Capítulo 13: Continuação

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Se por alguma razão aquela festa não acontecesse, eu deveria arranjar outro trabalho pois nunca mais teria paz naquela empresa. Era uma coisa já arraigada nos costumes daquele pessoal, a maioria há anos e anos lá, e eles ligavam as mudanças recentes à minha chegada. Já tinham me responsabilizado pelo café que não aconteceu, pela cesta de coisas gostosas que não chegou, só faltava a festa de fim de ano. Eles eram gratos ao Álvaro, mas nem tanto. Tirasse um dos benefícios e eles se esqueciam de que nada daquilo era obrigação de um patrão.

Mas estava tudo lindo. Ou o clube cuidava de tudo ou tinha alguém providenciando todos os detalhes. Tinha música, comida e bebida, embora algumas específicas não fossem de graça, além do lazer. O local tinha três piscinas e parquinho. Um bom lugar para família. E eles estavam lá, todos eles. Eu não sabia que a prole daquele pessoal todo dava para encher uma creche. Marcela estava com uma garota de uns dez anos, Petrus tinha dois filhos pequenos, Magda tinha dois maiores, e os rapazes do armazém tinham um batalhão.

Eu fui sozinho. Não quis encher ninguém com a missão de servir de babá para mim. Aquele dia tinha tudo para ser estranho, não importava se Álvaro tinha prometido alguma coisa. Um cara que passava os dias usando aplicativo de mensagens e tinha dito que não conseguia responder. Como se fosse aquela coisa toda. Era só uma boba e previsível mensagem de Natal.

Eu era o único desacompanhado por lá. Sandra tinha dito que não tinha a quem levar, mas acabou levando um bonito moreno a tiracolo. Ela era solteira. Eu cheguei perto das onze da manhã, e acredito que tenha sido o último a chegar também. O pessoal já estava comendo e se divertindo havia horas.

No clube havia uma parte coberta com cadeiras confortáveis. Aquele lugar me chamou a atenção, mas logo notei que a mãe de Álvaro estava lá. Dona Marta, sempre presente, e Magda, que só se enturmava com senhoras, também estavam. Marcela se sentou por lá também e elas ficaram conversando.

Álvaro estava no bar, ao lado de algumas pessoas. Estava sorrindo, lindo e parecia feliz. Me viu chegar, me viu procurar um lugar, e viu onde me acomodei, no deck.

"Achei que você não vinha". — Recebi essa mensagem de Álvaro. Estranhei.

"Achei que você não mandasse mensagens". — Devolvi.

Não demorou e um funcionário do clube me levou sorvete. Sorvete. Fui obrigado a procurar outra coisa para comer antes e tomar o sorvete meio derretido depois. Enquanto eu o tomava, Álvaro empurrou uma cadeira baixa para mais perto de mim e se sentou. Boné, óculos escuros, boca linda sorridente, dentes perfeitos. Até a pele dele era perfeita. Ele estava usando roupas leves. Se manteve longe da água, assim como eu.

Não falamos logo. Até que ele tirou os óculos para limpar e eu vi os olhos dele.

— Oi — falei.

— Oi. Você demorou.

— É. Fiquei pensando no que aconteceria se eu não viesse. Cheguei à conclusão de que não ia acontecer nada e vim.

— Você acha que vai ser ruim?

— Não. Todo mundo fala super bem daqui. E vindo de você, deve ser mesmo bom. Você é muito generoso.

— Esse sarcasmo leve é até gostoso de ouvir.

— Eu falo sério. Sempre gentil e generoso. Hum, espero que eu não esteja sendo indelicado em não ir cumprimentar a sua mãe. Parece que todo mundo vai.

— Relaxa! Está tudo bem. O pessoal mais antigo a conhece e bajula, especialmente as mulheres. Você não tem que fazer isso.

— Ufa! Eu realmente não gostaria de ter que falar com ela.

Não deixe para amanhã (Amostra de 14 capítulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora