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️▫️LUDMILLA ▫️☀️

Dois a cinco anos.

Eu nunca pensei que não iria chegar aos vinte e três anos.

Já fazia horas que eu havia recebido o diagnóstico e eu ainda não conseguia acreditar que estava condenada à morte. A escuridão presente no meu quarto se assemelhava à penumbra que havia tomado conta do meu coração me fazendo mergulhar na mais completa angustia.

"Meu bebê só tem dezoito anos, Renato!"

Eu estava com os ouvidos tapados e um cobertor cobria a minha cabeça, mas mesmo assim eu conseguia ouvir o choro da minha mãe em alguma parte distante da casa. E o sofrimento contido em voz dilacerava meu coração de uma forma que eu sempre achei impossível para um órgão no qual nós apenas colocávamos a culpa de todos os nossos sentimentos. A dor era real, toda aquela merda era real e eu não submeteria mais ninguém à mesma coisa que meus pais estavam passando.

"Ainda podemos esperar por um transplante, amor."

Eu sabia que meu pai estava tentando ser forte por todos nós e até o momento que eu subi para o meu quarto não o vi derramar nenhuma lágrima, mas naquele momento eu sentia o embargar em sua voz, fazendo com que tudo se tornasse pior. Era verdade sim que o médico havia falado sobre o transplante pulmonar e que talvez eu vivesse o suficiente para encontrar um doador, mas eu era realista e sabia que havia centenas de pessoas na minha frente esperando para que algum pobre coitado morresse para que assim pudessem viver. O pulmão só poderia ser recebido de um doador já morto porque o transplante inter-vivos era ilegal por conta dos riscos de morte aos quais o doador era submetido.

O som da campainha ecoou por toda a casa e eu me encolhi ainda mais sob os cobertores pedindo em pensamento a quem quer que fosse, para ir embora, mas o som continuou por alguns instantes e eu me levantei, me pondo à porta do quarto, caminhando escondida ao encontro de quem quer que estivesse a minha porta.

Lá de cima eu tive o vislumbre da figura de minha mãe tentando inutilmente se recompor enquanto meu pai ia atender a porta.

- Boa noite, tio Renato! – O sorriso que Brunna deu para meu pai quase me cegou e a noção de que um dia eu não veria mais o seu sorriso quase fez que um grito de agonia rasgasse a minha garganta. – O senhor está bem?

- Oi Brunna... – A voz do meu pai vacilou. – Eu estou tendo um resfriado que não me deixa em paz faz alguns dias. – Ele simulou uma tosse e minha namorada assentiu.

- Acho que a Ludmilla também está contaminada, ela tem tossido bastante nos últimos dias. – Ela falou aquilo com a maior inocência do mundo e as lágrimas que minha mãe havia acabado de limpar com o torso das mãos foram substituídas por muitas outras. – Ela está por ai?

- Ludmilla está dormindo. Eu pedi a ela que me ajudasse com algumas compras hoje e andamos o dia todo, ela só teve tempo de tomar um banho e apagar. – Minha namorada assentiu.

- Por isso ela não atendeu minhas ligações e a janela do quarto dela está fechada... – Ela estendeu uma travessa de vidro para o meu pai. – Eu fiz um pouco Lasanha para ela, mas tem o bastante para todo mundo e se eu deixar lá em casa, ele não vai durar até amanhã. – Ela riu e eu levei minhas mãos à boca apertando-as fortemente para que meu choro não pudesse ser ouvido.

- Obrigado minha filha, parece estar ótimo. – Meu pai murmurou segurando a travessa e eu pude observar sua mão tremer e a outra apertar fortemente a maçaneta. Brunna ficou parada na porta por mais alguns instantes, com o sorriso plantado no rosto e eu me contive para não ir correndo abraçá-la.

Você me odeia enquanto eu te amo ✔👩‍❤️‍💋‍👨Onde histórias criam vida. Descubra agora