Ao meu lado, em silêncio, Álvaro parecia travar uma batalha dentro de si. Eu o sentia respirar fundo, prender os lábios, apertar o volante. Não parou no ponto como eu tinha pedido, e estava indo mais devagar que o ônibus.
— Pode me deixar em qualquer lugar por aqui, chefe. É fácil para ir embora.
Ele balançou a cabeça negativamente e seguiu pelo trajeto já conhecido. Parou em frente à entrada do beco. Eu o olhei.
— Não precisava ter me trazido até aqui, mas obrigado.
— Não foi nada. Ah, eu não vou te cobrar nada referente aos pedidos trocados. Todo mundo erra na vida.
— Tem certeza? Se você não cobrar, o pessoal vai comentar.
— Que comentem. Não faz diferença para mim. — Ele ensaiou um sorriso.
— Obrigado.
Eu sabia que tinha que sair do carro, mas algo na expressão dele me prendia ali. Como no dia do aniversário dele. Uma tensão, uma atração... Ele parecia querer avançar para cima de mim.
— Álvaro...
Ele me olhava de forma tão intensa que mesmo sem tocá-lo eu podia sentir seu calor. Quando ele falou, foi rouco, quase um sussurro.
— Sabia que você me deixa maluco?
— No escritório?
— Principalmente no escritório, mas em outros lugares também.
— Aqui, agora?
— Sim. Você me deixa doido. Vem cá...
Um impulso me levou até ele, e seus braços me agarraram com força, me apertando num abraço quente. Seus lábios tocaram um ponto logo acima de minha orelha e deslizaram para o meu pescoço aspirando o meu cheiro. Também senti o cheiro dele. Era tão bom! Quando tentei desfazer o abraço, ele me segurou, depois me soltou olhando em volta.
— Vamos sair da rua? — Ele pôs o carro em movimento. Dirigiu devagar sempre na mesma via.
— Ok, mas pra onde?
— Não sei. Eu não conheço essa parte da cidade.
Como numa conspiração do destino, um motel se destacou com as primeiras luzes da noite. Álvaro me lançou um olhar em busca de consentimento, e então entrou no local indicado. Eu olhei para minhas mãos enquanto ele pedia um quarto.
Não saímos do carro de imediato. Mal a garagem se fechou, eu me virei para seu lado, e ele também se virou, e o espaço entre nós de repente desapareceu. Eu me inclinei para ele no intuito de beijar a boca, mas ele me segurou num abraço forte. Eu estremeci com a sua força e com sua respiração passeando entre meus cabelos.
— Me beija... — pedi.
— Randrew, se a gente se beijar, as coisas podem se tornar ruins. Eu sou complicado, eu...
— Eu não ligo.
— Mas deveria.
— Me beija!
— Céus... Isso vai dar muito errado.
Não tive tempo para retrucar. Nossas bocas se atraíram e se encaixaram como se fossem imãs de polaridades diferentes. Durante um tempo não medido, não houve nenhuma palavra, nenhuma explicação, só a boca na boca, as línguas deslizando uma na outra, as peles querendo se tocar e trocar energias.
O beijo dele era quente e forte, mas gentil, como ele mesmo, e eu me perdia em seus dedos que desciam dos meus ombros para as minhas costas. Fiquei de joelhos no banco para alcançá-lo; ele inclinou a cadeira para melhorar a posição e logo eu estava praticamente em seu colo.
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Não deixe para amanhã (Amostra de 14 capítulos)
RomanceRandrew é o jovem funcionário de Álvaro, um empresário. Ele tem certeza de que o patrão gosta dele, mas se isso é verdade, Álvaro o demonstra da pior forma possível........ Livro não completo. Amostra. Degustação.