Capítulo 7: Sometimes

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Agora eu tinha o número pessoal de Álvaro, e a tentação de ligar era grande. Mesmo dizendo a mim mesmo que não deveria fazer isso, eu não resisti de redisquei para o último número que eu tinha ligado, ou seja, para ele mesmo. Chamou por algum tempo sem resposta e eu acabei desligando. Eu nem sabia por que tinha ligado. O que eu ia dizer, afinal? Que estava com saudades sendo que nosso encontro formal seria na manhã do dia seguinte?

Álvaro ligou de volta bem mais tarde naquela noite. Eu já estava na cama e mal notei o número.

— Oi... — atendi, sonolento.

— Oi. Tudo bem?

— Sim. E você? — Bocejei.

— Você me ligou...

— Ah, sim. Foi mesmo. Tem tempo já.

— Pode falar... Era algo importante?

— Para mim, era. Mas deixa pra lá. Eu não devia ter ligado.

— Por quê? Eu gostei que você ligou.

— É que... Eu queria dizer que eu gostei do que aconteceu. Eu gostei do seu beijo, e de tudo. Mesmo que tenha acontecido rápido. — Eu já estava bem acordado.

— Eu também gostei. Não é muito adequado, mas eu gostei. Vai ser difícil me conter.

— Por que se conter?

— Porque é preciso. Mas você é tentador. Vai ser difícil manter minhas mãos longe.

— Você nunca manteve suas mãos longe.

Ele riu.

— É meio automático. Isso incomoda você?

— Definitivamente não.

— Você é atraente.

— Você faz isso com todos os funcionários atraentes?

— Você sabe que não. É novo pra mim.

Falamos por cerca de meia hora sem entrar em nenhum assunto especial. Ele não disse, mas eu entendi que ele preferia deixar aquilo só entre nós. Ele ainda era meu patrão, e isso era complicado. Ceder à tentação era algo que não podia acontecer no escritório.

Nos próximos dias eu passei por seu Antônio e o cumprimentei normalmente sem dar chances para ele fazer suposições. O "gelo" que Álvaro tinha me dado e o boato de que ele estava com alguém de fora ainda surtia efeito. Na sala, era tudo muito profissional. Não mencionamos uma única vez, nem em voz baixa, o que tinha acontecido. Ele me olhava menos, eu sentia, como se quisesse me evitar. Às vezes eu ficava triste e frustrado por isso, mas entendia que tentar chamar a atenção podia ser interpretado como um ato infantil. Eu apenas ficava calado. E assim uma semana se passou.

Álvaro estava distribuindo o serviço extra devido às férias de Marcela, e Magda recebia a maior parte dele. Sem ninguém perguntar, ele explicou que fazia isso para que eu não tentasse abarcar tudo sozinho. Petrus riu e eu não gostei. Fechei a cara.

— Ele só quer te proteger de você mesmo. Você devia agradecer — disse Petrus quando Álvaro saiu.

— Eu odeio isso, essa vigilância. Me dá nos nervos. Ele te vigiava assim quando você começou?

— Não. É a primeira vez que vejo ele fazendo isso. Deve ser porque ele gosta de você. Ou porque ele acha que você precisa ser vigiado. Pelo sorrisinho que você anda carregando no cara esses dias, imagino que você saiba a resposta.

Não respondi. Fui para a minha mesa onde eu tinha visto Álvaro colocar uma pilha de coisas.

— Quer uma mão? — Álvaro se aproximou logo que eu me sentei.

Não deixe para amanhã (Amostra de 14 capítulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora