Kássia tomava um copo de café enquanto respirava fundo. A pequena janela do quintal estava aberta, mas o vento estava tão parado que ela apenas tentava vegetar e esquecer o calor. No último final de semana, Myllena dormiu em sua casa dividindo a mesma cama e, no dia seguinte, ela ficou mais feliz do que o normal.
Kássia estava pensando sobre isso há um tempo. Cada vez que não expressava que iria bater em Myllena, os olhos dela ficavam espertos observando seus movimentos, cada vez que a dizia algo gentil, ela sorria e quando sorria minimamente, parecia que para a Barroso era como receber um doce. As coisas estavam muito estranhas com várias dessas situações, porém a Muller não conseguia não se sentir feliz com o final do tormento de encontrá-la batendo à sua porta; segunda-feira começavam a tomada de provas e, exatamente nesse dia, tudo estava pago e terminado.
Depois de tomar o café e comer algo reforçado, Kássia olhou para a casa vazia e pensou no que faria a partir de agora para passar o tempo enquanto esperava Myllena aparecer. Suas opções eram entre fazer comida para ela ou ir treinar a coreografia. Rapidamente ela olhou para as escadas e desistiu da primeira opção, mas enquanto subia em direção ao próprio quarto, seu celular vibrou no bolso do moletom, então, pegou-o para ler a mensagem.
CapetaSaiDaMinhaVida: Hey!CapetaSaiDaMinhaVida: Me desculpa! Eu acabei acordando tarde
CapetaSaiDaMinhaVida: Minha vó também não me acordou 😫, estou me arrumando para ir aíKássia ficou parada na escada pensando sobre o assunto, sua mão começando a balançar o celular enquanto ela ponderava em dispensar Myllena — consequentemente, seguindo o conselho de Diogo. Os olhos da de cabelos azuis fixaram na parede logo acima, no fim da escada, que possuía um relógio analógico de madeira.
Tic. Tac. Tic. Tac.
A Muller baixou os olhos para o celular, desviando do relógio. Era cedo demais, porém tarde demais para a rotina que estavam praticando nesses finais de semana, com o conhecimento da dificuldade da Barroso de entender os assuntos, elas começavam pouco mais de sete horas da manhã. Nesse dia em específico, já passava das onze.
Kássia olhou para os próprios pés, então suspirou mudo, guardou o celular no bolso e desceu as escadas para preparar um segundo café.
Após alguns minutos, o furacão Myllena bateu na porta e atravessou ela como se pudesse mandar a de cabelos azuis para os ares.
— Você não vai acreditar! Minha vó disse que já chega de estar enfurnada na sua casa, fazendo o que só Deus sabe! Que velha safada! — dizia indignada.
A Muller a observou parada, logo após fechar a porta. Os cabelos castanhos da Barroso estavam desorganizados e molhados, pingando por todo o chão à frente. A saia que ela colocou estava torta, com o zíper central pouco acima da nádega esquerda da jovem; suas sapatilhas desgastadas estavam nitidamente trocadas, suas meias coloridas em posições diferentes. Kássia balançou a cabeça, decidida a não prestar mais atenção e se esforçou para prender o riso na garganta, pois a outra jovem estava muito indignada.
A verdade é que não deu certo, e o riso da Muller voou no ar, fazendo encolher os ombros da Barroso. Myllena estava pensando que iria ser alvo de bullying de novo, ainda mais tendo ciência de que correu da própria casa até ali na maior pressa que conseguia — ela estava, no fundo, com medo de perder os últimos momentos íntimos com a de cabelos azuis. Seu medo se tornou desconforto quando o silêncio reinou e ela não olhou para trás.
Quando o coração da Barroso parou de bater em erratas constantes, ela pôde ouvir os pés de Kássia descendo da escada — ela não tinha ouvido a outra subir lá, de tão eufórica e amedrontada que ficou — e caminhar até sua posição. Estrategicamente, Myllena tentou esconder o rosto, porém, a atitude não era necessária. Uma toalha foi depositada gentilmente em sua cabeça.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Retalhos de Nós
Teen FictionKássia Muller já foi uma criança inocente e pura. No entanto, ao demonstrar sua forma tímida e pura de amor, seu mundo desabou e a pessoa a quem entregou seu coração tornou-se apenas uma névoa branca longe de seu alcance. Não foi difícil entender co...