CAPÍTULO UM

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— O gráfico azul mostra o quanto os hóspedes têm gostado do novo hotel em Londres, ou seja, não vamos precisar de mais atrações. — Disse Pedro terminando sua apresentação.

Toda atenção voltou-se para meu pai, Benício, sentado na ponta da mesa de vidro. Ele ainda encarava os gráficos que foram mostrados e parecia pensar sobre tudo o que ouviu. Somos uma companhia de hotéis espalhados por toda Europa e Ásia, porém há alguns meses, surgiu um grupo de hotéis e cassinos muito famoso nas Américas que quer vir para esse lado do oceano. Agora a briga entre meu pai e o dono desta filial é muito grande.

Nós temos um novo local no centro de Porto em Portugal para comprar e colocar ali um González Hotéis, porém essa filial da América também está de olho, o que tem dificultado muito nossas vidas, quer dizer, a minha em especial, pois sou eu quem gerencio todas as compras e gastos de quase todos os hotéis. Tudo isso acaba sendo um grande estresse para mim, pois Benício vê a oportunidade de se ter um poder sobre mim. O homem não exita em sobrecarregar todo meu trabalho.

— Não estou preocupado com Londres, temos Inglaterra na palma de nossas mãos. O que me interessa nesse momento é os hotéis de Dublin e Portugal. — Disse Benício colocando seus olhos em mim. — E então, Bárbara?

— O Sr. Perrone quase cedeu ao nosso investimento de quatrocentos mil, entretanto a Heinrich Group fez uma proposta de oitocentos mil ao qual Perrone disse analisar.

— E o que mais?

— Creio que se oferecermos mais quinhentos mil, Heinrich Group desistirá.

Houve alguns murmúrios pela sala, muitos concordam com minha sugestão, mas outros acham que é muito dinheiro e um grande risco que vamos correr. Eu particularmente acho desnecessário a compra desse prédio, porque já temos dois hotéis em Lisboa, qual a necessidade de mais um?

— Faça o que achar necessário para a compra do local, eu quero esse lugar nem que precise pagar vinte, trinta milhões para tê-lo. — Benício falou e se levantou, em seguida saiu da sala.

Eu estou completamente ferrada. Se eu não conseguir comprar esse lugar, não sei o que Benício será capaz de fazer comigo.

Todos os outros saíram também deixando-me sozinha, olho no relógio em meu pulso vendo que já chegou meu horário de almoço, pego minhas coisas e deixo o prédio da empresa, dirigindo até o restaurante o qual sempre almoço com meus dois melhores amigos, Clarke e Henry.

— Bárbara. — Clarke chama e acena para mim sorrindo.

Sento ao lado de Henry que beija minha bochecha.

— Como foi sua manhã, baby?

— Aquele grupo da América está sendo um grande pé no saco. Benício mandou que eu fizesse uma nova proposta, ele quer a todo custo Porto.

— E por que exatamente?

— É o que venho me perguntando também. — Respondo e nosso almoço é servido, já que eles pediram por mim antes de chegar. — E vocês?

Clarke diz que ocorreu tudo normalmente onde trabalha, ela é vice-presidente na empresa de sua família e Henry é o diretor de marketing no mesmo lugar. Nosso horário de almoço correu muito melhor do que esperado, meus amigos conseguiam me distrair de todos os meus problemas, mas nem tudo é um mar de rosas e logo tive que voltar para o trabalho.

Entro em minha sala e revejo todos os documentos do prédio em Porto, alguns minutos mais tarde eu disco o número do Sr. Perrone.

Olá, mio bella¹. — Ele saúda assim que atende.

— Boa tarde, Sr. Perrone.

— Apenas Matteo, mio bella, já lhe disse. Veio tratar da compra do meu prédio?

— Sim, eu tenho uma nova proposta de um milhão e quinhentos mil pelo seu prédio. — Respondo tendo alguns segundos de silêncio.

— Bárbara, o presidente da Heinrich Group me convidou para ir até Nova Iorque depois de amanhã tratar pessoalmente sobre a compra, foi me oferecido dois milhões e quinhentos mil no prédio. Não aceitarei menos que isso. Seu pai possuí toda Europa e creio que está na hora de outra filial de hotéis firmar lugar aqui.

