alguns próximos organizarem alguma comemoração para ele. Achei bem brega aquela puxação de saco, mas eu era do escritório. Não tinha como fugir.

Depois de ouvir Marcela e Sandra combinarem com Álvaro o jantar na própria casa dele, eu olhei para Petrus, atordoado. Cochichei:

— Eu também tenho que ir?

— Claro! Você substituiu a nossa querida Marta e passa o dia com o Álvaro. Ele vai estranhar se você não for.

— Mas todo mundo aqui é velho na empresa. Eu sou um novato. Ou eu sou um pivete, como todo mundo diz.

— Relaxa! Vai ser tranquilo. Se estiver chato lá na festa de velhos, você diz que precisa ir embora, que você tem hora pra chegar ou a mãe vai te buscar.

— Pior que nem é mentira. Ela vai mesmo me buscar. Mas eu tenho que levar algum presente?

— Tem. — Ele me encarou, depois sorriu. — Mentira! Marcela vai comprar algo e a gente racha o valor. Quem ganha menos, paga menos. Esse é o costume.

— Achei justo. Eu ia dar a desculpa da faculdade para não ir nesse jantar se eu tivesse que comprar um presente.

— Para você é fácil. Basta você dizer: Olha, patrão, eu não trouxe nada, mas o senhor pode desfrutar da minha ilustre presença. — Petrus piscou. — Ele iria ficar feliz.

— Ah, é. Vou tentar essa quando ele vier me esfregar algum erro na minha cara.

— Aí eu já não garanto.

Fiquei mais ansioso do que deveria por causa do jantar na casa de Álvaro. Mesmo sabendo que era costume dele bajular os funcionários mais próximos, levá-los para jantar, almoçar, tomar café da manhã e comemorar o Natal, eu ainda me sentia um peixe fora d'água. Na empresa, todo mundo já tinha ido à casa dele, conhecido a mãe dele e os seus famosos jardins. Menos eu. Além disso, eu não só era o mais novo de todos os funcionários como tinha vinte anos a menos que o segundo mais novo. Seria como sair com os amigos da mamãe.

Tive dúvidas ao escolher o que vestir. Se eu me vestisse socialmente, ia parecer que eu tinha ido com a roupa do trabalho, e se eu me vestisse da mesma forma que quando saía com meus amigos, ia ficar parecendo um adolescente mal acompanhado.

Mamãe estava em casa, então pedi ajuda.

— Mãe, eu não sei o que vestir pra ir nesse jantar. O que você acha?

— Você tá cheio de roupa nova nesse armário, Randrew — ela gritou do banheiro. — Seja rápido ou eu vou te deixar a pé.

— Mãe, eu pedi ajuda, não crítica. O que você acha da blusa amarela?

— Detesto, mas o problema é seu. Use, se quiser passar vergonha. Eu vestiria uma preta.

— Preta? — Eu tinha várias pretas. — Pode ser essa de estampa?

— Sim, e de preferência, logo.

Minha mãe tinha que dar aulas naquela noite e ia me levar. Por isso a pressa. Depois, se eu ainda estivesse lá, ela passaria para me buscar. Era uma forma de me deixar ainda mais constrangido naquela festa.

Peguei a blusa preta de mangas longas que tinha uma estampa abstrata na frente e calça jeans e sandálias. Foda-se, eu ia adolescente mesmo.

Mesmo explicando à minha mãe que ainda estava cedo, ela me deixou em frente à casa de meu patrão e seguiu a vida. Foi com muito receio que eu cheguei ao portão e pressionei o botão do interfone. Álvaro veio me receber pouco depois.

Não deixe para amanhã (Amostra de 14 capítulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora