Capítulo 10: Continuação

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Começar a semana era sempre uma nova chance de aprender sobre Álvaro e como lidar com ele. Como trabalhar com ele sem parecer burro e ciumento.

Estranhei o fato de ele já estar em sua mesa quando cheguei, pois ele costumava ir primeiro ao armazém e só chegava ao escritório dez ou quinze minutos depois de nós. Fui deixar minhas coisas no armário, perto da entrada da sala, e segui para a minha mesa, do outro lado da divisória.

Marcela estava lá sentada na frente de Álvaro sendo que ela ainda estava no período de férias, mas como eu não tinha nada com isso, apenas os cumprimentei e liguei meu computador. Me sentei e então notei que Álvaro estava olhando para mim.

Magda e Petrus também chegaram, foram até a porta, fizeram os cumprimentos e tomaram seus lugares, que ficavam numa distância de uns bons oito metros. E Álvaro continuava olhando para mim, ele e Marcela num silêncio estranho.

— Randrew, você tem algo para fazer na contabilidade?

— Não.

— E no armazém?

— Não. Por quê?

— Então vai tomar um café. Não tenha pressa em começar aqui.

Estreitei os olhos ao olhá-lo. Ele só podia estar de brincadeira.

— Você não tem nada melhor pra dizer?

Marcela fungou e ajeitou os cabelos negros que cobriam parte do rosto. Álvaro manteve a calma, mas não parecia que ia aguentar por muito tempo mais.

— Estamos no meio de uma conversa meio... pessoal.

— Mas e o salão?

Marcela fungou de novo, agora de irritação.

— O respeito que ele tem por você é bem relativo, não é?

A voz dela estava muito estranha, como se ela tivesse chorado. E ela não o chamou de senhor, como costumava fazer durante o trabalho, e como costumava exigir que os outros fizessem.

Álvaro foi mais incisivo.

— Randrew, vá dar uma volta! Eu te chamo quando terminar aqui.

— Ok! Chefe.

Fui até a antessala e me sentei na cadeira de espera, perto de Petrus. Ele me olhou de rabo de olho e comentou quase em sussurros:

— O chefe te mandou sair?

— Pois é. Assuntos pessoais com a colega lá.

— Mas ele te mandou para fora ou te mandou para aqui?

— Deve ter sido para fora, mas eu vou esperar aqui até alguém me obrigar a sair. Será que alguém vem?

Patrus riu.

— Vamos aguardar.

— Por que eu, apenas eu, tenho que ir pra contabilidade, pro café, pro inferno, enquanto vocês ficam aqui tranquilamente? Por que eles não foram chorar lá no salão? Eu só saio daqui à força.

— É emocionante trabalhar com você.

Poucos minutos depois, Álvaro saiu de sua saleta particular trazendo o telefone e me entregou. Alguém estava aguardando para falar comigo. Marcela o seguiu e os dois saíram do escritório. Ela estava com uma cara péssima. Eu devia sentir pena e ficar preocupado, mas a falta de noção do Álvaro atrapalhava tudo. 

Eu atendi à ligação e fui para a minha mesa e lá fiquei até que Álvaro apareceu com uma xícara de chá. Quando ele a colocou na minha frente, eu o encarei com vontade de atirar o líquido quente bem na cara dele.

Não deixe para amanhã (Amostra de 14 capítulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora