Hospital

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Os policiais chegaram na minha casa, seguidos dos meus pais. Rastrearam o último número a me ligar e descobriram se tratar de um telefone público localizado em uma cidadezinha próxima. Havia toda uma equipe da polícia na sala da minha casa buscando a localização de onde partiu o telefonema enquanto se comunicavam com outras viaturas que faziam a busca. Enquanto isso meu pai esbravejava pela sala e minha mãe tentava acalmá-lo.

Eu estava cansada de tanta movimentação, quanto mais olhava para aquelas pessoas, mais aflita eu me sentia. Passei pela cozinha e vi o bolo de milho que Glorinha fez, cortei dois pedaços servindo em um pratinho e me sentei na entrada da lavanderia. Apenas um dos seguranças fazia uma ronda pelo muro dos fundos, mas não era capaz de me ver. Eu não queria companhia alguma, queria apenas sentir que tinha alguma privacidade.

O vigilante caminhava próximo a piscina cuja água refletia o céu escuro e sem estrelas, ele observava atento o paredão que encerrava os limites do meu quintal, enquanto eu comia meu bolo sentada na soleira da porta. Após algum tempo ouvi meu telefone tocar, era Bernardo.

– Oi, meu amor – ele disse assim que atendi. – Estou indo para casa agora, já avisei a polícia e eles vão me encontrar assim que eu chegar no prédio, ok?

– Ótimo, eu fico conversando com você até chegar na portaria e encontrar os policiais.

– Cami, minha bateria está acabando. Talvez não dê para conversarmos muito. Prometo que entrando em casa eu coloco meu celular para carregar e aviso que cheguei. Tem problema?

– Assim que passar pela soleira da porta, ok?

– Assim que eu passar pela soleira da porta – ele repetiu confirmando.

Continuei no mesmo lugar por mais 15 minutos até que recebi a mensagem dele dizendo que havia estacionado na garagem do prédio, que estava tudo bem, mas a polícia ainda estava a caminho. Ele disse que entraria no elevador, tomaria um banho e depois me ligaria novamente para conversarmos. Respondi que tudo bem e resolvi também me encaminhar para o chuveiro.

Deixei meu celular sobre a cama e entrei no banheiro, não me preocupei muito com o horário já que Bernardo também demoraria para falar comigo novamente. Voltei para o quarto e comecei a desembaraçar o cabelo em frente ao espelho, pouco depois minha mãe bateu levemente à porta.

– Se for mais notícias ruins, eu passo – sorri levemente a olhando pelo reflexo do espelho.

– Filha, é o Bernardo... – ela começou.

– Ah, ele está em casa. Falei com ele um pouco antes de entrar no banho – Me virei para encará-la ainda sem entender a preocupação dela.

– Na verdade não, filha... os policiais acabaram de nos avisar.

– Como não, mãe? Ele me ligou saindo do trabalho, depois mandou mensagem dizendo que chegou na garagem do prédio.

– E chegou, mas alguém interceptou ele antes de entrar no elevador.

– O que você quer dizer com "interceptou"? – As lágrimas já se formavam nos meus olhos.

– Um outro morador do prédio encontrou ele desacordado no chão da garagem, correu para avisar na portaria um pouco depois de a viatura que deveria acompanhar Bernardo estacionar em frente ao condomínio e...

– Desacordado? – Repeti interrompendo-a já começando a chorar.

– Filha, ele está bem. Ele estava sim desacordado, os policiais prestaram os socorros e ele acordou antes mesmo de ser encaminhado ao hospital. Bernardo foi agredido ao descer do carro, já dentro do prédio.

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