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️▫️LUDMILLA ▫️☀️


- Ludmilla, já decidiu em qual universidade vai se inscrever? – Clara perguntou com um sorriso e eu imediatamente olhei para Brunna, que me dirigiu um meio sorriso.

Os últimos dois meses haviam sido assim. Todas as minhas amigas planejando o futuro enquanto eu permanecia estagnada, sem participar de quaisquer planos que envolviam o futuro. Brunna havia decidido que me acompanharia e durante uma discussão com seus pais ela contou tudo. Eu relutei em tudo, eu não queria que ela parasse a vida dela só porque a minha não ia para frente, mas minha namorada é teimosa como uma mula e no final de tudo conseguiu a permissão dos pais para adiar um pouco a entrada dela na universidade.

Meus pais decidiram absorver toda a aura de otimismo exalada por Brunna e focar suas esperanças de que a qualquer momento surgiria um doador, mas eu era a centésima quinquagésima sexta na fila de doadores, o que não me dava muitas chances.

Das meninas, a única que sabia era a Yris. Durante uma das minhas visitas ao doutor Mitchell eu havia encontrado com Yris no hospital e por coincidência descobri que seu pai era pneumologista. Minha amiga era a única entre todos que, assim como eu, tinha os pés no chão e noção de que eu não duraria muito. Ela me dava forças do jeito dela e as coisas ainda não estavam tão ruins, exceto pelas crises respiratórias que apareciam sempre que eu fazia muito esforço ou as tosses que apareciam uma hora ou outra.

- Ludmilla? – A voz de Clara interrompeu meus devaneios e olhei para seu rosto do outro lado da mesa da cantina da escola aguardando a minha reposta.

- Pensei em uma faculdade local, mas ainda não decidi qual. – Respondi com um meio sorriso. Depois eu inventaria que minha inscrição havia sido rejeitada.

- Nós podíamos estudar perto uma da outra, eu não quero me separar de vocês. – Lauren sugeriu e todas concordamos e mesmo que eu precisasse fugir daquilo tudo depois, ainda pensava em um jeito de fazer com que minha namorada seguisse a sua vida.

--//--

- Eu vou pra sua casa ou você vai para a minha depois da aula? – Perguntei para Brunna que estava concentrada no celular e ela pulou de susto antes de olhar para mim e abaixar o olhar logo em seguida.

- Hoje não vai dar amor, eu precisarei resolver alguns assuntos. – Ela sorriu antes de guardar o celular no bolso e enlaçar o meu pescoço com o braço enquanto seguíamos pelo corredor em direção à sala de aula. Eu sabia que ela estava mentindo porque ela não sabia mentir e aquele episódio havia se repetido algumas vezes nas últimas semanas. Eu nunca questionava porque talvez ela estivesse apenas sobrecarregada com tudo que estava acontecendo e precisando de um tempo só para si.

- Tudo bem. – Eu enlacei a sua cintura. – Pode deixar que hoje eu vou regar a Cherry II.

- Não! – Ela protestou. - Eu farei isso antes de resolver os meus assuntos.

Desde que eu havia contado sobre minha doença a ela, Brunna fazia questão de cuidar da nossa planta. Eu sabia que para ela aquilo significava muito mais do que ela dizia e tive certeza daquilo quando durante uma das minhas crises, ela não pôde fazer nada por mim. Ela despediu de mim depois que aquilo passou, mas da janela do meu quarto eu pude vê-la ir até o local no qual estava a planta com um regador nas mãos e se ajoelhar diante dela e regá-la e cuidar dela quando não podia fazer o mesmo comigo. Meu coração se apertou quando seus braços tremeram e ela deixou o regador cair, antes de se abraçar e chorar. Naquele momento eu dei graças por não conseguir ver o seu rosto, eu odiava o sofrimento dela, odiava estar de mãos atadas diante daquilo tudo, odiava toda aquela merda toda.

Às vezes eu só queria que aquilo acabasse logo.

🌟▫️BRUNNA ▫️🌟

- E então, trouxe? – Perguntei a Yris assim que a vi se aproximar da mesa do café onde eu a esperava. Eu mal conseguia conter a minha ansiedade.

- Sim, estão aqui. – Ela respondeu apaticamente, retirando alguns papéis de sua mochila e colocando em cima da mesa. – Tem certeza de que quer fazer isso? – Não era a primeira vez que ela perguntava aquilo.

- Eu não mudei de opinião Yris. –Respondi convicta da minha decisão.

- Você sabe que não poderá viver como as outras pessoas, não é? – Eu já tinha ouvido aquilo mil vezes.

- Eu sei disso tudo Yris, mas eu não posso viver sem ela, me entende? Você não faria o mesmo por Lily? - Ela abaixou o olhar e assentiu.

- Mas é ilegal e... – Eu a interrompi.

- Eu sei que é uma cirurgia ilegal, eu sei que traz muitos riscos e que eu posso morrer durante a cirurgia, também sei que se eu sobreviver viverei com limitações, mas mesmo assim eu quero. – Eu precisava fazê-la entender. - Mesmo assim eu quero doar parte de mim à pessoa que eu amo. – Ela suspirou.

- Então assine isso. - Ela me entregou os papéis que autorizavam a minha cirurgia. Eles não eram legais, mas era uma formalidade que eu pai dela fez questão de que eu me submetesse.

Desde que soube da doença de Ludmilla, eu havia pesquisado sobre o assunto e descobri que a cirurgia inter-vivos era sim possível, mas aquilo não me chamou muito a atenção até eu saber que havia mais de cento e cinquenta pessoas na frente da Ludmilla à espera de um doador. Eu pensei em esperar por um milagre, mas eu não consegui aguentar a sua primeira crise.

Eu sabia que aquilo era o começo de tudo, mas eu não estava preparada para enfrentar um futuro mais sofrido que aquele, digo, eu não aguentaria ver Ludmilla passar por aquilo diversas vezes e quando eu conheci o doutor Araújo as coisas começaram a se encaixar.

Eu passei a conhecer Yris e consequentemente o seu pai. Descobri que ele havia perdido a esposa para a mesma doença que Ludmilla tinha e depois de conversas intermináveis ele concordou em fazer a cirurgia, mesmo correndo o risco de perder a licença médica.

Ele alegou que antes além de ser médico, ele era um ser humano e entendia tudo o que estávamos passando, ele queria dar a Ludmilla e eu a chance que ele e sua esposa não tiveram.

Ninguém além da equipe médica e de confiança do doutor John, Yris e eu sabia o que iria acontecer. Ludmilla e nossas famílias só saberiam depois que houvesse tudo acabado e tudo já havia sido combinado para justificar o doador repentino que surgiria.

- Aqui está. – Eu entreguei os papéis assinados a ela dando graças a Deus por ter atingido a maior idade meses antes. Ela guardou os papéis de volta na mochila e segurou minhas mãos.

- Então vamos iniciar a bateria de exames necessários para a cirurgia. – Ela sorriu. – Se você realmente for compatível, tudo dará certo.

Eu esperava que ela estivesse certa.

Você me odeia enquanto eu te amo ✔👩‍❤️‍💋‍👨Onde histórias criam vida. Descubra agora