7 - Pegando no pé: Tiro pela culatra

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Diogo andava pelos cantos da cidade como uma pilha de nervos e Kássia chegou à conclusão de que havia desencadeado uma catástrofe sobre a vida do amigo. Ele estava na frente da escola esperando a colega mais uma vez, só que com a expressão de mal encarado que ele não costumava ter, porque costuma paquerar as pessoas quando entediado. Kássia percebeu que vários alunos estavam se afastando dele e como essa situação já durava dias, finalmente, era melhor acabar com a missão para o próprio bem dele e da popularidade que ele tanto preza.

No entanto, quando chegou próxima dele com um "bom dia", ele segurou sua mão com força e a puxou para dentro da escola, até às escadarias das aulas do andar de cima. Era sempre vazio por ali, poucos alunos gostavam de vislumbrar o lance de escadas quando podiam usar o elevador que ficava em outro lugar.

- Que bicho te mordeu hoje? - Ela perguntou assim que ele soltou sua mão e dirigiu os olhos para as laterais, percebendo que não havia mais do que uma ou duas pessoas de passagem.

- A discussão! Eu consegui o contexto - ele respondeu.

Kássia ergueu os olhos com ambos arregalados. Não é que ela estivesse surpresa em Diogo ter conseguido qualquer coisa - ele é bom em conversar com as pessoas -, mas sim que ele estava todo esquisito por dias só para descobrir isso. A Muller se sentiu mais culpada ainda.

- Olha, cara, a gente pode deixar isso de lado, sabe? - Ela disse, nervosa - Não é como se alguém tivesse acabado com a vida de alguém...

- Shiii! - Ele colocou o dedo pequeno na frente dos seus lábios e olhando para os lados alerta, para pouco depois confirmar que poderia continuar - Escute. Luís estava na quadra discutindo algo com a irmã, mas ela rebateu dizendo que não era da conta dele e isso, essa discussão dele, começou porque alguém do clube de dança perguntou a Luana se ela estava querendo sair com você. Discussão vai, discussão vem, Myllena tentou intervir sem entender nada e Luís do nada começou a xingar sua sexualidade. Myllena e Luana ficaram estressadas com a situação, mas Myllena não disse mais nada enquanto Luana foi para o time contrário do irmão.

Kássia parou em um minuto de suspense e Diogo a observou em antecipação à sua reação. O problema é que Kássia não fazia ideia do que fazer com essa informação já que essa é voltada para si e não estava esperando por uma briga devido a isso, então ela franziu as sobrancelhas. Pensando nisso, também, ficou com mais raiva de Luís, como ela não tinha nada a ver com o assunto, por que ele veio logo atacando ela e não a Luana, para quem a pergunta havia sido dirigida? Quer dizer que ser bissexual é horrível, mas se for sua irmã, não? Que porra?

- Bem... Não sei se isso ajuda muito - respondeu, reflexiva.

Diogo suavizou a expressão e sorriu sem graça.

- Nem eu, na verdade - Ele arregalou os olhos, fazendo uma expressão engraçada de decepção, mas depois apenas suspirou - Mas isso me faz pensar que deveríamos dar uma coça no Luís, esse arrombado escroto.

Kássia balançou a cabeça negando a afirmação, em seguida viu pessoas surgindo para caminhar em direção às salas do primeiro andar e isso levou a jovem a puxar Diogo pela gola da camisa até a sala que ambos frequentavam.

- Nah. Deixe isso para lá - ela disse enquanto se esquivava das pessoas apressadas - Nós pensaremos em algo depois.

O problema de Diogo era esse. Kássia não era do tipo que esquecia as coisas, mas era do tipo que, se segurasse mais do que precisava, deixava o assunto de lado. Ele não queria deixar o assunto de lado. Como a própria Myllena contou, Kássia é uma pessoa que costuma afrontar quem estiver errado, prestar atenção nas aulas de modo esforçado e ser uma garota de gênio forte; no entanto, desde que a outra chegou, Kássia estava mais para uma pessoa calada passiva que deixava as bagunças ao seu redor acontecerem. Ou talvez fosse essa impressão que estava enraizada na cabeça de Diogo ao saber que a amiga havia passado por um inferno sem revidar ou confrontar a causa disso por todos esses anos. Isso era muito errado e Diogo estava odiando esse pedaço confuso dela, querendo mandá-la reagir - socá-los, se necessário. Por isso, insistiria na vingança mesmo que ele mesmo tivesse que executá-la.

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