Um acordo

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Uma enfermeira havia acabado de deixar o jantar para Bernardo quando dois policiais chegaram à porta do quarto, resolvi ir até a lanchonete do hospital procurar algo para comer deixando que os três conversassem sozinhos. O segurança que estava em frente a porta me acompanhou até a cantina andando a poucos passos de mim.

Estavam servindo um prato feito de arroz, legumes e frango grelhado, o mesmo que levaram para Bernardo, mas eu não tinha fome o suficiente para uma refeição completa. Em uma estufa vi alguns salgados assados e escolhi o que tinha recheio de presunto e queijo, depois que a atendente esquentou no micro-ondas me sentei em uma das mesas disponíveis para comer.

De volta ao quarto algo me passou pela cabeça, desviei do meu caminho em direção a recepção, não sem antes informar ao segurança essa alteração na rota. Encostei no balcão e perguntei para a recepcionista sobre alguém que eu sabia estar naquele hospital:

– Olá, poderia me informar o quadro do paciente Yago Fernandes?

– Qual a sua relação com o paciente? – A moça me perguntou enquanto digitava.

– Sou apenas uma amiga – respondi enquanto ela localizava o nome dele no sistema.

– O paciente foi encaminhado ao quarto esta tarde.

– E ele pode receber visitas?

– Preciso verificar quantas pessoas estão no quarto nesse momento pois não pode passar de dois visitantes, se quiser posso ligar para a enfermaria próxima e perguntar.

– Por favor... – aguardei ela discar. – Se não for pedir muito, verifique se o acompanhante é o irmão dele... nós não nos damos muito bem então preferiria evitar encontrar ele lá – menti.

A recepcionista me olhou com uma expressão confusa, mas assentiu. Eu não queria estar no mesmo ambiente que Yuri, não sei dizer porque aquele cara me dava calafrios.

– Boa noite, o quarto 303 atingiu o limite de visitantes? – Ela aguardou a resposta do outro lado da linha e me avisou – A enfermeira vai verificar.

Olhei em volta enquanto a recepcionista permanecia na linha, demorou dois minutos até que ela voltou o telefone no gancho e voltou a falar comigo.

– Um dos visitantes acaba de sair, o paciente está acompanhado da mãe.

– Ok, eu vou até lá.

– Ala C, quarto 303. Primeiro corredor à direita, segundo à esquerda. É só seguir as placas indicativas.

– Obrigada.

Caminhei pelo corredor longo e branco observando a sinalização, o primeiro caminho à esquerda me levaria do quarto 101 ao 108, seguindo pela direita eu encontraria os quartos 201 ao 208. Antes que eu pudesse chegar a segunda passagem vi alguém sair desse corredor para o principal, Yuri deveria ser o segundo visitante que estava saindo do quarto de Yago e acabei cruzando com ele no caminho.

Pensei em interromper o trajeto, mas me lembrei do segurança atrás de mim e me senti mais tranquila. Algo nele me chamou a atenção, a mão direita estava com alguns machucados, aparentemente inchada. Não pude evitar de pensar que ele parece aquele tipo de homem que esmurra a parede quando está irritado.

Yuri deve ter notado que eu estava olhando, pois cerrou os punhos e eu inevitavelmente desviei o olhar para seu rosto percebendo seu cenho franzido. Ele passou por mim ainda me encarando carrancudo, apressei o passo e virei à esquerda saindo de seu campo de visão e parando para tomar fôlego.

– Algum problema, senhorita? – O segurança perguntou parando ao meu lado.

Apenas neguei com a cabeça e continuei andando para o quarto 303. Cheguei a porta e notei que Yago tinha a cabeça enfaixada e o pescoço imobilizado, ele estava dormindo. Na poltrona, encontrei uma mulher bem vestida sentada próxima ao leito com as mãos sobre a dele, ela levantou o olhar quando percebeu minha chegada e vi que seus olhos estavam vermelhos de choro.

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