Fazia meia hora que as aulas haviam acabado e, dessas, Kássia estava há vinte minutos aperfeiçoando uma coreografia de dificuldade mediana que contém muitos passos de movimentos da mão, o que é difícil de memorizar e sincronizar com os passos de pés. Kássia costuma passar mais tempo na sala de dança por detalhes como: ritmo, balanço, movimentação assíncrona e detalhes de movimentação de braço. Por gostar disso, ela raramente falava com os outros presentes.
No entanto, em dias ensolarados como aquele e com pessoas suando no mesmo espaço, não havia como escapar de alguma conversa pequena.
- Alguém tem água? - Uma vozinha baixa chamou a atenção dos participantes do treinamento.
Kássia olhou de canto para a origem. Era Luana, a irmã mais nova de Luís. Ela estava vestida com uma roupa de treino bem extravagante e contemporânea. Usando aquelas calças moletom com marcas do outro lado do mundo, um top preto e um cropped sem manga estilizado. Outros alunos buscaram garrafas, mas todas estavam praticamente vazias e isso levou alguém a se oferecer para enchê-las todas de uma vez. A de cabelos azuis olhou para a própria garrafinha esquecida no canto ao lado da mochila, completamente cheia de pouco tempo atrás e, para azar, não foi só ela que notou. Luana aproximou-se.
- Posso beber um gole? - Ela perguntou com uma voz paqueradora.
Kássia ignorou a segunda intenção, seguiu até a garrafinha para pegá-la e em seguida entregá-la ao pedinte.
- Claro. - Então, mirou nos olhos castanhos escuros da outra jovem projetando um sorriso de segundas intenções falso - Por que não?
"Passamos da fase de mexer com os gêmeos", disse Diogo no outro dia. No entanto, não era mais problema de Kássia quando não foi ela que começou, certo?
- Que simpática! - Ela sorriu de volta, mas ao ser correspondida por alguém como Kássia, estava sem graça.
Kássia quis movimentar a boca em um sorriso vitorioso, porém segurou o impulso para não demonstrar que havia gostado daquele breve momento de disputa e, ainda, observou a jovem beber por pouco tempo.
- Coloque lá depois - disse para finalizar a conversa, apontando para onde sua mochila estava.
Em contrapartida, a garota permaneceu do seu lado observando as tentativas de Kássia de acertar a coreografia sozinha para encaixar com o grupo depois. No começo, a jovem não se importou. Havia sempre algo de transbordar confiança na Muller, mas o que deveria ser um minuto de descanso, se tornou mais de vinte minutos de inquisição de Luana que agora estava sentada no chão com a mão no queixo enquanto mirava olhos atentos para o que Kássia fazia. Aos poucos, o sentimento de inquietação em Kássia cresceu ao ponto de que ela deslizou e teve que segurar-se com os braços para não bater o rosto no chão. O barulho do seu tênis fez um som extremamente alto.
Kássia estava com vergonha, não era do seu feitio falhar assim e isso a levou a irritação. Por isso, ela respirou fundo e tentou ignorar a gêmea lá. Luana, no entanto, teve que segurar o impulso de se levantar para ajudar a outra a se levantar. A Muller ergueu o próprio corpo devagar e balançou os membros soltando um suspiro para voltar à concentração. Mas parecia que Luana não queria deixá-la ir tão facilmente.
- Tudo bem?
Um olhar foi suficiente para Luana perceber que, mesmo que Kássia não estivesse, não era da conta dela e ir para longe, ocupando um espaço só dela, deixando Kássia continuar com a prática. No final, ela tentou outra abordagem e dessa vez a jovem de cabelos azuis dispensou-a de modo mais polido e direto para não deixar brechas de maus entendimentos posteriormente. Kássia não era obrigada a respondê-la educadamente, mas até ela tinha maturidade para entender que a outra jovem não tinha culpa ou motivo para ser tratada mal.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Retalhos de Nós
Teen FictionKássia Muller já foi uma criança inocente e pura. No entanto, ao demonstrar sua forma tímida e pura de amor, seu mundo desabou e a pessoa a quem entregou seu coração tornou-se apenas uma névoa branca longe de seu alcance. Não foi difícil entender co...