Quem?

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Sakura

Naruto estava comendo quando saí do banheiro. Ele me encarou, percebendo minha expressão irritada.

- Ele não muda, não é?

Bufei em resposta.

- Ele consegue sair da banheira sozinho? – Naruto se preocupou com o estado de Sasuke, mas eu estava irritada demais para me importar com isso.

- Ele se vira – respondi, furiosa.

Naruto segurou uma risada e foi até o banheiro, para ver se Sasuke precisava de ajuda, mas o Uchiha já tinha saído da banheira sozinho e estava mancando até o quarto, enrolado em uma toalha da cintura para baixo.

Naruto e eu ficamos observando enquanto Sasuke ia até a porta do quarto. Ele bateu duas vezes e Yra a abriu, enfiando a cara para dentro. Sasuke pediu roupas, Yra fechou novamente a porta e ouvimos um burburinho lá fora. Cinco minutos depois, a porta se abriu outra vez e Yra jogou um emaranhado de tecidos na direção de Sasuke, e então trancou a porta novamente, prendendo-nos no quarto.

Sasuke voltou para o banheiro e se vestiu, voltou usando uma calça, mas aparentemente não tinham lhe dado uma camisa. Ele se sentou, com certa dificuldade, em uma das camas, e ficou encarando o nada, como era comum. Naruto foi o primeiro a se irritar com o silêncio.

- Acho que a gente merece uma explicação, não é?

Sasuke virou o rosto na direção de Naruto, com uma expressão de desdenho. Depois voltou a olhar para o nada a sua frente.

- Não devo nada a vocês – respondeu, frio.

Naruto começou a ficar vermelho de raiva.

- Sakura salvou a sua vida e você diz que não deve nada a ela? – gritou.

Sasuke fechou os olhos e massageou as têmporas, claramente farto de Naruto, apesar de estarmos apenas no começo da viagem.

- Ela me salvou porque quis, eu não pedi. Portanto, não devo nada a vocês.

Ficamos em silêncio por um tempo, digerindo a conversa. Impressionantemente, Sasuke foi o primeiro a falar.

- Mas agradeço por cuidar dos meus machucados – Ele soltou as palavras como se elas estivessem queimando sua língua. Era evidente que ele não tinha prática em agradecer ou ser gentil.

- Só fiz o meu trabalho – respondi, tentando manter a conversa formal, quase profissional.

Sasuke me olhou de canto de olho, medindo minhas expressões, meu tom de voz, minha posição. Ele estava intrigado com o que eu tinha dito antes de sair do banheiro, mas não queria admitir, muito menos falar sobre isso perto de Naruto.

- Acho melhor descansarmos, ainda tempo muita viagem pela frente – Sasuke sugeriu.

- Onde fica essa tal vila Itami, afinal? – Naruto perguntou, cansado por antecedência.

- Não sei a localização exata. A vila é um forte militar, quase impossível de achar de primeira. Só sei que ainda temos mais ou menos uma semana de viagem pela frente até lá.

- Uma semana?! Meu Deus, eu não aguento isso! Que diabo de vila distante que você resolveu invadir – Naruto se exaltou, sua voz tomando todo o quarto.

Eu também fiquei impressionada com o que Sasuke dissera. Achava que teríamos mais um ou dois dias de viagem, não uma semana.

- Para de fazer escândalo – Sasuke exigiu, com os dentes trincados.

Naruto cruzou os braços, como uma criança mimada, e se deitou em sua cama. Ficou murmurando para si mesmo, reclamando como um velho rabugento, mas depois de um tempo fez silêncio e eu percebi que ele tinha dormido.

Apaguei a luz fraca do quarto, ficando na escuridão quase completa. Alguns feixes de luz passavam pela tinta na janela, permitindo que enxergássemos alguma coisa dentro do cômodo. Peguei algumas frutas para mim e bebi um pouco de água. Então me deitei em minha cama dura e fria, cobrindo-me com um lençol fino.

- O que você quis dizer? – Sasuke sussurrou, atrás de mim. Eu estava deitada de costas para ele, sem querer encara-lo.

- Sobre o que?

- Você sabe do que estou falando – Ele falava baixo, sem querer acordar Naruto. – Quando disse que alguém já tinha feito isso por mim, o que quis dizer?

Abri um sorriso presunçoso. Então ele tinha ficado interessado nisso? Uma pequena centelha de esperança brilhou dentro de mim. Será que Sasuke estava... Com ciúmes?

- Exatamente o que você ouviu – respondi, vagamente.

Eu o ouvi suspirar de irritação atrás de mim. Ficamos em silêncio mais algum tempo, mas logo ele se remexeu na cama, inquieto, e perguntou:

- Você está grávida? – Ele tentou soar casual, mas sua voz tinha uma nota de irritação.

- Eu também não te devo nenhuma informação – devolvi, dando a ele um gosto de seu próprio veneno.

Sasuke se calou, assimilando o que eu dissera. Fez silêncio por um bom tempo, tanto que eu achei que ele tinha dormido. Virei-me de barriga para cima e, discretamente, observei-o. Ele estava acordado, olhando intensamente para o teto. Sua pele parecia ainda mais branca à luz da lua, sedosa e atraente. Se eu não estivesse tomada pela raiva, poderia passar o resto da noite observando seu corpo.

- Quem? – perguntou ele, de repente, sem olhar para mim.

Sasuke sabia que eu o estava encarando, mas não virou em minha direção. Eu via apenas metade de seu rosto, sua expressão indiferente, seus olhos sem vida. Ele fazia a pergunta como se fizesse parte de uma estratégia técnica, mas havia algo a mais... Se eu me permitisse ser otimista, diria que ele estava ressentido.

Por outro lado, eu teria que responder sua pergunta. Se minhas suspeitas estivessem corretas e eu realmente estivesse com a menstruação atrasada por causa de uma criança, Sasuke precisava saber quem era o pai. Fazia mesmo parte de uma estratégia técnica.

Observei Sasuke por mais um tempo, prestando atenção em cada linha de expressão em seu rosto. Ele não se virava para mim, mas seus olhos dançavam no teto, provavelmente maquinando possibilidades. Eu tentei estender o silêncio o máximo que pude, protelando a verdade, mas uma hora teria que contar e era melhor falar logo.

Puxei o ar e, baixinho, admiti:

- Naruto.

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