Família

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No dia seguinte saímos de casa cedo, avisei meus pais que acompanharia Bernardo em uma visita para a mãe dele que estava preocupada com o que tinha acontecido. Não era de todo mentira, Guilhermina realmente estava aflita querendo ver o filho, mas também combinamos com Osvaldo de conversarmos a respeito de uma possível nova fonte de investigação, essa parte não informamos aos meus pais.

A cidadezinha onde morava a família do Be ficava a mais ou menos 2h de viagem, dois seguranças nos acompanhavam por precaução, mas dessa vez era eu quem dirigia a camionete de Bernardo com ele no banco do carona me guiando pelo caminho, já que eu estava indo pela primeira vez, e os guarda-costas sentados no banco de trás.

Chegamos a um condomínio bem na entrada da cidade, paramos na guarita e Bernardo se identificou para o vigilante de plantão para que pudéssemos entrar. A rua principal era larga com um canteiro central repleto de sálvias vermelhas, alguns jardineiros uniformizados com o nome do condomínio regavam e podavam as plantas, além deles algumas crianças brincavam no gramado de uma das casas.

Na quinta rua viramos à direita e também no lado direito da rua paramos em frente a segunda casa – haviam apenas três por quadra. Guilhermina nos aguardava na porta sorridente, estacionei em frente a garagem e Bernardo já desceu para abraçar a mãe, que analisava tudo nele. Os hematomas que ele tinha no rosto melhoraram bastante de ontem para hoje, os menores haviam desaparecido completamente mantendo-se apenas um roxo no maxilar e um corte cicatrizando no supercílio.

Ao soltar Bernardo ela veio até mim me dando um abraço e nos convidando para entrar. Fernando estava na sala de estar e também nos cumprimentou receptivo, bem como a governanta Maria. Na sala de jantar havia uma mesa posta de café da manhã, eu agradeci por isso já que havíamos saído tão cedo que sequer conseguimos comer, eu estava morrendo de fome, como sempre.

Ainda estávamos à mesa quando Osvaldo entrou pela sala, Bernardo foi o primeiro a ir de encontro com ele. Se abraçaram e o pai parou com as mãos no rosto do filho observando os leves sinais dos hematomas dizendo

 
– O que aconteceu com você, garoto? Pelo amor de Deus.

 
– Eu estou bem, pai. Foi apenas um susto – Be garantiu sorrindo. – Falamos disso mais tarde.

 
Osvaldo assentiu e veio em minha direção me cumprimentando com um sorriso e um aperto de mão. Ao chegar em Fernando deu um longo abraço no caçula, ele era um garoto de apenas 16 anos e era visível o quanto sentia falta do pai, mas quando abraçou Guilhermina me fez pensar o quanto ela estava sendo forte por ele. Na verdade, a força de toda aquela família me admirava. Como o casamento deles sobreviveu, como os filhos mantinham o respeito pelo pai e como em nenhum momento os três deixaram de confiar no patriarca. Esse pensamento me fez sorrir vendo os pais de Bernardo ainda abraçados.

Terminamos de comer e ajudei Guilhermina a limpar a mesa, depois nos sentamos no jardim dos fundos enquanto Bernardo conversava com seu pai e irmão na sala de estar. Ela me mostrou algumas de suas flores, todas muito bem cuidadas por suas próprias mãos, entre dois canteiros de petúnias coloridas havia um banquinho à sombra de um pergolado coberto por trepadeiras onde nos sentamos. Falamos sobre coisas corriqueiras como minha faculdade, meu trabalho e como estava ela e Fernando, a última vez que nos vimos foi antes do sequestro, então esse também foi um assunto do qual falamos.

 
– Sabe, Camilla – Guilhermina disse tomando minha mão entre as suas – nossa família tem passado por momentos muito ruins há vários anos, desde que Bernardo começou a namorar você ele está... –  ela hesitou dando um leve sorriso – Fazia tempo que meu filho não aparentava estar tão feliz, você devolveu ao rosto dele um sorriso que eu há muito não via.

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