Futuro

1.3K 155 55
                                        

Sasuke

Conforme Sakura relatava seu encontro com meu irmão, os outros começaram a chegar, acomodando-se perto de nós. O dia foi acabando, a noite caiu, e quando ela terminou de falar, só Naruto e Hinata ainda não haviam chegado.

Tínhamos iniciado uma fogueira, cozinhado peixes, preparado nosso acampamento durante seu relato. Agora, o silêncio tomava a roda de ninjas, todos nós assimilando o que acabáramos de ouvir.

- Então Itachi não é... Mau? – perguntou Tenten. Ela parecia tão confusa quanto eu, os olhos focados em Sakura e o queixo caído.

Sakura deu uma risadinha e meneou a cabeça, respondendo à pergunta da amiga. Outros questionamentos surgiram, mas eu não escutava mais nada. Estava muito envolvido em meus pensamentos e nas novas descobertas.

Itachi tinha feito tudo... Para me proteger? Eu tinha passado anos da minha vida esperando pelo momento de me vingar, mas agora tinha nova luz sobre os eventos. Sempre vira meu irmão como um vilão, então tinha muita dificuldade de entender que ele era, de certa forma, o mocinho da história.

Enquanto a conversa seguia perto da fogueira, eu fiquei em silêncio, absorvendo tudo que acabara de descobrir. Meu olhar vagava, perdido, enquanto minha mente se fixava em memórias do passado. Momentos ao lado de Itachi quando eu era criança, treinos e conversas, brincadeiras e piadas internas. Eu o idolatrava quando era menor e achava que esse sentimento tinha morrido depois do ataque ao meu clã.

Tinha alimentado por tanto tempo meu ódio, vivendo apenas para ver o fim de meu irmão, que não percebera que ele continuava em um pedestal em minha vida todos esses anos. Eu tinha me convencido de que o odiava, tinha engolido qualquer sentimento bom que me atingisse, transformando tudo em escuridão. Sakura trouxera a luz e era difícil de me adaptar depois de tanto tempo no escuro.

Além dos sentimentos por meu irmão, agora eu tinha outra confusão em minha cabeça. Vivera tão determinado a adquirir poder para atacar Itachi, que nunca pensara no futuro. O que eu seria depois? Não tinha nem cogitado isso. Sabendo de toda a verdade, estava sendo obrigado a pensar no futuro. Estava livre, de Akira e do peso do ódio. O que eu ia ser agora?

Nunca tinha planejado uma vida, nem pensado em minha velhice. Agora, estava estático, percebendo que precisava de um novo propósito para viver.

Tirando-me de minhas reflexões, Naruto surgiu, carregando Hinata no colo.

- Finalmente – Kakashi disse, batendo o dedo no pulso como se indicasse um relógio.

Naruto ajudou Hinata a se sentar com muito cuidado. Ela estava vermelha e tinha uma expressão de dor no rosto.

- Aconteceu outra explosão e um escombro atingiu o pé dela – Naruto explicou, sentando-se ao lado da ninja. – Tive que carrega-la o caminho todo.

- Também carreguei Sakura e fomos os primeiros a chegar – provoquei, rindo da expressão de raiva de Naruto.

Ele ia começar a gritar comigo, afobado como sempre, mas Sakura cobriu sua boca.

- Vou tratar esse ferimento – Sakura disse, carinhosamente, para Hinata.

Naruto bufou com a censura, mas voltou seu foco ao trabalho de Sakura. Depois de usar alguns jutsus e emanar chacra para o local ferido, Sakura terminou de curar o osso quebrado e o corte, deixando o pé de Hinata novo em folha.

- Obrigada, Sakura – Hinata agradeceu com seu tom de voz tímido e quase inaudível.

- Você deve estar com fome – Naruto concluiu, colocando um pedaço do peixe assado que restava na fogueira e entregando a Hinata. Ela corou com a atitude dele.

- Naruto-kun... – Ela não falava, murmurava. – Obrigada por me salvar.

- Não foi nada! – Naruto fez um joinha, abrindo um grande sorriso. – Só cumpri minha obrigação de ninja.

Hinata abaixou a cabeça, ainda mais sem graça.

- Ah, claro... – gaguejou.

Ela começou a comer seu peixe e as conversas retornaram ao redor da fogueira, tirando a atenção de Hinata. Naruto se apoiou em uma árvore perto de onde eu estava e eu só conseguia encará-lo e me perguntar como alguém podia ser tão desatento.

- Você é mesmo um idiota – soltei, em sua direção.

Naruto me encarou, furioso, seu rosto vermelho.

- Do que você me chamou?! – gritou, estridente.

Encolhi os olhos diante de sua voz potente. Ele poderia enviar a notícia de que estávamos seguros a Tsunade sem precisar de um falcão, bastava soltar outro berro desses.

- Como não percebeu ainda que Hinata é louca por você? – indaguei, falando baixinho para que ela não ouvisse.

Naruto estava pronto para argumentar, mas parou no ar, a boca aberta e o dedo apontado para mim. Demorou alguns segundos para assimilar o que eu dissera, então perguntou, também sussurrando:

- Ela é?

- Pelo amor de Deus... – Joguei as mãos para os céus, incrédulo de tanta distração.

Ele ficou em silêncio um tempo, pensando sobre o que eu dissera. Parecia reavaliar cada momento ao lado de Hinata, agora que tinha essa nova conclusão. Eu resolvi deixa-lo sozinho, raciocinando.

Sakura estava na margem do rio, molhando os pés e observando o céu estrelado, então fui me sentar ao lado dela. Havia algo que queria conversar e, agora que estávamos livres, havia chegado a hora.

- Fiquei pensando sobre uma coisa que você falou – comecei, chamando sua atenção.

Ela virou o rosto em minha direção, sua pele brilhando sob a luz da lua. Sakura estava radiante, com seus cabelos soltos e os olhos verdes iluminados. Eu ri de mim mesmo por dentro. Tinha acabado de chamar Naruto de idiota por não perceber os sentimentos de Hinata, mas eu também era um idiota. Como tinha demorado tanto tempo para ficar com ela? Como podia ter recusado uma vida ao seu lado tantas vezes? Agora que a tinha, só conseguia me perguntar como tinha sido tão burro.

- Você disse que, antes da primeira explosão, Itachi percebeu algo diferente em seu chacra.

Sakura assentiu, percebendo o caminho da conversa.

- E, quando atacou Akira, ele disse que não deixaria o general tocar em "nenhum dos três" Uchihas...

Ela me observava atenta, esperando que eu concluísse. Seus olhos pairaram sobre os meus, observando meu Sharingan enquanto eu lia todo seu corpo. Em seu ventre, havia uma concentração de chacra intensa e muito mais forte que o normal.

- Não somos casados, então ele não estava se referindo a você – concluí.

Sakura aguardava paciente, sorrindo para mim. Eu ainda a avaliava, incrédulo com a quantidade de energia que havia em seu ventre. Parecia até que haviam duas pessoas ali.

- Você está... – Eu quase não conseguia completar a frase. – Grávida?

Ela abriu ainda mais o sorriso, mostrando os dentes brancos. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Sakura, mas era de felicidade. Ela acariciou o próprio ventre, carinhosa e maternal, tão doce que me fez suspirar.

- Estou.

O Único JeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora