Cativeiro

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Acordei com frio, minha garganta ardia não sei se era sede ou se eu estava ficando resfriada pela baixa temperatura, além da dor na cabeça onde fui golpeada. Abri os olhos lentamente tentando enxergar alguma coisa, percebi que estava em movimento, tentei me mexer, mas o espaço era apertado, eu estava no porta-malas de um carro. Meu primeiro instinto foi tentar gritar, porém sabia que ninguém me ouviria.

De dentro do carro eu conseguia ouvir uma música, só que de tão baixo eu não reconhecia qual era. Não sei dizer quanto tempo passei trancada ali, o carro fazia curvas em alta velocidade me arremessando de um lado para o outro naquele cubículo escuro e apertado, eu colidia com as paredes e o teto quase o tempo todo o que me rendiam muitas dores. Em determinado momento bati a cabeça e eu tinha certeza de que tinha cortado minha testa.

O veículo parou, ouvi as portas abrirem e ouvi passos em direção a traseira do carro, me encolhi sem querer como se isso pudesse me proteger. Quando o porta-malas se abriu pude ver duas figuras encapuzadas, um deles fez sinal para que eu ficasse em silêncio, eu assenti enquanto as lágrimas corriam pelo meu rosto. Eu nunca senti tanto medo.

– Se você gritar a gente acaba com você aqui mesmo, tá entendendo? – o outro disse enquanto me forçava a sair do carro.

Eles me conduziram para dentro de um barracão me lançando para dentro de um quartinho nos fundos. O lugar era escuro e apenas uma lâmpada fraca do lado de fora iluminava pelas frestas da janela que estavam isoladas com madeira grosseiramente pregadas sobre o vidro quebrado. Havia uma cadeira velha e um colchão surrado e encardido. O encapuzado que falou me empurrou em direção ao colchão e sentou na cadeira enquanto o outro permaneceu em pé atrás dele com um revólver nas mãos.

– É o seguinte, patricinha – o que estava sentado começou a falar paciente – Você vai ficar aqui quietinha até a gente conseguir o que quer. Se você se comportar não vai ter problemas, aí só vai depender da colaboração das pessoas lá fora.

– Meu pai tem dinheiro – falei com o desespero engolindo minha voz. – Quanto vocês precisam? Ele paga, só não faz nada comigo.

– E você acha que a gente não sabe? – eu pude perceber o escárnio – É por isso que você tá aqui. Teu papai vai dar uma boa grana pra gente e você tá livre, mas como eu disse você precisa se comportar ou você não vai gostar do que vai acontecer com você. Entendeu?

Eu apenas assenti nervosa.

– Ótimo. Para mostrar que eu sou legal, eu vou trazer água porque você veio sem gritar.

Ele se levantou saindo enquanto o outro continuou no mesmo lugar me encarando. Logo ele voltou com uma garrafa pet cheia de água, colocou ela no chão próximo ao colchão e saiu levando a cadeira consigo, eles fecharam a porta atrás de si me deixando sozinha ainda no chão. Primeiro me estiquei para alcançar a água que desceu rasgando minha garganta, depois caminhei pelo quarto procurando alguma possível saída em vão.

Mesmo a janela quebrada havia muitas madeiras pregadas pelo lado de dentro e de fora, seria impossível arrancar todas usando somente as mãos, sem contar que as chances de fazer barulho e chamar a atenção de meus sequestradores era alta. Me coloquei na ponta dos pés tentando enxergar algo pelas aberturas entre as tábuas, mas estava tão escuro que eu não conseguia ver além da luz da lâmpada.

Retornei ao colchão e me sentei com as costas na parede, minha cabeça ainda doía, me lembrei da pancada na testa e passei a mão para ver se tinha sangue, aparentemente não havia cortado. Olhei em volta mais uma vez e sem conseguir me conter caí numa crise de choro que me fazia soluçar. Me perguntei se meus pais já estavam cientes do meu desaparecimento, quanto tempo havia se passado desde que saí da faculdade. Talvez eles ainda não soubessem porque eu avisei que dormiria no apartamento de Bernardo.

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