— Matteo vou lhe oferecer quatro milhões pelo seu prédio. A Heinrich Group não é conhecida por aqui, então não temos garantia de que eles farão sucesso e não irão falir.

— Mio bella... — Ele fica em silêncio parecendo pensar em algo. — Venha comigo, faremos uma reunião e poderei ouvir as duas propostas de uma vez.

— Eu...

— Tenho certeza que Benício permitirá que você viaje comigo, pois se não vier, poderá desconsiderar comprar meu prédio e ele não gostará nada disso.

— Tudo bem, Matteo — respondo frustrada, porque ele tinha razão em relação ao meu pai.

— Depois lhe mando o horário do vôo, beijos, mio bella.

Ele encerra a chamada e naquele momento só consigo pensar em como irei comunicar minha viagem repentina. De certa forma Benício deixará, mas ele também irá odiar, pois não terá seus olhos e ouvidos em mim.

Que merda.

Assino alguns documentos, repondo e-mails e no final da tarde sigo até o escritório de Benício. Mesmo tendo meus vinte e quatro anos, ele ainda tem grande autoridade sobre mim, na verdade sobre todos nós, porém eu não quero ficar aqui em Barcelona e para ir embora terei que trabalhar por algum tempo na empresa da família.

Bato na porta e logo escuto um "entre".

— O que quer? — Ele perguntou sem desviar seus olhos dos papéis em sua frente.

— Terei que viajar depois de amanhã. — Disse conseguindo atrair sua atenção para mim.

— Você não está sendo paga para isso.

— O senhor quer ou não quer a droga do prédio em Porto? Matteo irá viajar para Nova Iorque, pois recebeu uma grande proposta. Ele me convidou para ir também, porque assim poderá ouvir as duas propostas e tomar sua decisão. — Respondo e o mesmo se mantém sem esboçar nenhuma reação. — E não, eu não recebo para isso, na verdade, eu recebo menos do que todos na merda dessa empresa.

Meu pai se levanta sem tirar seus olhos de mim e extremamente sério, o que me faz engolir seco, talvez eu devesse ter maneiras nas palavras.

— Muito bem, você vai ir nessa viagem e só voltará quando o Sr. Perrone aceitar me vender aquele prédio. E já que você o chama pelo primeiro nome, pode muito bem seduzi-lo se for necessário. — Disse ele e o olhei incrédula. — Você deve saber algo desse tipo, afinal, filho de peixe, peixinho é e sua mãe era a melhor de todas. Agora saia da minha sala.

Levei alguns segundos para retornar a si, voltei para minha sala e juntei minhas coisas, como morava perto da empresa fui caminhando para o apartamento que divido com Clarke e Henry. Eu estava tão aérea que não vi quando minha amiga chegou em casa já que fiquei trancada em meu quarto.

Eu sabia pouco sobre minha mãe, Benício nunca me disse nada sobre ela, na verdade, ninguém nunca me disse nada. A única coisa que sabia era que fui deixada por ela na porta da casa de meus avós que logo exigiram que meu pai me assumisse, mesmo contra sua vontade. As únicas pessoas que me tratam bem e gostam de mim são meus avós e meu irmão mais novo, Benjamin, já o resto me vêem apenas como um fardo.

Não tive uma infância fácil, Samantha a mulher de meu pai, sempre que podia estava dificultando tudo e a única chance que tinha de ficar longe dela era indo estudar fora e foi o que fiz quando terminei o colegial com dezessete anos. Em Londres eu cursei Administração, as únicas pessoas que vieram para minha formatura foi vovó, Amélia, Benjamin, Clarke e Henry, já meu avô, Bernardo, estava doente e passou um bom tempo se desculpando por isso. Benício, praticamente me obrigou a trabalhar na empresa da família cuidando dos hotéis, apenas para pagar minha "dívida" por ter me sustentado todo esse tempo, a verdade é que ele não fez mais que a obrigação dele como genitor. O é que essa dívida está para acabar dentro de seis meses.

Mio bella¹: Minha bela.bela.

MAIS QUE UMA NOITE - JOHN (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora