CAPÍTULO QUATRO

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Eu tinha certeza absoluta que isso era cárcere privado, mas não possuía nenhuma forma de denunciá-lo. Quer dizer, eu tinha acesso ao meu notebook, celular, entretanto o policial que atendeu minha ligação afirmou que não havia como John Heinrich estar me mantendo em sua casa contra minha vontade, e que eles já haviam sido notificados sobre uma possível acusação dessa e se eu tentasse passar mais um trote desses, seria presa.

Nesse momento meu celular começou a tocar, o nome na tela fez eu ter bastante medo em atender aquela ligação, a questão é que não poderia recusar ou o infeliz não pararia de ligar.

— Sim?

— Oi Bárbara, como está sua nova vida?

— O que quer dizer?

— Você sabe, agora que se tornou a Sra. Heinrich, já pensou em todo o poder que possuirá?

— Eu não tenho nada com o John. Irei voltar para Barcelona ainda nesta semana.

— Não, você não vai. Sua entrada aqui no país está barrada e eu assinei um acordo com o Sr. Heinrich em troca do prédio de Porto por você, no primeiro momento eu estranhei por ele estar tão interessado em você.

Aquilo foi como se eu tivesse levado um tapa, estava sendo usada como moeda de troca apenas por um maldito prédio. Benício iria me pagar muito caro por isso.

— Você me vendeu? Isso faz de você um grande filho da puta.

— Não foi bem assim, está tudo dentro da lei, inclusive sua assinatura também está nos documentos do casamento. Bárbara, já deveria saber que você sempre foi um fardo que eu nunca quis carregar, sua mãe era a melhor puta que existia, então você apenas estará seguindo os mesmos passos dela.

— Vai pro inferno seu cretino de merda. Meu ódio e nojo por você apenas aumentou, eu irei ferrar com você, Benício. Mal posso esperar para acabar com todo o império que você construiu com dinheiro sujo seu poço de bosta.

Encerrei a chamada e gritei o máximo que pude de raiva, desprezo e tristeza. Minha vida estava esvaindo pelos meus dedos e eu não podia fazer nada, tinha tantos planos para depois que acabasse minha dívida e a primeira coisa seria ir embora da Espanha, começar uma vida nova e tentar ter um pouco de felicidade. Benício foi tão baixo com isso, esperava muita coisa vindo dele, mas isso foi ainda pior porque em momento algum eu imaginei que serviria como moeda de troca para algo, eu sabia que era a filha que ele não queria, porém ser vendida como se não possuísse valor algum foi o cúmulo.

Eu estava sentada próxima a cama, minhas lágrimas haviam molhado todo meu rosto, me sentia um completo lixo sem valor. É como se tudo pelo que batalhei, a faculdade, minha liberdade não tivesse valido de nada.

Ouço o barulho da porta e logo o perfume que já conheço chega até mim, eu também não esperava que John fizesse um acordo desse tipo, já tinha percebido que ele é o tipo de homem que não devemos brincar e sim manter distância, mas não imaginei que ele chegaria ao ponto de me comprar.

— Benício não merece que você derrame nenhuma lágrima por ele.

— Vai pro inferno você também. — Murmurei já que minha cabeça parecia que ia explodir, queria apenas que tudo isso fosse um sonho ruim.

— Deixa eu te ajudar.

John segurou meus braços e puxou-me para levantar, ele me guiou até o banheiro onde eu tirei minha roupa e entrei embaixo do chuveiro, talvez um banho gelado me ajudasse a melhorar e suportar essa bomba que recebi. John não estava mais no quarto quando saí do banheiro, fui até o closet e vesti um conjunto de dormir, quando me joguei na cama para descansar um pouco, ouvi batidas na porta e logo Martha entrou com uma bandeja em mãos.

— O Sr. Heinrich pediu que trouxesse algo para comer, já que não desceu para o almoço e também um remédio para a cabeça. — Ela disse e colocou a bandeja na pequena mesa no canto do quarto.

A senhora já de idade sorriu com ternura para mim, ela se aproximou e me deu um abraço caloroso, parecia até que sabia que era aquilo que eu estava precisando naquele momento. Depois que comi o sanduíche e bebi um pouco de suco apenas deitei para que pudesse dormir um pouco, mas na verdade eu dormi por seis horas e quando acordei o sol já estava se pondo.

Sai da cama e troquei de roupa, minha cabeça havia parado de doer e naquele momento eu queria falar com John e tirar toda essa história a limpo. Há três dias quando ele me trouxe para sua casa apenas disse que eu tinha direito de sair, mas que teria um segurança comigo e que eu não conseguiria fugir.

Desço as escadas que irão me levar para a ala sul e logo para o térreo, na sala de estar vejo Martha e Leon, meu segurança e motorista particular.

— Oi, vocês sabem onde John está?

— No escritório querida, siga nesse corredor, suba as escadas é a terceira porta à esquerda. — Martha responde e volta sua atenção para Leon.

— Obrigada!

Sigo as instruções da mulher e quando estou diante a porta penso se bato ou se apenas entro nessa droga e tiro tudo a limpo, até porque estou aqui contra minha vontade. Decido em simplesmente bater e entrar, John tira seus olhos do notebook em sua frente, ele parece estar em uma reunião através de uma vídeo chamada, então apenas indica a cadeira em sua frente onde sento-me para esperar até que ele termine.

— Ele aceitou a oferta de cem milhões de dólares, vamos assinar os papéis logo pela manhã.

— Tudo bem, Sabrina, até mais.

John fecha a tela do notebook e seus olhos param em mim. Ele está sem a gravata e os primeiros botões da camisa branca estão abertos.

— Precisa de alguma coisa, Bárbara?

— Nós precisamos esclarecer muitas coisas, começando pelo papel que coloca eu como moeda de troca por Porto.

Ele suspirou parecendo cansado e não querendo entrar nesse assunto, porém não é como se pudesse simplesmente deixar-me sem saber de nada.

— Você não é uma moeda de troca, o que aconteceu foi o seguinte, eu entregaria o prédio para seu pai apenas se ele te deixasse livre.

— Mas eu não estou livre, já que você está me obrigando a ficar aqui.

— Você despertou muitas em mim desde que nos vimos a primeira vez, infelizmente a única forma de mantê-la comigo foi nos casando no papel. Você terá direito a 40% de todos os meus bens e se quiser podemos nos casar na igreja e fazer uma festa.

Foi então que percebi que o buraco era ainda mais embaixo, eu estava casada com John e pelo visto não teria direito algum em me separar.

— Se quiser o divórcio terá que esperar por dez anos. É só isso?

Ele falava em uma tranquilidade que me deixava ainda mais tensa sobre o assunto.

— Eu quero ver todos os papéis.

— Está tudo dentro da lei e sua assinatura está em todas as folhas.

Ele abre uma gaveta da mesa e tira uma pasta branca dali de dentro e me entrega.

— São todas cópias que poderão ficar com você, os originais estão muito bem guardados. — Ele se levantou. — Aliás, desça para o jantar às 19h30 Kate e Paul estarão presentes.

— O que você é da Kate?

— Somos primos, mas ela não utiliza o sobrenome Heinrich.

Ele saiu do escritório enquanto eu abria a pasta e tirava todos os papéis dali de dentro, eu tinha algum conhecimento sobre as leis e tudo relacionado então ficaria mais fácil para compreender as coisas.

MAIS QUE UMA NOITE - JOHN (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora