8 - Pegando no pé: planos obscuros

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Kássia estava se esforçando para sentir vergonha da atitude que tomou, ainda mais após ver a expressão de Janice crescer em decepção quando ela leu o comunicado que levou de volta para casa, mas era impossível. No fim, mesmo que Janice estivesse certa sobre questionar sobre o que sobrava depois de brigar, sendo isso apenas um joelho lesionado, a Muller não conseguia não sorrir maleficamente ao lembrar da expressão espancada de Luís.

Ela estava num limbo de tentar se obrigar a se sentir mal pelo ocorrido e ficar irritada com Luís toda vez que seu joelho envolto em uma joelheira ortopédica rangia dolorido enquanto andava, retornando a quer dar nele mais uns bons socos na fuça. Kássia franziu as sobrancelhas olhando para frente indistintamente, sua calça estava levantada no limite do joelho enquanto caminhava em direção a escola com um Diogo silencioso em seu encalço ajudando-a a se apoiar.

Kássia também lembrou de Janice dizendo que existem coisas normais aos adolescentes que, desmedidas, não valem a pena. Ela estava se esforçando para parecer arrependida e demonstrar uma imagem solene na escola, mas uma pessoa "exemplar por aparência" como Luís sempre mereceu uma boa coça¹ para aprender a ter modos, ser responsável pelo ato a satisfaz profundamente, mesmo que a consequência fosse ser quase carregada até a escola e não poder andar apressadamente, correr ou até mesmo dançar. O conjunto de fatores fez com que ela dissesse a Diogo que iria largar o assunto com Myllena e, ele, preocupado, não discutiu sobre.

Os dois adolescentes chegaram na escola depois de muito esforço e Diogo estava mordendo a língua para não xingar a lerdeza de quando caminhavam. Afinal, parte do que aconteceu era culpa sua, mesmo que Kássia e Luís sempre esperassem a mínima desculpa para brigar. Os outros alunos, aqueles que viram a luta, olhavam para o par de amigos curiosos, medrosos ou julgando-os e isso o deixou mais irritado do que quando pensou na culpa e na coragem dos gêmeos. No entanto, sua amiga parecia querer implorar que ele se apressasse e chegasse à sala para ela conseguir sentar de uma vez, deixando a perna relaxar.

No meio do caminho Myllena entrou em suas frentes e olhou apreensiva para Kássia. A azulada parecia tranquila quanto à sua presença, o que Diogo estranhou violentamente e seu cérebro o alertou para beliscá-la.

- Bom dia, Kas, uma palavra rápida? - Disse ela, com as mãos torcendo-se uma na outra.

Kássia suspirou alto, levantando e abaixando os olhos dramaticamente. A expressão de Myllena pareceu afetada pela sua atitude, porém essa suavizou rapidamente quando a azulada sorriu com um brilho esquisito nos olhos castanhos.

- Fique à vontade - disse.

Diogo não sabia o que a amiga estava pensando sobre o assunto, mas se manteve como um bom amigo, segurando sua mochila e sendo apoio para seus braços no intuito de evitar o excesso de peso no joelho danificado.

- Veja... Eu sei que você, bem... Gosta de verdade de garotas - a garota começou, desviando os olhos julgadores do par de amigos - Por isso, tentei explicar a situação para Luís enquanto Luana estava defendendo você e chegamos à conclusão de que vocês deveriam dar desculpas um ao outro - Myllena, no final, dedicou uma olhadela no joelho coberto pelo tecido de apoio. - Sinto muito.

Diogo tentou segurar a expressão, mas seus olhos abriram-se enormemente conforme o discurso da outra continuava. Ele estava abismado com a coragem. Quer dizer, caso - isso considerando algo que aconteceu mesmo - Luís quisesse pedir desculpas de verdade, ele não viria pessoalmente dizer isso para Kássia? Ou comentar com Diogo? Ele realmente precisaria de Myllena Barroso, uma estranha, fazer isso por ele? Puft², isso parecia uma desculpa muito feia para que, a fim de apagar o passado, invés de apontar errados, os dois admitissem derrota. O jovem olhou para a amiga ao seu lado e viu a boca dela tornar-se uma linha tensa de irritação.

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