Capítulo 1: O favorito do Chefe

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— Randrew Marques — falei meu nome da mesma forma que os candidatos à minha frente e recebi um papel em branco. Era para o teste. Eu estava ali na esperança de conseguir um emprego e tinha passado pela primeira etapa da seleção. Eu tinha ficado feliz com essa vitória, mas não esperava que a segunda etapa também fosse tão concorrida.

Fiquei de pé na sala de espera porque não havia cadeira para todos. Atento, notei que os candidatos estavam sendo chamados por ordem alfabética e senti raiva por não me chamar Alex. Alex era o meu irmão gêmeo. Até nisso ele tinha vantagem, mas, claro, ele não estava precisando de um emprego.

Havia um painel preto brilhante poucos metros à minha frente com uma ilustração e o nome da empresa em branco. Lá estava refletida a minha imagem e eu pude confirmar que estava bem apessoado. Ajeitei meu cabelo que teimava em fazer ouriçar os cachos e corrigi a postura. Estava vestido socialmente, calça e camisa de mangas longas; elegante sem parecer um pastor evangélico.

Vários nomes foram chamados, e então algumas cadeiras ficaram vagas. Eu não me sentei porque queria continuar a me ver no painel. Mudei de um pé de apoio para outro e aguentei firme até que finalmente uma voz cansada chamou meu nome. Pronunciou errado, é claro.

A mulher que fazia o chamado, que havia se identificado como Sandra, era a mesma que aplicava uma série de questões e desafios. Fora as perguntas sobre minha experiência profissional, que era bem pouca, em todo o resto eu me saí bem. Sandra ficou surpresa com minha tranquilidade durante os desafios lógicos, eu diria que ela ficou até desconfiada. Ela propôs outros desafios, mas novamente eu me saí bem. Eu tinha me preparado para aquilo, e determinados desafios eu fazia desde criança.

Ainda surpresa, ela deu a entrevista por finalizada e disse que, caso eu fosse escolhido, em até dois dias eu receberia uma ligação. Fui embora menos animado do que gostaria, pois ela ainda não tinha entrevistado o restante das letras do alfabeto.

Conforme o prometido, dois dias depois eu recebi a ligação. Eu estava sendo contratado como auxiliar de escritório. Fiquei um tanto decepcionado. Eu pensava que, pelo auê que fizeram nas entrevistas, a ocupação seria menos modesta. Eu deveria começar na semana seguinte, então passei os últimos dias assistindo séries e comprando roupas novas.

No primeiro dia de trabalho, cheguei ao prédio faltando cinco minutos para as oito horas e entrei junto a Sandra. Havia vários funcionários; alguns usavam roupas sociais, outros usavam uniformes. Os sem uniforme faziam parte do "administrativo" e trabalhavam alguns andares acima.

Sandra me levou a uma grande sala onde estavam Petrus, Marcela, uma mesa vazia e vários armários. Era o "Escritório". No fundo dessa sala havia uma divisória parte de madeira e parte de vidro que formava a sala do chefe. A porta com a palavra "Particular" quase sempre ficava aberta, e o ambiente, apesar de sua importância, era bastante simples. Havia dois computadores, um numa mesa maior e mais imponente e outro numa mesa mais modesta, num canto, repleta de coisas relacionadas a fornecedores.

Enquanto me apresentava às pessoas e ao trabalho, Sandra me falava sobre o funcionamento do escritório com um brilho orgulhoso nos olhos.

— Aqui nós não dizemos o que se deve fazer. Você precisa se orientar sozinho, descobrir onde precisam de você e usar suas melhores habilidades.

Finalmente uma empresa moderna — pensei. Eu gostava de fazer o que achava melhor sem ter um tutor ou vigia.

Ela apontou a sala do chefe.

— Abra o programa naquele computador e comece a se inteirar sobre o que fazemos. É tudo bastante intuitivo. O senhor Álvaro está numa reunião, mas logo ele chegará e você poderá conhecê-lo. Ele é muito gentil, mas espera proatividade de seus funcionários. Não gosta de ver ninguém parado.

Não deixe para amanhã (Amostra de 14 capítulos)Onde histórias criam vida. Descubra agora